segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Yo, sí puedo

Subir, subir, subir. Até a Villa San Antonio, bem no alto do morro. Acabei de ir até lá, visitar uma aula que faz parte do programa de alfabetização do governo. É a típica periferia. Casas bem simples, sem acabamento. E o local das aulas é uma escola infantil meio que caindo aos pedaços.

Mas é emocionante. A classe cheia de pessoas, umas trinta talvez. A maioria, idosos. A maioria, mulheres. A maioria, cholas, como são chamadas as típicas indígenas do altiplano. Pele morena, cabelo idem, comprido, geralmente com tranças. Pollera (aquelas saias grandonas), um grande xale sobre os ombros, chapéu-coco e o aguayo, um pano que elas penduram nas costas e que levam de tudo, de comida a recém-nascidos.

Ao contrário do comportamento que geralmente se espera delas, as cholas não estavam nada tímidas diante da presença dos visitantes. Sorriam, falavam, brincavam. Quando encostei sem querer no interruptor e deixei a sala às escuras, gargalharam.

Talvez fosse a felicidade de estarem aprendendo a ler e a escrever.

O governo boliviano usa o método cubano Yo, sí puedo, que erradicou o analfabetismo na ilha e ajudou a fazer o mesmo na Venezuela. Até agora, a Bolívia já alfabetizou mais da metade dos iletrados.

As alunas quase sempre dizem a mesma coisa. Agora, não serão mais humilhadas, não serão mais enganadas. Umas querem ler a Bíblia, outras, jornais. Todas querem participar, depois de terminado o curso, do programa de pós-alfabetização.

Agora, não querem mais parar de estudar.

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