sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A "Gandhi" do Saara Ocidental encerra greve de fome e volta para casa

Finalmente, depois de 32 dias de greve de fome, Aminetu Haidar pôde voltar para El Aaiún, a capital do Saara Ocidental, país ocupado pelo Marrocos desde 1975. Ela tinha sido expulsa pelo governo marroquino para as Ilhas Canárias, na Espanha, e desde então lutava para poder voltar para sua família. Mais detalhes sobre o caso e a causa, clique aqui e aqui.

No mínimo, o ocorrido tornou mais visível a luta do povo saarauí contra a opressão marroquina. Quer dizer, isso no resto do mundo - sobretudo na Europa. Pois, estranhamente, ou não, a imprensa brasileira não repercutiu absolutamente nada.

A greve de Aminetu deixou evidente também a gigante hipocrisia das potências ocidentais, que fazem campanhas sistemáticas "pela democracia" mas apoiam monarquias absolutistas como o Marrocos. Tudo por interesses econômicos.

Aqui, detalhes sobre a chegada dela a El Aaiún, hoje de madrugada (a polícia marroquina reprimiu os manifestantes que a esperavam).

Abaixo, texto publicado na mais recente edição do Brasil de Fato, quando ela havia completado um mês de greve de fome. O artigo mostra como era o seu dia-a-dia. Vale a pena ler.

Brasil de Fato, edição 355 (17 a 23 de dezembro de 2009)

Um mês em greve de fome

Proibida de voltar a seu país, a ativista do Saara Ocidental, Aminetu Haidar, segue em jejum contra os governos de Marrocos e Espanha

da Redação

No dia 15, a ativista do Saara Ocidental, Aminetu Haidar, completou 30 dias de greve de fome no aeroporto de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, na Espanha. Como o Brasil de Fato relatou em sua edição 352, ela protesta pelo direito de voltar para casa.
Em meados de novembro, Aminetu, de 42 anos, foi impedida de retornar a El Aaiún, a capital de seu país, pelo governo de Marrocos, que ocupa o Saara Ocidental há 34 anos. Mandada para Lanzarote sem passaporte e contra sua vontade, a ativista foi proibida pela Espanha de tentar voltar, justamente por estar sem o documento. Sem uma solução à vista, Aminetu iniciou o jejum.
Desde então, a militante independentista saarauí (do Saara Ocidental) e seus apoiadores em todo o mundo acusam a monarquia marroquina de não querer resolver o impasse e o governo espanhol de não pressionar a nação do norte africano para tal. Os dois países mantêm fortes vínculos econômicos, e usufruem, inclusive, das riquezas saarauís – principalmente fosfato e pesca.
Aminetu, conhecida como a “Mahatma Gandhi” do Saara Ocidental, tem dois filhos (de 13 e 15 anos), que a esperam em El Aaiún. Ela já realizou uma greve de fome antes, que durou 45 dias. Foi em 2005, em uma das duas vezes em que esteve detida nas prisões marroquinas. Esse jejum a deixou com sérias sequelas físicas, o que torna ainda mais perigosa a atual greve de fome.
Confira abaixo um testemunho sobre a rotina de Aminetu Haidar no aeroporto de Lanzarote:

Dez dias no aeroporto com Aminetu Haidar

Qual será o motivo para que ninguém faça nada, já que é algo tão simples, que uma mulher volte para sua casa com seus filhos?

Carmen Giner Briz

Domingo, 29 de novembro, dia nº 14 da greve de fome. Aminetu desmaia na reunião com Agustín Santos, chefe de gabinete do chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos. Levam-na ao cômodo onde normalmente descansa. Não consegue sair do quarto de novo.
O lugar onde Aminetu se instala durante os dias no aeroporto fica no segundo andar, no setor de desembarque do terminal 1, ao lado de uns bancos, da mesa para recolher as assinaturas em seu apoio e de um colchonete onde ela se senta para falar ou se deita quando não consegue mais. Além disso, seus amigos põem alguns carrinhos para protegê-la dos turistas que vêm ofuscados pela luz exterior e que, cegados, podem vir a pisá-la, e de todas as pessoas que tentam se aproximar por distintas razões. Esses carrinhos também servem para pendurar faixas explicativas de sua situação.
Aminetu está dormindo em um pequeno cômodo pertencente à garagem dos ônibus do aeroporto, junto a uma pessoa que a acompanha todas as noites. É um quartinho sem luz, sem ventilação, sem janelas.
No cômodo ao lado, junto às máquinas de café, sanduíches e sucos, dormem entre 15 e 20 pessoas, amigos e colaboradores de Aminetu. Os que não cabem dormem na rua. As condições e esse amontoamento são parecidos aos da Cadeia Negra de El Aaiún.
Todos os dias, após acordar, ela precisa recorrer um corredor, entre os ônibus, na rua, à intempérie, para posteriormente entrar no aeroporto pelas garagens de saída, pegar o elevador e chegar ao lugar mencionado em uma cadeira de rodas.

Sofrimento
Segunda, dia 30, pela manhã: levanta-se o acampamento, todo mundo recolhe mantas, colchonetes, malas e demais utensílios. Muitos sobem com seus computadores e outros ficam dando orientações. Aminetu se levanta e sobe com sua cadeira de rodas. Atrás, vai outro carrinho com seu colchonete e suas mantas.
No elevador, me vê, e sua cara se ilumina, como sempre acontece quando sorri. Tenta se inclinar para beijar-me, mas a dor nos ossos que sente na altura da nuca a impede. Faz um gesto de dor, que tenta dissimular com um sorriso. Mesmo assim, me dou conta de seu sofrimento e esforço. Pergunto como está, pondo-me de cócoras a seu lado, e ela, como sempre, diz: “bem”.
Senta em seu lugar e as pessoas vão chegando para vê-la. Gente importante, parlamentares, senadores, políticos, pessoas da cultura, da arte, delegações de distintas comunidades pertencentes a distintas associações de amigos do povo saarauí... também turistas que ouviram falar da história nos meios de comunicação, curiosos que tentam se enfiar entre a multidão, e a imprensa.
Ela recebe todos, e para todos tem palavras de carinho, compreensão. Os escuta até o esgotamento. Quando os visitantes vão embora, tenta descansar entre o bulício das pessoas, os carrinhos barulhentos, os motores dos aviões e os flashes das máquinas fotográficas que machucam sua vista.
Às vezes penso: por que ninguém lhe diz que deixe a greve de fome, que tanto sofrimento lhe está causando? Outras vezes, penso: qual será o motivo para que ninguém faça nada, já que é algo tão simples, que uma mulher volte para sua casa com seus filhos? Têm que existir muita corrupção e suborno para que deixem morrer essa mulher.
Pouco a pouco, percebo sua forte convicção e a dor que lhe produz o fato de sua decisão não ser respeitada. Acho que todos nos encontramos entre a cruz e a espada. Por um lado, o carinho que temos por ela, e o fato de querermos que esteja bem e que não lhe aconteça nada; por outro, nossa obrigação em respeitá-la.

Solidariedade
Não temos televisão, e poucos computadores têm internet. Não sabemos muito bem o que está saindo do lado de fora, mas acho que ninguém se dá conta que ela só consegue estar um par de horas atendendo as pessoas, que o resto é para que ela descanse e se recomponha.
Um dos dias em que vi Aminetu mais animada é quando veio o escritor português José Saramago, e também os dias em que lhe acompanhou Marselha, da Fundação Robert F. Kennedy. A cada dia tem menos forças para estar no andar de cima, e vai reduzindo suas horas por lá. A cada dia tem mais problemas para conseguir dormir. Estamos divididos: uns embaixo com ela, outros em cima, com os computadores.
Na sexta-feira, 4 de dezembro, quando se cumprem 19 dias de greve de fome, por volta das 6 da tarde, alguém me diz que Aminetu provavelmente vai embora a seu país em vinte minutos. As caras de todos se iluminam e todo mundo começa a se mover de maneira nervosa. Uma rádio me entrevista pelo telefone. É quase impossível para mim manter a conversa. Pouco a pouco a notícia vai se estendendo e cada vez há mais pessoas e meios de comunicação. Em seguida, chega uma ambulância e, pouco depois, sob uma forte aclamação, aparece Aminetu, que vai ao banheiro e depois é introduzida na ambulância. Com as mãos, nos lança beijos e nos diz adeus.
Assim que a ambulância parte, estoura um grande júbilo. Os saarauís pulam, gritam, enquanto os espanhóis choram. Depois, todos subimos ao aeroporto para esperar mais notícias. Em seguida, começam rumores de que o avião não vai decolar, de que tudo é uma fraude, um teatro orquestrado pela Espanha para que a opinião pública acredite que eles fazem o que está a seu alcance. A única coisa que o governo é capaz de fazer é rir de uma mulher doente que leva vinte dias em greve de fome, a qual estão dispostos a deixar morrer. O Marrocos confirma: não chegaram a nenhum acordo, não houve reuniões.

Espoliação
Nesse dia, Aminetu não volta mais a subir para o aeroporto. Passa uma noite ruim. O médico, pela manhã, me diz a palavra técnica que não sou capaz de recordar, mas se trata de uma taquicardia, produzida pelo grande esforço de entrar na ambulância, subir e descer andando no avião, e a tensão emocional. Ela chegou a ligar para seus filhos e dizer-lhes que estava voltando.
E outro dos muitos desatinos de nosso governo: ela tem um salvo-conduto para sair, mas, ao entrar depois dessa viagem frustrada, a guarda civil impediu, no começo, sua entrada, por voltar indocumentada. Passa todo o dia em um quartinho que lhe indicaram.
O governo espanhol pressiona Aminetu. Não entendem por que ela não aceita a nacionalidade espanhola. Parece que lhes custa entender que ela se sente orgulhosa de ser saarauí, que quer ter o passaporte que lhe permita voltar para sua casa, para sua terra, com os seus.
Eu me pergunto por que não dão a todos os membros de nosso governo um passaporte somaliano, depois de metê-los em um avião à força, para ver se assim começam a entender. Mas eles entendem perfeitamente. O que acontece é que há muitos milhões em jogo. Recordemos que somente dos fosfatos, o Marrocos expolia o povo saarauí em 1,5 bilhão de euros cada ano.
Em toda a Espanha, na minha cidade Madrid, cada dia há uma manifestação. A população se mobilizou. Nos meios de comunicação, é a notícia mais importante. Os jornais ocupam até suas cinco primeiras páginas falando de Aminetu, mas, para nosso governo, não é suficiente, o povo espanhol não lhe importa.

Pressões
É o dia 21 de greve de fome, já anoitecido, e estamos várias pessoas perto da porta de seu cômodo quando chega um grupo de sete ou oito pessoas em grande velocidade. Ao ver que vêm direto ao quarto de Aminetu, me aproximo para perguntar o que querem, e dizer a eles que não podem entrar. Mas não consigo terminar a frase. Sem parar, me dizem que é o juiz e que vai entrar. Tento chamar o Edi, a pessoa que está dentro com Aminetu, mas não dá tempo. Eles entram e expulsam Edi do quarto, fazendo com que a pobre Aminetu fique sozinha com esses oito indivíduos, que entram e fecham a porta.
Ao saírem os indivíduos, Aminetu declara que a trataram pior que no Marrocos, que a acossaram psicologicamente. O câmera da plataforma se põe a gravar e o juiz e os policiais querem tirar dele a câmera e a fita. Edi chama todos os meios de comunicação para que estes gravem a cena.
A tensão é máxima, o juiz vai embora, mas continua no aeroporto reunido com o médico de Aminetu. Os meios continuam na expectativa, e vemos quando, nas dependências do aeroporto contíguas à garagem em que estamos, chegam os furgões da polícia nacional e da guarda civil. Chegam em torno de 20 ou 30 furgões. O médico volta por volta das 2 da manhã e, posteriormente, a polícia se vai.
Ao amanhecer, Aminetu declara que desde esse momento prescinde de seu médico pessoal, já que o juiz o obrigou a dar seu histórico médico. Ela quer liberar seu médico da pressão a que se vê submetido, assim como preservar sua intimidade.
O final desta história inconclusa também depende de nós, da capacidade que tenhamos de quebrar nossa rotina, nossa forma de viver, para lutar pela dela, para que se faça justiça. Todos, desde onde possamos e como possamos, temos que lutar para que esse possível final se converta em um princípio.

Carmen Giner Briz é ativista do Western Sahara Resource Watch (WSRW, Observatório dos Recursos do Saara Ocidental) da Espanha

Tradução: Igor Ojeda

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Folha confirma que teve seus carros usados pela ditadura

Do blog do Jakobskind:

Cidadão Boilesen e a Folha

Não deu na Folha de S. Paulo

Renato Khair foi assistir ao filme Cidadão Boilesen e, no documentário, a Folha é citada como colaboradora da repressão, inclusive cedendo carros do jornal para a famigerada Operação Oban. O rapaz resolveu, então, enviar um e-mail para o ombudsman da Folha, solicitando que o jornal se posicionasse diante das graves acusações, já que até hoje ninguém da direção havia ainda se manifestado. Afinal, a Folha colaborou ou não com a Oban? Abaixo, seguem os e-mails que ele enviou e a resposta risível do Carlos Eduardo Lins da Silva.

Nenhuma das mensagens foi publicada pelo jornal.

Seguem abaixo os e-mails.

E-mail do Renato Khair:

"No ótimo documentário 'Cidadão Boilesen', de Chaim Litewski, há uma citação expressa de que o jornal 'Folha de São Paulo' teria colaborado diretamente com a Operação Bandeirantes (Oban), da ditadura militar. A 'Folha' teria cedido suas caminhonetes aos membros da Oban, na repressão aos opositores da ditadura. É uma acusação grave e séria. Até agora, não vi nenhuma resposta da 'Folha', negando veementemente qualquer tipo de participação ou de apoio ao regime militar. O mínimo que se espera é que o jornal se manifeste, seja para refutar ou para confirmar tais afirmações".

Renato Khair

Resposta do ombudsman da Folha:

Caro Sr. Renato,

Durante o período ditatorial, a direção da Folha não foi informada da utilização de seus caminhões pelos órgãos de repressão. No entanto, investigações posteriores constataram que, de fato, alguns veículos do jornal foram usados por equipes do DOI-Codi. Esses atos foram praticados à revelia dos acionistas da empresa.

Atenciosamente,

Carlos Eduardo Lins da Silva

Ombudsman - Folha de S.Paulo

Al. Barão de Limeira, 425 - 8o. andar

01202-900 - São Paulo - SP

Telefone: 0800 159000

Fax: (11) 3224-3895

ombudsma@uol.com.br

http://www.folha.com.br/ombudsman/

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A farsa de Copenhague

Vamos falar claramente: a Cúpula de Copenhague é uma grande farsa.

Países ricos e emergentes (entre eles, o Brasil) fingem estar preocupados com a redução do aquecimento global. Bobagem. A questão é (como sempre) econômica. Querem mesmo é fazer as contas de quanto perderão em termos de crescimento de suas economias (crescimento, não desenvolvimento, que são coisas bem diferentes) com os cortes nas emissões de gás carbônicos.

O Brasil parece ser um dos mais espertos. Vê o aquecimento global como uma grande possibilidade de vender para o mundo seu modelo energético "limpo" (outra grande farsa) baseado em hidrelétricas e agrocombustíveis. Ou seja, mais bilhões de reais para construtoras, empresas eletrointensivas e agronegócio.

De quebra, espera ganhar outros bilhões com a também grande farsa do mercado de créditos de carbono.

Enquanto isso, os países pobres, os maiores prejudicados com o aquecimento, ficam como sempre. Sem voz nas grandes decisões sobre suas próprias vidas.

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Abaixo, um artigo publicado no Brasil de Fato que desmistifica a "limpeza" da energia gerada pelas hidreléticas:

Energia limpa na Amazônia: um papo furado que emite metano

Admitir que as barragens produzem energia suja e contribuem significativamente nas emissões seria um tiro no pé, no momento que o país quer mostrar liderança mundial no combate ao aquecimento global


Kostis Damianakis

O Brasil, novamente estará em destaque mundial, desta vez, durante a Conferência do Clima em Copenhague, e com razão. O país tem a maior extensão de florestas tropicais do mundo e ao mesmo tempo o maior ritmo de desmatamento que contribui com mais de 50% nas emissões nacionais de gases do efeito estufa. Sendo o país o quarto maior emissor no mundo, o governo brasileiro chegou esta semana à capital Dinamarquês com a promessa de reduzir em 40% suas emissões até 2020. Para convencer que pode atingir sua meta ambiciosa e ao mesmo tempo continuar crescendo com índices de 4 a 6% na próxima década, utiliza com freqüência o argumento de que sua matriz energética se baseia, em grande parte, em fontes limpas e renováveis, como os agrocombustíveis e a hidroeletricidade.

Falso e ilusório

A noção que a energia hidrelétrica é limpa está embutida no subconsciente coletivo da humanidade há décadas. Obvio que ninguém vê chaminés acima dos lagos e nos muros das barragens ou fumaça saindo dos vertedouros e turbinas. No entanto, pesquisas científicas nas últimas duas décadas vêm apontando que as barragens contribuem significativamente na emissão de gases do efeito estufa. Em um artigo de 2007, cientistas do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) estimaram que as grandes barragens no mundo são responsáveis por mais de 4% das emissões globais enquanto a agroindústria contribui com 18% e o setor de transportes com 13%.

Principalmente em regiões tropicais as águas quietas dos lagos das barragens escondem verdadeiras fábricas de dióxido de carbono, óxido nitroso e metano; esse último tem 25 vezes maior impacto no efeito estufa do que o próprio dióxido de carbono. A floresta que fica submersa durante décadas e a vegetação que cresce nas margens do lago descobertas na época em que o reservatório está baixo, quando forem digeridos por bactérias emitem esses gases naturalmente. Também o alto teor em material orgânico dos rios que percorrem florestas como a Amazônica até serem barrados, ajuda na proliferação de algas e plantas aquáticas que por sua vez são decompostas por bactérias. É difícil conceber a magnitude das emissões, mas pesquisadores do Instituto de Pesquisas Amazônicas (INPA) têm mostrado que algumas das barragens da Amazônia como a de Curuá-Una (PA), e as desastrosas em termos sociais e ambientais Tucuruí (PA) e Balbina (AM), emitem mais gases do efeito estufa do que termelétricas a gás natural ou diesel com a mesma potência instalada.

No entanto, essas constatações científicas estão disputadas e desqualificadas numa campanha orquestrada por atores ligados à indústria de barragens e energia e setores do governo. A explicação é simples se considerarmos que as barragens na Amazônia, como os Complexos Hidrelétricos dos rios Madeira, Tapajós, Tocantins/Araguaia e Xingu são alguns dos principais pilares do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O governo deixa claro,desde o processo de licenciamento ambiental do Belo Monte até a implantação das hidrelétricas no rio Madeira, que nem os graves impactos sociais, e muito menos os ambientais, podem obstruir a implementação do atual - injusto e desequilibrado - modelo de desenvolvimento. Obviamente, admitir que as barragens produzem energia suja e contribuem significativamente nas emissões (20% no caso do Brasil segundo o INPE) seria um tiro no pé, no momento que o país quer mostrar liderança mundial no combate ao aquecimento global e, assim, atrair investimentos “verdes” dos países do norte.

Mercado de carbono

A oportunidade de lucro é outro elemento que pode ajudar a explicar essa disputa dos fatos científicos. Com o argumento que as hidrelétricas produzem energia limpa, as barragens podem ser registradas como projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) estabelecido no Protocolo de Kyoto, e assim vender créditos de carbono no mercado mundial. Esse mercado que hoje vale mais de U$ 100 bilhões, cresceu cerca de 1000% desde 2005 e deve atingir pelo menos U$ 1 trilhão até 2014. No Brasil existem 83 projetos hidrelétricos em avaliação ou inseridos no MDL, gerando mais de U$ 60 milhões/ano para os donos dos empreendimentos. O futuro só pode ser melhor para eles se nada mudar. As duas barragens do rio Madeira, por exemplo, se forem inseridas no MDL, vão gerar U$ 100 milhões/ano, além dos R$ 8,2 bilhões/ano de lucro esperado com a geração, transmissão e distribuição de energia. E para variar, estima-se que entre um a dois terços dos projetos no mundo que hoje são inseridos no MDL, não cumprem as exigências estabelecidas, ou seja, existem fraudes na avaliação dos projetos e de fato não ajudam a diminuir o efeito estufa.

Crise mundial

A atual crise econômica que veio complementar a crise energética e alimentar foi fruto da atitude descontrolada dos mercados financeiros, mas quem pagou e paga a conta são os milhões de novas pessoas famintas e desempregadas no mundo. Para agravar ainda mais a situação, os governos desembolsaram U$ 12 trilhões de dinheiro publico, segundo o Fundo Monetário Internacional, para salvar o sistema financeiro - com sucesso extremamente duvidoso. Os mercados não poderiam ter a solução para a crise financeira que eles produziram e com a crise climática não é muito diferente. A conferência do clima em Copenhagen tem a oportunidade de desvincular o combate ao aquecimento global dos mecanismos de mercado. Ambientalistas, movimentos sociais e cientistas dizem que esse é o único caminho para um desenvolvimento sustentável e minimamente honesto. Tanto honesto, para não poder fingir que a hidroeletricidade é limpa só porque ninguém vê chaminés nos murros das barragens.

Kostis Damianakis é doutor em Microbiologia Ambiental pela Universidade de Essex na Inglaterra.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Bolívia depois das eleições

Eduardo Paz Rada

Se bem estava "cantado" que Evo Morales conseguiria a reeleição presidencial no primeiro turno para conduzir a Bolívia durante os próximos cinco anos, que provavelmente se convertirão em dez, não era muito claro quais seriam as margens de controle nas regiões que haviam sido o reduto da oposição neoliberal e conservadora durante os últimos quatro anos.

Os sucesivos triunfos de Morales, em eleições, consultas e referendos, desde 2005, tem como fundamental antecedente a rebelião popular de outubro de 2003 que jogou abaixo todo o sistema político e partidos que haviam levado adiante a política neoliberal que destruiu a estrutura econômica do país e entregou os recursos e empresas estratégicas, a terra e a administração financeira às transnacionais e à oligarquia local.

Foram as consignas de recuperação dos recursos naturais, especialmente o gás, e do Estado, através de uma Assembléia Constituinte, e de expulsão dos políticos corruptos que marcaram os últimos seis anos da vida nacional. Este impulso social, imposto pelos movimentos populares teve sua continuidade e projeção na derrota dos setores oligárquicos e proprietários de terras de Santa Cruz, Beni e Pando em setembro e outubro de 2008, incluindo a expulsão do embaixador dos Estados Unidos na Bolívia.

Agora, com verificação electoral, os desafios do governo se abrem a novas perspectivas. O programa de governo apresentado pelo Movimento ao Socialismo (MAS) está claramente orientado ao desenvolvimento clássico da sociedade moderna, sob a consigna de "Revolução Industrial, Viária, Tecnológica e Institucional" que propõe romper a colonial exportação de matérias primas. O discurso indigenista passou a um segundo plano, assim como a "Revolução Democrática e Cultural" sustentada durante o período 2006-2009.

Evo Morales, a tempo de agradecer o apoio do povo boliviano, manifestou que é hora de acelerar as mudanças, ponderou o voto recebido da classe média e respondeu com a referência anti-imperilista do projeto dos países da Alternativa Bolivariana das Américas (Alba) quando grupos de manifestantes faziam um coro: "Socialismo, socialismo".

Ao haver sido pulverizada a oposição conservadora, começaram a surgir vozes empresariais para somar-se abertamente ao porjeto de governo, por um lado, e os grupos opositores regionais a reagrupar-se para buscar melhores resultados nas eleições de governadores e prefeitos nas eleições departamentais (estaduais) e municipais de abril de 2010, aonde poderiam rearticular-se os setores oligárquicos.

Por outra parte, no seio das forças políticas e sociais que respaldam Morales, começa a remover-se tendências que se manifestaram mornamente até agora. Os setores indigenistas buscam um maior protagonismo nas instâncias governamentais, os bolivarianos uma maior vinculação e compromisso com os postulados latino-americanistas e de integração econômica e política, os esquerdistas uma definição socialista e os liberais manter as boas relações existentes com as transnacionais
petroleiras, mineradoras e financeiras.

Finalmente, o contexto regional e mundial vai marcar também os passos do segundo mandato de Evo Morales. A multipolaridade abriu vários polos que pretendem hegemonia econômica, especialmente com a emergência de China, Índia, Rússia e Brasil, que se somam a União Européia e Estados Unidos e buscam recursos naturais, com poderosas transnacionais, que existem na Bolivia. Regionalmente, as prováveis mudanças no timão político no Brasil, Chile e Argentina, junto a estratégia militar imperialista
manifestada em Honduras e Colômbia, abrem um jogo geopolítico ainda indefinido.

Bolívia, junto a outros países, na União das Nações Sulamericanas e na Alba têm um grande desafio batendo à porta.

Eduardo Paz Rada é diretor do curso de sociologia da Universidade Mayor de San Andrés (UMSA), universidade pública de La Paz, Bolivia.

Tradução: Vinicius Mansur

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Uma eleição validada com sangue

Este vídeo (15 minutos) mostra claramente como a eleição em Honduras não transcorreu nem um pouco "normalmente", como os EUA e a grande mídia querem fazer crer.

Além de elencar as violações de direitos humanos desde o golpe, mostra com imagens e testemunhos contundentes a opressão que se viveu no país no dia da eleição.

Obviamente, o Departamento de Estado dos EUA soube do que aconteceu (assim como a mídia brasileira). Seu serviço de inteligência não é nada bobo. Mas prefere, claro, seguir o plano de consolidação do golpe, ou seja, reconhecer as eleições realizadas sob um regime de exceção.

O engraçado é que Clóvis Rossis e Elianes Catanhêdes da vida jogam o jogo dos EUA, e já cobram do governo brasileiro uma mudança de postura. E utilizam os mesmos argumentos estadunidenses, sempre tão "ponderados". Quer dizer: preferem deixar de lado o jornalismo. Como quase sempre, aliás.

Os "isentos" observadores das eleições em Honduras

Do site TR-Honduras:

Micheletti reclutó en Miami a observadores vinculados a la CIA

La dictadura golpista de Roberto Micheletti ha utilizado como “observadores internacionales” de sus elecciones ilegales a connotados miembros de la mafia cubanoamericana, conocidos por su colaboración con la CIA y sus lazos con los círculos terroristas de Miami

Jean-Guy Allard

Revelaciones” de la prensa mafiosa de Miami confirman que a su lista de supuestos observadores reclutados en los círculos de extrema derecha de Estados Unidos y de América Latina - se aparecieron el traidor cubano Huber Matos, jefe de la organización Cuba Independiente y Democrática (CID).

Orlando Gutiérrez, capo del Directorio Democrático Cubano (DDC), Sylvia Iriondo, gerente de la organización MAR por Cuba.

Los tres tienen lazos documentados con la Agencia Central de Inteligencia (CIA) y se han vinculado a organizaciones terroristas generadas por este mismo órgano del gobierno norteamericano.

Huber Matos, de 91 años de edad, ha apoyado en varias oportunidades planes de asesinatos desarrollados por sus amigos Gaspar Jiménez Escobedo y Nelsy Ignacio Castro Matos además de mantener relaciones con narcotraficantes tales como el caíd canadiense Máximo Morales arrestado en diciembre de 1990, justo después de su visita, al producirse la más importante captura de cocaína de la historia de Montreal.

“Nunca había visto una elección tan ordenada y con tanto entusiasmo popular”, comentó Matos quien visitó mesas electorales escoltado por militares en una Tegucigalpa aterrorizada por las omnipresentes fuerzas policiales y militares.

Por su parte, Gutiérrez Boronat es un ex miembro de la llamada Organización para la Liberación de Cuba (OLC) del connotado terrorista Ramón Saúl Sánchez Rizo. uno de los más peligrosos sicarios de Omega 7. Propagandista de elite del Departamento de Estado, recibió oficialmente en el último presupuesto de la NED la cantidad de 275 000 dólares para difamar a Cuba.

Sylvia Iriondo que calificó de “una fiesta cívica extraordinaria” los comicios de Micheletti, sigue también en la nomenklatura de los más grandes beneficiarios de los programas federales norteamericanos de subsidios a la contrarrevolución además de prestarse para cualquier actividad propagandística orientada por la CIA contra Cuba.

Ya se sabía que el estafador Adolfo Franco que utilizó su puesto en la USAID para regar sus amistades de la Miami mafiosa con millones de dólares se encontró entre los ex funcionarios norteamericanos vinculados a los Bush que viajaron a Honduras - todo pagado por Micheletti - como observadores de las elecciones.

Franco y sus acompañantes de Miami se sumaron a los enviados del grupo neonazi UnoAmérica y de la “Red Latinoamericana y del Caribe para la Libertad”, un apéndice de la Fundación Libertad, financiada por la NED, así como al Faes de José María Aznar.

Después de honrar al agente CIA Carlos Alberto Montaner, el régimen hondureño regaló la “Orden José Cecilio del Valle en el grado de Comendador”, la más elevada del país, a dos otros “observadores”, el agente CIA cubanoamericano Armando Valladares y al líder de la agrupación neonazi UnoAmerica Alejandro Peña Esclusa,

Calderón Sol, asesino de jesuitas, también “observó”

La junta de Tegucigalpa reclutó la mayoría de sus observadores a través del Consejo Hondureño de la Empresa Privada (Cohep) y de los magistrados golpistas del Tribunal Supremo Electoral.

Entre las personalidades más prominentes se encontraron ex presidente de Bolivia, Jorge Quiroga, el ex mandatario de El Salvador, Armando Calderón Sol, el español Carlos Iturgaiz del falangista Partido Popular, un representante del Partido Reformista de la República Checa, Eduard Kozusnik y Christian Lüth de la ultraderechista Fundación Friedrich Naumann de Alemania.

El ultraderechista Quiroga asumió la presidencia de su país en 2001 tras la renuncia de Hugo Bánzer y es famoso por su uso salvaje de las fuerzas de represión contra campesinos y Calderon Sol, presidente de El Salvador en los años 80,por el partido fascista ARENA, ha sido acusado en varias oportunidades de haber mandado a matar a los padres jesuitas y a Monseñor Romero,

Llama la atención que todos los partidarios extranjeros del régimen asesino de Micheletti que se impuso por las armas y mantiene una máxima represión, son los mismos individuos que participan en las campañas del Departamento de Estado donde se pretende defender a los “derechos humanos” en los países cuyas políticas progresistas molestan a Washington.

Golpistas condecoran a Valladares y al neonazi Peña Esclusa

Cabecillas del gobierno golpista de Honduras acaban de otorgar la “Orden José Cecilio del Valle en el grado de Comendador”, al agente CIA cubanoamericano Armando Valladares junto al jefe de la agrupación neonazi UnoAmerica Alejandro Peña Esclusa, ambos fanáticos partidarios del régimen usurpador de Tegucigalpa.

Mientras fue creada para honrar la memoria de quién fue el redactor del Acta de Independencia de Centroamérica, la Orden José Cecilio del Valle se utiliza descaradamente por los funcionarios de Roberto Micheletti para “distinguir” a elementos de la derecha latinoamericana más extremista.

Según la prensa golpista, “los galardonados, han realizado importantes acciones a favor de Honduras”.

Del venezolano -también golpista- Peña Esclusa, se señala que es “una prometedora figura latinoamericana que combina su experiencia política con una sólida formación moral e intelectual”.

Peña Esclusa es jefe de UNOAMERICA, una organización de corte fascista que reúne lo más recio de las oligarquías de Sudamérica con una ideología inspirada del Plan Condor.

Fue asesor en la reciente campaña electoral salvadoreña del partido ARENA (Alianza Republicana Nacionalista), fundado por el Mayor Roberto d’Abuisson Arrieta, famoso por sus escuadrones de la muerte.

Como Valladares, el cabecilla de la pandilla neonazi radicada en Colombia, fue vinculado en abril con el intento de asesinato contra el presidente boliviano Evo Morales, en el cual participaron paramilitares fascistas reclutados en Hungría y Croatia.

El jefe del comando asesino, Eduardo Rózsa se reunió días antes del descubrimiento de la conspiración con el ex oficial de la inteligencia golpista argentina Jorge Mones Ruiz, un directivo de UnoAmérica quién asesoró la fracasada operación.

Cinco días después del golpe de Tegucigalpa, UnoAmérica emitió un comunicado “reconociendo al nuevo gobierno de Honduras, presidido por Roberto Micheletti” y decretando que “no se ha producido un golpe de Estado, sino una sucesión constitucional”, una línea ya orientada por la inteligencia yanqui y la extrema derecha de Miami.

En cuanto a Valladares, el texto del otorgamiento de la condecoración afirma - irónicamente - que se la confiere “por ser un fiel defensor y protector de los Derechos Humanos”.

No se precisa que abandonó precipitadamente su puesto de Secretario General de la Human Rights Foundation y sus oficinas del Empire State Building en abril cuando está organización fachada de la CIA fue denunciada como cómplice del financiamiento del complot. Se dedicó desde el 28 de junio a celebrar y asesorar el régimen ilegal de Tegucigalpa.

Torturador con la dictadura policiaca de Fulgencio Batista, el cubanoamericano se puso a disposición de la inteligencia norteamericana al tocar el suelo de Estados Unidos y ha sido utilizado en innumerables campañas de difamación de Cuba.

Por cierto, no es la primera condecoración que recibe. Años atrás, el fundador del grupusculo anticomunista “Resistencia Internacional” fue también “distinguido” con el máximo reconocimiento civil que Washington regala a sus servidores eméritos, la Medalla Presidencial del Ciudadano, de manos del presidente Ronald Reagan.

bolpress.com

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Caricatura da direita boliviana

Este vídeo, que poderia ser hilário se não fosse trágico, foi enviado por Vinicius Mansur, correspondente do Brasil de Fato na Bolívia e entrevistador das duas caricaturas que aparecem na tela. Vale a pena.

Terrorismo de Estado, ontem e hoje

Estão circulando duas petições online importantíssimas. Embora sobre temas aparentemente distintos, elas têm tudo a ver uma com a outra.

Uma delas é um apelo ao STF para que este declare que a lei da Anistia, de 1979, não se aplica a torturadores, sequestradores etc do regime civil-militar, afinal, estes são crimes de lesa-humanidade, e não políticos. Quem quiser ler o manifesto e assiná-lo, clique aqui.

A outra petição exige o desarquivamento e a federalização das investigações sobre os chamados "Crimes de Maio". Todos devem lembrar que em maio de 2006, o PCC fez uma série de ataques a policiais em São Paulo, causando cerca de 50 mortes.

Mas poucos lembram (ou ficaram sabendo) do saldo do contra-ataque da PM. Pois a polícia invadiu periferias e executou mais de 400 pessoas. Sim, executou. E a imensa maioria não tinha nenhuma ligação como o PCC e sequer tinha antecedentes (não que isso justificasse aplicar penas de morte extrajudiciais). Quem quiser ler e assinar, clique aqui.

O que os dois assuntos têm a ver? Ora, tudo. A não punição aos agentes do Estado do passado é que permite que hoje se continue torturando e matando nas favelas, delegacias e cadeias.

E a doutrina do combate aos "inimigos" aplicada pelas forças de segurança do Estado é a mesma. Se antes esses inimigos eram principalmente os "comunistas", hoje são os pobres.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Armas que causam câncer

Saiu no La Jornada, do México. Estas eram as armas de destruição em massa a que os EUA se referiam?

Desechos tóxicos por años de guerra en Irak incrementan casos de cáncer y malformaciones

Reuters

Periódico La Jornada
Monday 7 de December de 2009, p. 27

Bagdad, 6 de diciembre. Las armas poco a poco dejan de escucharse en Irak mientras la frágil estabilidad se va consolidando, situación que traslada el foco de atención sobre un asesino silencioso que probablemente aceche a los iraquíes en los próximos años.

La incidencia del cáncer, los bebés con malformaciones y otros problemas de salud se han incrementado de manera alarmante, según funcionarios iraquíes, y muchos sospechan que la contaminación producto de las armas usadas en tantos años de guerra es una de las causas.

"Hemos visto nuevos tipos de cáncer de los que no se tenía registro en Irak antes de la guerra de 2003, tipos de cáncer fibroso (tejido blando) y cáncer óseo. Éstos se originan claramente en la radiación", dijo Jawad Ali, oncólogo de Basora, la segunda mayor ciudad iraquí.

En Fallujah, oeste de Irak, escenario de dos de las más feroces batallas entre las tropas estadunidenses y los insurgentes después de la invasión de Estados Unidos en 2003, una cifra récord de casos de bebés nacidos muertos, deformes o con parálisis ha alarmado a los médicos.

El uso de uranio en el armamento de Estados Unidos y la coalición en la guerra de 1991 para liberar a Kuwait, y en la invasión de Irak en 2003, está bien documentado, pero establecer un nexo entre el metal radiactivo y los problemas de salud entre los iraquíes es difícil, según funcionarios.

Las instalaciones médicas iraquíes son limitadas, y el mantenimiento de estadísticas precisas en materia de seguridad durante los años de matanzas sectarias desatadas por la invasión fue imposible.

En Basora, golpeada por años de guerra y anegada por años de contaminación industrial y agrícola, a los médicos les resulta difícil aislar las causas específicas del cáncer.

Su población ha vivido por años entre montañas de chatarra que contiene restos de la guerra, como el óxido marrón que se descascara con el viento que llega hasta las casas de los habitantes, sus alimentos y sus pulmones.

"Nuestra información indica que hay más de 200 kilómetros cuadrados de tierra en el sur de Basora que contienen restos de guerra, algunos de los cuales están contaminados con uranio", dijo Bushra Ali, del departamento de prevención de radiación del Ministerio de Medio Ambiente.

Un informe de 2007 de la publicación médica de la Universidad de Basora encontró que no había "un significativo aumento" en los índices de muerte por cáncer, pero que la proporción de niños muertos por la enfermedad en Basora había crecido 65 por ciento en 1997 y 60 por ciento en 2005, comparado con 1989.

El uranio empobrecido, un metal denso, es usado en armamento para perforar blindajes como los de los tanques. Su conexión con los problemas de salud es polémica: el Ministerio de Defensa Británico dice que no hay evidencia "científica o médica confiable".

En la primera guerra del Golfo se usaron grandes cantidades de uranio empobrecido, buena parte cerca de Basora. No queda claro cuánto fue usado en Fallujah por las tropas estadunidenses en dos ataques contra la ciudad en 2004.

El ejército estadunidense usó fósforo blanco –que puede causar graves quemaduras al hacer contacto con la piel–, a fin de marcar blancos o sacar a enemigos armados de sus escondites.

Cinco años más tarde, los doctores en Fallujah registran inusual número de bebés con afecciones cardiacas congénitas y defectos en el tubo neural, lo que implica en último caso un desarrollo anormal de la médula espinal y del cerebro, condiciones que pueden causar parálisis y la muerte.

"El marcado aumento de malformaciones congénitas en recién nacidos en este hospital llevó a la junta directiva a conformar un comité especial para investigar y registrar estos casos", dijo Abdulsatar Kadim, gerente del principal hospital de Fallujah.

Los médicos dicen que no han podido aislar una causa específica. Varios factores pueden provocar la condición, incluida la falta de ácido fólico durante el embarazo.

Un especialista en neurología pediátrica dijo ver en promedio semanal de tres a cuatro recién nacidos con defectos en el tubo neural en Fallujah y zonas circundantes, región de unos 675 mil habitantes.

Repressão em Honduras

Enquanto os EUA e seus aliados trabalham para legalizar o golpe em Honduras, ao reconhecerem as eleições do dia 29 (como se eleições por si só garantissem a existência de democracia), segue no país a repressão contra quem resiste.

Abaixo, um comunicado publicado no site Honduras en Resistencia:


NOTA URGENTE - REAPARECE LA DESAPARICION FORZADA Y EL CRIMEN POLITICO EN HONDURAS

Continua masacre y agresión a miembros de la resistencia y sus familiares, el de de hoy, cinco de diciembre del corriente mes, varios hombres usando vestimenta de la Dirección Nacional de Investigación Criminal (DNIC) y encapuchados, a la una de la mañana, llegaron a las colonias el Carrizal y la Mery flores, se introdujeron violentamente a las casas donde se encontraban las señoras Vilma Martínez y Sonia Castillo; buscaban a la Señora Ada Martínez miembro activa de la resistencia contra el golpe de Estado, al no encontrarle se llevaron a las señoras antes mencionadas.

Este Escuadrón de la muerte continúo su recorrido y allanaron otras viviendas en la Colonia el Carrizal y se llevaron cuatro personas más vinculados a la resistencia; hasta la hora de difusión de este llamado las personas se encuentran desaparecidas.

EL CODEH denuncia la complicidad del poder judicial en esta práctica que constituye delito de lesa humanidad, denunciamos que los números disponibles para el turno del poder judicial para interponer los recursos de exhibición personal contesta una persona que al responder manifiesta pertenecer a las Fuerzas Armadas de Honduras y que no están disponibles para atender esos llamados; manifestamos que hasta este momento se ha hecho imposible presentar un habeas Corpus a favor de las víctimas por el Número 225-3928 extensión 121 asignado a los Juzgados Unificados de Francisco Morazán.

El cuatro del corriente mes, en horas de la mañana, fueron allanadas las oficinas de edición del Periódico el Libertador, quienes los hicieron se llevaron la computadora que contenía el material para la próxima edición, abusaron de una de las empleadas a quien amenazaron con cometer actos delujuria.

Desde el espacio del CODEH hemos denunciado la creación de Escuadrones dela Muerte organizados por el Régimen Militar y dirigidos por ex miembros del 3-16 que operan desde oficinas públicas del Estado; estas personas han recibido entrenamiento de ex militares del ejército Israelita que han llegado a Honduras para prestar estos servicios.

Al CODEH le preocupa la situación de persecución selectiva que desde estructuras clandestinas, dirigidas por oficiales de las Fuerzas Armadas de Honduras y de la Policía Nacional, se ha desatado en el país; esta práctica ha desplazado, actualmente, a más de quince personas y familias obligadas a salir del país por el hostigamiento, allanamientos de morada en horas nocturnas y atentados criminales, estas prácticas corresponden a escuadrones de la muerte ya organizados en Honduras, el CODEH ha presentado, públicamente, la fotografía de los miembros de estas
estructuras; alertamos a la comunidad internacional del desplazamiento de familias por persecución política, mujeres y niños (as) han empezado a abandonar este país la persecución selectiva cada día amenaza con más fuerza la vida, la integridad física, síquica y moral, así como la libertad.

A la para de esta agresión existe una campaña mediática de apología al odio hacia los defensores (as) de los derechos humanos, entre estos periodistas que se dedican a fomentarla se encuentra el Señor Rodrigo WongArévalo quien se ha manifestado, con sorpresa, que las personas que son privadas de su libertad en el marco de la persecución política tienen el teléfono del Presidente del CODEH nuestro compañero Andrés Pavón, el número del Presidente del CODEH es público, lo hemos anunciado por
radio ytelevisión a fin de estar disponible para todos aquellos y aquellas que por hoy son perseguidos en Honduras por no doblegarse frente al golpe de estado.

Por último exigimos a la Fuerzas Armadas de Honduras y la Policía Nacional dejar en libertad sana y salva a las personas hoy secuestradas con pruebas, en poder del CODEH, que posesionan fuertes indicios de responsabilidad de parte de estas estructuras. La Desaparición forzada esta, nuevamente, enseñando su rostro de impunidad en este régimen militarde facto, los impunes de ayer son los impunes del presente.

Tegucigalpa Distrito del Municipio Central 05 de diciembre de 2009

Por la Comisión Ejecutiva del Comité para la Defensa de los Derechos Humanos en Honduras CODEH

Luchamos por la Paz Defendiendo los Derechos Humanos y la Justicia

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Como a mídia fabrica uma verdade

Não é difícil. Por exemplo:

Em uma matéria da Folha Online do dia 1º/12, sobre os planos do Obama de mandar mais soldados para o Afeganistão, tem um parágrafo, a certa altura, que diz:

Com o reforço, os soldados dos EUA no país devem passar de 100 mil. O principal objetivo das novas tropas será combater a ação da milícia radical Taleban e garantir a segurança da população em regiões consideradas mais instáveis, como o sul e o leste.

O parágrafo não está entre aspas, nem há um "segundo Obama, o principal objetivo...". Ou seja, a afirmação é do redator da notícia. Então, ficamos assim: o que os EUA querem no Afeganistão é nobre, afinal, quem condenaria aquele que luta contra o terrorismo e garante a segurança da população que habita regiões instáveis?

Parece frescura, preciosismo, mas não é. Palavras, qualquer palavra, importam, e muito. Têm força para fazer grandes estragos. Uma afirmação (mentirosa) dessas repetida exaustivamente por toda a mídia ocidental (simplesmente porque a notícia em questão veio das poucas agências internacionais existentes no mundo, cujas "verdades" são distribuídas pela imensa maioria da imprensa) se torna a mais pura verdade. Simples.

É o mesmo caso do que acontece com as notícias sobre as favelas brasileiras. "Jornalistas" publicam a versão oficial e pronto: a polícia, em "confronto" com "traficantes", matou tantos "bandidos".

Enquanto isso, milhares de jovens pobres e negros são executados todos os anos pelo Estado, com a conivência criminosa da mídia e o apoio de grande parte da sociedade.

Pequena mostra da realidade que o Clóvis Rossi finge que não conhece

Email que recebi de uma comunidade colombiana que, há anos, foi vítima de um massacre promovido por paramilitares, e que até hoje é reprimida:

SE INTENSIFICA EL HORROR, LA MUERTE Y EL DESCARO

Los hechos evidencian lamentablemente lo que venimos diciendo tantas veces la incrementación de la muerte, lo peor con el descaro del Estado y sin acciones de contener este derrame de sangre y el avance paramilitar. El gobierno nacional, local y las Fuerzas Militares solo nos llaman mentirosos, terroristas psicológicos pues todo está tranquilo, según su lógica de muerte la tranquilidad es la de las tumbas, el miedo y el silencio, al cual nos oponemos, por ello nuevamente dejamos constancia de los siguientes hechos:

- El 14 de noviembre de 2009 hacia las 15 horas fue víctima de una mina en la vereda Mulatos Gilberto Graciano miembro de nuestra comunidad, él se encontraba buscando unos cerdos y junto al camino donde estaba caminando fue victima de una mina, en el mismo lugar el 3 de agosto fue víctima Aida Luz.

- Todas las semanas alias Zamir se ha dedicado por todas las emisoras de la zona a seguir mintiendo y estigmatizando la comunidad, es indudable una acción orquestada de la Brigada XVII sin que ningún organismos de control del Estado haga algo ante tanta arbitrariedad e impunidad con una persona que ha cometido crímenes de lesa humanidad.

- El 16 de noviembre hacia las 10 horas, en Caracoli (lugar ubicado en la carretera a 10 minutos de San José hacia Apartadó) fue abordado Wilmer Tuberquia por Wilfer Higuita con otro hombre de civil, ellos portaban armas cortas y estaban en moto, le dijeron a Wilmer Tuberquia que tenían una lista de gente para asesinar y que en esa lista estaba Reynaldo Areyza, luego le dijeron que se fuera enseguida. Wilfer Higuita ha patrullado con el ejército y es quien con el coronel Rojas le propusieron a Reynaldo Areiza que trabajara para ellos con el fin de destruir la comunidad.

- El 21 y 22 de noviembre los paramilitares realizaron reuniones. El 21 a las 11 horas en Batata y el 22 hacia las 13 horas en Murmullo (vereda de Batata), allí dijeron que todas las personas debían ser carnetizadas por ellos, que había plazo de tenerse este carnet hasta diciembre de este año, quien no lo tenga sería asesinado. La reunión de Batata fue hecha en el centro del caserío donde se encontraban viendo policía y militares, allí se encuentra una base paramilitar.

- El 23 de noviembre hacia las 22 horas. fue asesinado Dairo de Jesús Rodríguez, conocido como Lalo, se encontraba en el negocio de billares que tenia en San José, allí fue degollado.

- El 24 de noviembre a las 10 horas los paramilitares realizaron una reunión en Nueva Antioquia con la gente, allí dijeron que habían buscado un acuerdo con la guerrilla pero que no se había dado y que ahora asesinarían a cualquiera que estuviera con la guerrilla, además que iban a carnetizar a la gente donde cada persona tendría una ficha que llenarían con sus movimientos, lugar de vivienda, familiares quien no tuviera el carnet lo asesinarían. Agregaron que el objetivo principal en estos momentos era acabar esa h.p. Comunidad de Paz. En Nueva Antioquia se encuentra una base paramilitar que hemos dejando constancia hace muchos años y allí existe presencia del ejército y la policía.

- El 25 de noviembre hacia las 13 horas Elkin Tuberquia llamó a Rodrigo Rodríguez allí le ofreció $ 400.000 para que informara lo que hacia la comunidad en especial lo que hacia Eduar para poder aniquilarlo, que era un trabajo fácil y que ya tenían una red que estaba conectada con el ejército. Elkin Tuberquia ha servido para mentir y distorsionar la masacre del 21 de febrero de 2005, la fiscalía. Cuando se le ha pedido por calumnia la fiscalía ha dicho que no saben donde está y que parece que está muerto según la Brigada XVII.

- El 29 de noviembre a las 15 horas fue asesinado Luis Arnelio Zapata Montoya quien vivía en la Antena. Ese día llegaron temprano a San José dos hombres armados en moto desde Apartadó y preguntaban por varias personas. Luis bajó en un chivero de San José hacia Apartadó, la moto con los dos hombres seguían el carro. En la platanera en Mangolo a la salida de Apartadó se encontraba otra moto con dos hombres vestidos de civil armados con arma corta, pararon el carro y los dos hombres de la moto que los seguía se bajaron, intentaron bajar a Luis quien se resistió y lo asesinaron en el carro.

Lo anterior solo muestra el desespero por acabarnos, pero lo peor la cantidad de acciones de muerte a las que se nos esta sometiendo sin que se haga absolutamente nada. Sabemos que nos quieren exterminar pero estos esfuerzos serán inútiles pues creemos en la vida en principios de paz, de no violencia, de un mundo alternativo y eso no puede ser exterminado de ninguna forma. Pedimos la solidaridad nacional e internacional ante el horror que se esta padeciendo.

COMUNIDAD DE PAZ DE SAN JOSE DE APARTADÓ

Diciembre 3 de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Na Guatemala, "anti-comunismo" exterminou mais de 400 comunidades indígenas

Do La Jornada:

Prueban documentos que Ríos Montt ordenó genocidio indígena en Guatemala

David Brooks
Corresponsal

Periódico La Jornada
Jueves 3 de diciembre de 2009, p. 18

Nueva York, 2 de diciembre. Por primera vez en la historia se comprueba que el genocidio indígena en Guatemala en su peor etapa fue ordenado por el gobierno militar de Efraín Ríos Montt, revelan documentos oficiales obtenidos y divulgados hoy por el National Security Archive.

Los archivos de la llamada Operación Sofía contienen documentos militares secretos sobre la campaña de contrainsurgencia que resultó en matanzas de decenas de miles de civiles mayas en Guatemala, informó el National Security Archive (NSA) al divulgar el material. Los documentos establecen que la operación citada “fue ejecutada como parte de la estrategia militar del presidente de facto de Guatemala, el general Efraín Ríos Montt, bajo el comando y control de los oficiales militares de más alto rango”, afirmó el NSA.

Más de 350 páginas de información

El documento del gobierno guatemalteco, de 359 páginas, detalla la matanza de hombres, mujeres y niños no armados, la destrucción de viviendas, cultivos y animales, y el bombardeo aéreo indiscriminado de refugiados. Los documentos incluyen planes operativos, mapas, órdenes, informes de resultados y reportes de patrullajes. Además, está la orden inicial de lanzar la operación fechada el 8 de julio de 1982 firmada por el jefe del estado mayor, general Héctor Mario López Fuentes.

El documento fue presentado este miércoles por Kate Doyle, directora del Proyecto Guatemala del NSA, ante la Audiencia Nacional de España que está procediendo sobre el caso de genocidio en Guatemala, en el cual están acusados Ríos Montt y otros altos oficiales (la querella original fue presentada por la Fundación Rigoberto Menchú Tum en 1999).

Doyle presentó los documentos ante el juez Santiago Pedraz, de la Audiencia Nacional, quien preside el caso. Los documentos fueron obtenidos por el NSA de fuentes de inteligencia militar en Guatemala, después que a principios de este año el ministro de Defensa, general Abraham Valenzuela González, había afirmado que no era posible localizar estos documentos, ni presentarlos ante un juez guatemalteco como fue ordenado por el tribunal constitucional de ese país en 2008.

En su resumen y análisis de los documentos presentados hoy ante el tribunal español, Doyle afirmó que la operación militar se lanzó el 16 de julio de 1982 en la zona de Ixil en El Quiché. El propósito, según se describe en el plan militar, era realizar "operaciones contrasubversivas y sicológicas en el área de operaciones de la FT (Fuerza de Tarea) Gumarcaj" para "exterminar a los elementos subversivos en el área". La campaña duró hasta el 19 de agosto e involucró oficiales y tropas de varias unidades de las fuerzas armadas.

Doyle, en su presentación del archivo al juez, sostuvo que "esta información nos da una imagen muy precisa de la intencionalidad del daño y el sufrimiento causado a las comunidades indígenas ixiles por el ejército en el curso de su campaña para erradicar a los grupos armados guerrilleros". La documentación permite concluir “con certeza y claridad que la cadena de mando funcionaba en todo momento y que el alto mando –que en ese entonces hubiera incluido el presidente, comandante general del ejército y ministro de la Defensa de facto Efraín Ríos Montt y el viceministro de la Defensa Nacional Óscar Humberto Mejía Víctores, ambos imputados en este caso– estaba perfectamente enterado de las operaciones en el campo”.

Los documentos revelan que el ejército consideraba a pueblos enteros como el enemigo en su lucha contra el "comunismo". Comandantes informan a sus superiores durante esta operación que "durante más de 10 años, los grupos subversivos que han operado en el área del Triángulo IXIL, lograron un trabajo completo de concientización ideológica en toda la población, alcanzando ciento por ciento de apoyo". En otro informe enviado por una de las patrullas militares a sus superiores, se reporta que "en las aldeas no hay gente, toda está escondida. Todas las aldeas de la región están organizadas". Y agrega que "los guerrilleros ya tienen ganada a toda la gente, puesto que cuando ven al ejército, se esconden en las montañas".

Como señala Doyle, se interpretaba el temor y la huida ante la presencia militar como prueba de que el pueblo entero formaba parte del "enemigo" y, por lo tanto, se justificaba el ataque contra la población civil.

Al evaluar los archivos durante meses, Doyle dijo hoy que “hemos determinado que estos documentos fueron creados por oficiales militares durante el régimen de Efraín Ríos Montt para planear e implementar una política de ‘tierra arrasada’ sobre las comunidades mayas en El Quiché. Los documentos registran el asalto genocida de los militares contra las poblaciones indígenas en Guatemala”.

Más de 200 mil personas fueron asesinadas o desparecidas entre 1960 y 1996 en Guatemala. El peor periodo de violencia fue entre 1982 y 1983, durante operativos contrainsurgentes con el estado justificando el exterminio de unas 440 comunidades indígenas como parte de la lucha anticomunista, reportó el Center for Justice and Accountability (CJA), organización internacional de derechos humanos que encabeza el caso ante la justicia española.

El National Security Archive, organización independiente de investigaciones sobre documentación oficial y libertad de información, colocó este miércoles toda esta documentación en su sitio de Internet: www.gwu.edu/~nsarchiv/guatemala/index.htm.

El caso sobre genocidio ha procedido desde 2006 ante la Audiencia Nacional. Para mayor información visitar el sitio de CJA en www.cja.org/article.php?list=type&type=369

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

EUA pagam os talebãs para que estes não atirem em seus soldados

Estava eu buscando informações e lendo artigos sobre a guerra no Afeganistão para servirem de base para uma pauta sobre o novo plano do Obama para o país quando me deparei, em um dos textos, com a informação de que os EUA, na prática, pagam os talebãs para estes protegerem seus comboios de mantimentos e equipamentos bélicos.

Funciona assim: a exemplo do que fizeram e continuam fazendo no Iraque, os EUA deixaram a questão da segurança das instituições e dos seus comboios militares no Afeganistão nas mãos de empresas privadas.

Acontece que tais empresas privadas são controladas muitas vezes por pessoas que eram muito próximas ao regime anterior a 2001. Aí, para facilitar o serviço da companhia contratada, esta paga aos talebãs para protegerem os comboios. Como disseram em um dos artigos que li, que pode ser acessado aqui: "o Exército dos EUA está basicamente pagando aos Talebãs para que estes não atirem".

Hilário, não? Mais detalhes, podem ser lidos aqui.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A César o que é de César

Da Caros Amigos:

Por José Arbex Jr.

Quando comecei a ler o já famoso texto de César Benjamin: “Os filhos do Brasil”, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 27 de novembro, fiquei orgulhoso de ser da esquerda. E mais ainda: de ter compartilhado com o autor do texto alguns momentos emocionantes de nossa luta comum, como o final da marcha do MST para Brasília, em 1997, quando me encontrei pessoalmente com ele, pela primeira vez. Os parágrafos iniciais do texto são primorosos. Muito bem escritos, compõem uma narrativa densa, sedutora, que vai criando no leitor uma vontade de querer saber mais sobre uma história que nunca foi contada direito: a história da ditadura militar, dos porões, das torturas, das prisões, dos seres humanos condenados à ignomínia. Benjamin soube retratar com grande humanidade os seus companheiros temporários de cela. Resgatou-lhes a história, a identidade, a face profundamente humana.
Mas aí, veio a facada, o golpe inesperado, a decepção, a tristeza profunda. Benjamin relatou, no mesmo texto, uma conversa supostamente mantida com Luís Inácio Lula da Silva, em São Paulo, em 1994, durante a campanha à Presidência do Brasil. Lula teria “confessado”, então, entre amigos, que, na prisão, tentou seduzir, sem sucesso, um militante de uma organização de esquerda. Benjamin faz uma comparação entre o assédio descrito por Lula e o temor que ele mesmo, Benjamin, sentiu, quando preso, de ser “currado” por outros detentos.
Não entendi nada. Li de novo, reli, tentei buscar alguma ironia oculta, algo que justificasse, no plano do próprio texto, o absolutamente injustificável paralelo entre estupradores que pululam nas prisões brasileiras – em geral, seres humanos reduzidos a condições quase completamente animalescas pelo próprio sistema carcerário, e/ou por uma vida anterior mergulhada na mais profunda miséria econômica, ideológica e afetiva – e Lula, que não estuprou ninguém, mas que, supostamente, comentou ter sentido o desejo de manter relações sexuais com um companheiro de cela que não cedeu aos seus desejos. Não quis acreditar que alguém dotado com os recursos intelectuais de Benjamin, adquiridos ao longo de sua longa história de luta pela liberdade e pela dignidade humana, pudesse cair em um pântano tão sórdido e profundo. Mas não encontrei nada no texto de Benjamin que permitisse uma interpretação positiva. Ou melhor: encontrei “o” nada: o vazio absoluto; vazio de sentido, o vazio da total falta de perspectivas, o vazio de um rancor desmedido.
(Antes de prosseguir, esclareço logo: não sou e nunca fui “lulista”; não sou mais já fui petista; não simpatizo com a maioria das medidas de governo adotadas por Lula, e por isso sou totalmente favorável à crítica de esquerda ao seu governo. Mais precisamente, creio que Lula pode e deve ser criticado por aquilo que fez, mas acho muito estranho ele ser atacado por aquilo que NÃO praticou.)
Vamos agora considerar, por um segundo, que Lula realmente fez o que supostamente disse ter feito. Isto é, que em dado momento tentou seduzir – seduzir, note bem, não estuprar -- o colega de cela. E daí? O que se pode concluir disso? Qual seria, nesse caso, o crime de Lula? O exercício, o desejo da homossexualidade? Estaremos, então, diante de um texto homofóbico?
Ainda segundo o próprio Benjamin, como já observado, Lula teria comentado o caso numa roda de amigos. Estamos, então, diante de um gravíssimo precedente, aberto pelo próprio Benjamin. De hoje em diante, todos teremos que suspeitar dos nossos amigos, teremos que nos policiar para que nossas palavras não sejam, eventualmente, atiradas contra nós por algum “traíra”, algum “dedo duro”, algum “cagueta”, algum Judas, algum oportunista que resolva tirar proveito de uma situação de cumplicidade. Revivemos, então, a era da delação (Premiada? Que o prêmio, no caso, teria sido pago a Benjamin?), a era da intriga, da fofoca, da futrica, da artimanha, da safadeza. Que vergonha! (Isso tudo me faz lembrar a famosa oração de Marco Antônio, no brilhante texto de Shakespeare: “Poderoso César, terás então descido a tão baixo nível?”)
Benjamin utilizou a imprensa dos patrões para atacar um expoente do movimento de esquerda do Brasil. Claro, claro, claro: sempre se pode alegar que Lula não é de esquerda, como ele mesmo já disse e como eu, pessoalmente, avalio. Mas há um abismo entre considerações de caráter individual, feitas por indivíduos privados e isolados, ou mesmo por grupos e seitas, e a realidade política concreta, historicamente determinada pela luta de classes. No contexto brasileiro, em que as alternativas concretas ao governo Lula (e à sua imagem refratada Dilma Rousseff) são figuras sinistras como as de José Serra e Aécio Neves, Lula surge como um expoente à esquerda do espectro político, com algumas conseqüências importantes para a luta de classes na América Latina: por exemplo, a condução exemplar do governo brasileiro no caso de Honduras (embora feiamente chamuscada pelo desastre no Haiti), a recusa em avalizar o acordo das bases militares estadunidenses com a Colômbia e a denúncia permanente do bloqueio de Cuba. Para não mencionar o fato de que a figura de Lula, malgré lui même, inspira movimentos de resistência ao capital em todo o mundo. Disso não se conclui, automaticamente, que a esquerda deva, necessariamente, apoiar o governo Lula, ou mesmo apostar na eleição de Dilma. Ao contrário, deve aproveitar as contradições, os paradoxos e as ambigüidades para fortalecer o seu próprio campo. Mas Benjamin preferiu fortalecer as correntes representadas pelo jornal dos campos Elíseos.
Não por acaso, a Folha de S. Paulo cedeu o espaço todo pedido por Benjamin. Cederia mais, se necessário fosse. Benjamin conhece a teoria marxista e sabe, com Gramsci, que a mídia dos patrões é o verdadeiro organizador coletivo, é o grande partido do capital. Triste é o fato de ele ter arregaçado as mangas para trabalhar por tal partido. E pior: Benjamin sabe que o falso paralelo que tentou traçar entre os predadores das prisões da ditadura e o prisioneiro Lula seria muito mais verdadeiro se, no lugar de Lula, ele colocasse os donos dos jornais para os quais hoje escreve.
Todo o encanto produzido pelos primeiros parágrafos do texto de César Benjamin foi transformado em fel a partir do momento em que se instaurou a delação, o oportunismo, o absurdo. Lula não estuprou o seu companheiro de cela, mas Benjamin violentou, com alto grau de sadomasoquismo, a própria consciência e uma história repleta de glórias. Requiescate in pace.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O que deu no Cesinha?

Do site Vi o Mundo:

Caras e caros:

O jornalista Duarte Pereira, ex-dirigente da Ação Popular, a quem admiro pela retidão de princípios, enviou a algumas pessoas o texto de César Benjamin, “Os filhos do Brasil”, acompanhado de um comentário crítico.

Envio a vocês, abaixo, minha resposta ao Duarte.

Abraços,

Gilberto Maringoni

*****

Caro Duarte:

Você sabe do respeito imenso que tenho por você, por seu discernimento político e por sua história.
Por isso quero falar-lhe como amigo e companheiro.
Não acho correto darmos credibilidade ao Cesar Benjamin neste episódio.
Ele tem também um passado de lutas e uma capacidade de elaboração respeitável.
Mas há tempos, Cesar resolveu buscar um espaço em voo solo, descolando-se de qualquer ação coletiva.
Não sei exatamente o que se passa. Não sei se é uma vaidade imensa, não sei se é alguma questão política, ou se um modo de se fazer política com o fígado.
Uma denúncia como a que ele faz não é uma denúncia pessoal.
Só encontro paralelo recente no caso Miriam Cordeiro. Levanta-se um pecado íntimo para se atacar uma vertente política.
Por que a denúncia não foi feita antes?
Por que a denúncia foi feita na Folha?
Por que ela é feita quando o governo tem uma atitude digna na questão hondurenha?
Por que ela é feita quando Lula recebe um inimigo figadal de Israel?
Por que ela é feita quando há um afrouxamento mínimo na política monetária?
Por que ela é feita quando se travam as privatizações dos aeroportos?
Por que ela é feita quando a direita faz uma ofensiva de conjunto na América Latina?
Por que a Folha abriu uma página inteira a ela?
Por que ele faz isso na boca de uma campanha eleitoral?
Por que ele faz isso quando o candidato da direita - José Serra - começa a cair nas pesquisas?
O caso me evoca outra lembrança triste.
No início dos anos 1970, alguns militantes da esquerda revolucionária, muito jovens, não aguentando as torturas a que foram submetidos na prisão, foram para a TV.
Afirmavam estarem arrependidos da luta.
Anos atrás eu os classificava com o epíteto seco de 'traidores'.
Hoje, pensando no fato de serem adolescentes, pondero meu tom.
Não fizeram um papel edificante.
Causaram prejuízos irreparáveis.
Mas eram meninos acuados.
O caso mais evidente foi o de Massafumi Yoshinagui, da VPR. Foi até capa de Veja, em 1971. Viveu atormentado com seu gesto, até se suicidar em 1976, aos 26 anos de idade.
Quase 40 anos depois, Cesinha - que não é mais um menino - vai para as páginas e holofotes da grande mídia, fazer o que as classes dominantes querem.
Recebi notícias que blogs da direita estão difundindo o texto.
Conheço o Cesinha há cerca de 25 anos.
Sinto que nós o perdemos irremediavelmente.
Fico envergonhado com o papel que ele está desempenhando.
Seu passado não merece isso.
Mas a História irá julgá-lo.
Por ora fica na ponta da minha língua o adjetivo que usei contra os que foram à televisão naqueles anos.
E não encontro atenuantes para César Benjamin.
Faço votos que ele se dê bem no outro lado.

Abraços,
Maringoni

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O martírio da “Gandhi” do Saara

Brasil de Fato, ediçao 352 (de 26 de novembro a 2 de dezembro de 2009)

Aminetu Haidar, ativista do Saara Ocidental, faz greve de fome na Espanha para poder voltar a seu país, ocupado desde 1975 pelo Marrocos

Igor Ojeda
da Redação

Aminetu Haidar tem 42 anos, mas aparenta se aproximar dos 50. Não é para menos. Já foi muito torturada. Permaneceu quatro anos detida em uma prisão secreta, sem contato com o mundo exterior. E já fez uma greve de fome de 45 dias, que deixou sequelas irreparáveis em seu organismo, como problemas na coluna e uma úlcera hemorrágica.
Por tudo isso, seu novo jejum, iniciado em 16 de novembro, pode lhe trazer consequências ainda mais graves. E ela está disposta, se necessário, a levá-lo até o fim. A única coisa que exige é voltar para casa.
Aminetu é saarauí. Ou seja, nasceu no Saara Ocidental, país do noroeste da África colonizado pela Espanha e que, desde 1975, é ocupado a ferro e fogo pela monarquia de Marrocos, para quem ela é, talvez, a maior pedra no sapato. Pois Aminetu luta há décadas pela independência e soberania de sua nação. Por optar pela via pacífica, é considerada por muitos como a “Mahatma Gandhi saarauí”.
Assim, algumas das principais armas são palestras e conferências no exterior, onde denuncia a opressão que sofre a população do Saara Ocidental. Na última de suas viagens, Aminetu foi a Nova York, no fim de outubro, para receber um prêmio por seu ativismo. Na volta, fez escala em Las Palmas e Madrid, onde trata a úlcera regularmente.
Ao regressar à El Aaiún, capital de seu país, decidiu agir como ela e outros independentistas sempre agem. No formulário de entrada, no espaço “País de residência”, escreveu “Sarra Ocidental”, em vez de “Marrocos”.
Já os funcionários da imigração não agiram como o usual. Em vez de riscarem o nome da nação ocupada e escreverem “Marrocos” por cima, resolveram detê-la. Depois de 24 horas presa, Aminetu foi mandada de avião, sem passaporte, para Lanzarote, nas Ilhas Canárias, na Espanha.

Greve de fome

Ao chegar lá, a primeira coisa que fez foi tentar pegar um vôo de volta, mas a polícia local não permitiu. Sua entrada no país ibérico fora autorizada mesmo sem passaporte, pois Aminetu portava um cartão de residência, concedido em 2006 para que ela pudesse ser tratada em Madrid das doenças das quais sofre. No entanto, sem passaporte, não pôde sair. Aminetu, que se diz “sequestrada” pela Espanha, deu um prazo para que sua situação fosse resolvida. Sem ser atendida, iniciou o jejum, no próprio aeroporto.
“Ela decidiu pela greve de fome porque não havia nenhuma solução até o momento para que voltasse ao Saara Ocidental. É uma medida de protesto”, explica, por meio de contato telefônico, o ator espanhol Guillermo Toledo, porta-voz da plataforma de artistas “Todos com o Saara Ocidental”, que atendeu a chamada destinada a Aminetu.
“Ela não está falando, está muito debilitada, quase não se escuta sua voz”, justifica ele, que está 24 horas por dia ao lado da ativista, como forma de solidariedade. Segundo Guillermo, as sequelas da primeira greve de fome de Aminetu torna “duplamente brutal” a atual. “Seu estado físico é muito precário”, conta.
A agência de notícias oficial do Marrocos informou que a detenção e posterior expulsão da militante saarauí por parte das autoridades do país se deu devido ao “rechaço em cumprir com as formalidades administrativas”, que consistiam em preencher a ficha de ingresso adequadamente.
Diante da repercussão internacional da medida extrema tomada por ela em Lanzarote, Marrocos e Espanha propuseram, cada um, sua própria solução para o caso. “O Ministério de Relações Exteriores [espanhol] propõe que ela receba o estatuto de refugiada, o que ela rechaça, pois isso a tornaria apátrida. Ou seja, ela nunca poderia voltar a seu país. O Marrocos propõe que ela tire outro passaporte. O que ela igualmente rechaça por já ter esse documento. A única solução que ela aceita é que a devolvam ao Saara Ocidental”, sentencia Guillermo.

História de luta

O título de “Mahatma Gandhi saarauí” encontra respaldo em sua história de militância pacífica pela soberania do Saara Ocidental. “É difícil resumir em poucas palavras a vida tão intensa e ativa dessa lutadora pelos direitos de seu povo que se foi convertendo, com o decorrer dos anos, em um símbolo da luta pela identidade e pelo reconhecimento político do povo saarauí”, diz, por correio eletrônico, Santiago Jiménez Gómez, responsável do Gabinete de Estudos e Comunicação Permanente da Coordenadora Estatal de Associações Solidárias com o Saara Ocidental (CEAS).
Em 1987, aos 20 anos, após participar de uma manifestação em favor do respeito aos direitos humanos e à autodeterminação do povo saarauí, Aminetu, juntamente com outras 700 pessoas, foi presa pela polícia marroquina. Sem julgamento e sem direito a advogados, permaneceu encarcerada por quatro anos em centros secretos de detenção, onde sofreu inúmeras torturas e humilhações. Foi dada como morta por seus conhecidos.
“Me amarravam a uma mesa e colocavam, na minha boca, olhos e nariz, um pano impregnado de um líquido que cheirava à cândida. Também me davam chutes, me flagelavam com um cabo elétrico e, além disso, fui agredida por cachorros”, relatou ao jornal espanhol El País. Durante vários meses, teve que ficar sentada em um banco de um corredor, com os olhos vendados para, depois, finalmente, ser jogada em uma minúscula cela, que compartilhou com outras saarauís.
Após ser solta, Aminetu se converteu em “porta-voz contra as injustiças que se cometem contra seu povo, tanto dentro do Saara Ocidental como em contato com numerosas organizações internacionais”, lembra Santiago.
Em 2005, já com dois filhos (hoje, com 15 e 13 anos), foi presa novamente por participar de outra manifestação, ficando sete meses na chamada Cadeia Negra, de El Aaiún. Foi quando realizou sua primeira greve de fome, de 45 dias, por sua libertação e por melhores condições carcerárias. Ao sair, ganhou ainda mais projeção, interna e externamente.

Solidariedade e omissão

É por isso, por sua história, diz o ator Guillermo Toledo, que Aminetu Haidar foi expulsa do Saara Ocidental pelo governo marroquino e “sequestrada” pela Espanha. “A temem por sua forma de luta pacífica. Pelo massivo apoio que tem. Se ela fosse terrorista, jogasse bomba, perderia esse apoio”.
De acordo com ele, a solidariedade que a militante vem recebendo nos últimos dias é igualmente massiva. “Está vindo de todas as partes do mundo”. Nomes como os dos escritores José Saramago e Eduardo Galeano e do ator Javier Bardem já lhe enviaram mensagens de apoio.
“O único que não está solidário com sua causa – do contrário, vem atuando com profunda insensibilidade – é o governo espanhol. Atua desse jeito por causa das suas relações econômicas com o Marrocos. Para não pôr em risco essas relações com o regime marroquino, que é um regime que persegue, reprime, tortura, assassina. É uma atitude que causa surpresa, porque a Espanha costuma levantar a bandeira dos direitos humanos”, indigna-se Guillermo, para quem, ao impedir que Aminetu volte a seu país, a Espanha comete um delito internacional. “A atitude do governo é desprezível. Nenhuma membro dele, seja de baixo ou alto escalão, se dignou a telefonar para saber de seu estado de saúde”, protesta.
O fato é que, a cada dia sem solução, mais débil fica Aminetu, fazendo com que a possibilidade de um final trágico para essa história não seja descartada. Mas, caso isso ocorra, Santiago Jiménez avisa: “Se essa atitude a levar ao martírio, sua vontade de luta, sua memória e seu sentido de sacrifício habitariam o coração de cada homem e mulher, novos e novas Aminetu. Não contribuiria para apaziguar o conflito e duvido muito que as autoridades saarauís seriam capazes de acalmar a desesperação e a raiva coletiva”.

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A nova estratégia do rei

Expulsão de ativista pelo Marrocos vincula-se a uma “escalada” repressiva contra a luta da população saarauí por sua independência

da Redação

Militantes pela independência do Saara Ocidental veem a ação do governo marroquino contra a ativista Aminetu Haidar como parte de uma “escalada” na repressão que vem ocorrendo nos últimos meses.
Em 8 de outubro, por exemplo, sete membros de organizações de direitos humanos e da sociedade civil do Saara Ocidental foram presos quando regressavam ao seu país após uma visita aos acampamentos de refugiados saarauís de Tinduf, na Argélia, dirigidos pela Frente Polisario, articulação política e militar de independentistas do país do oeste africano.
Ahmed Alnasiri, Brahim Dahane, Yahdih Ettarouzi, Saleh Labihi, Dakja Lashgar, Rachid Sghir eAli Salem Tamek estão sendo acusados pela Justiça do Marrocos – subordinada ao rei, Mohamed VI –, entre outras coisas, de “colaboração com o inimigo” e ataques à “integridade territorial” marroquina. Devem ser julgados em breve por um tribunal militar, que pode, inclusive, condená-los à morte.
Para Santiago Jiménez Gómez, responsável do Gabinete de Estudos e Comunicação Permanente da Coordenadora Estatal de Associações Solidárias com o Saara Ocidental (CEAS), tais argumentações não se sustentam, pois “é difícil acusar de traidores a quem não se consideram marroquinos”. Além disso, segundo ele, a própria ONU reconhece o Saara Ocidental como território “pendente de descolonização e submetido a Marrocos em virtude de conquista militar”.

Nova estratégia

Mas, na verdade, para a monarquia marroquina, pouco importa a solidez jurídica de suas acusações contra os sete militantes detidos. Segundo Santiago, tanto a prisão destes quanto a ação contra Aminetu Haidar são consequência de uma mudança na estratégia do país de Mohamed VI em relação ao Saara Ocidental.
Ainda de acordo com Santiago, o início de novas conversações e a nomeação de um novo enviado especial da ONU parecia indicar um período de distensão, esperança interrompida pelas ações de Marrocos. “Estou particularmente convencido, e tomara que me equivoque, que toda esta tensão crescente não é senão parte de uma estratégia com a qual o Marrocos tenta romper o ritmo da negociação, justificando, assim, que não há condições adequadas para continuá-las. Condições que o Estado marroquino contribuiu muito para criar”.
A tal mudança de estratégia foi confirmada em 6 de novembro, quando, em ocasião do 34º aniversário da “Marcha Verde”, manobra militar que permitiu a ocupação do Saara Ocidental, o rei marroquino pronunciou um discurso convocando a Justiça e as forças de segurança a atuarem com mais firmeza contra “os adversários da integridade territorial do Marrocos” e desbaratar “os complôs urdidos contra a 'marroquinidade' do nosso Saara”.
Isso, na opinião de Santiago, indica “uma mudança brusca e calculada de atitude que busca eliminar a liderança da resistência da população saarauí a seus invasores – com o encarceramento de boa parte de seus mais destacados dirigentes e a expulsão de uma personagem do valor simbólico de Aminetu Haidar – e amedrontar a população do Saara Ocidental ocupado”. (IO)

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Espanha: apoio e omissão

da Redação

“Vi muitas coisas ao longo da minha vida, mas nunca imaginei que o grau de cumplicidade do Estado espanhol com Marrocos chegaria tão longe”, disse à imprensa a ativista saarauí Aminetu Haidar, que iniciou greve de fome em 16 de novembro depois de ser impedida pela Espanha de retornar a seu país.
A colaboração do país ibérico com a monarquia marroquina, na verdade, vem sendo denunciada desde 1975, quando, por meio de um acordo secreto, o primeiro deixou o território saarauí livre para a entrada das tropas militares do segundo. Desde então, não importa a tendência do governo de turno, a Espanha segue com sua política de “olhos fechados” às violações dos direitos humanos da população do Saara Ocidental por parte do Marrocos.

“Alinhamento”


“[A Espanha executa] uma política cheia de declarações ambíguas e de fatos bem expressivos que evidenciam sua falta de neutralidade e seu alinhamento, às vezes quase submisso, às posições marroquinas”, protesta Santiago Jiménez Gómez, responsável do Gabinete de Estudos e Comunicação Permanente da Coordenadora Estatal de Associações Solidárias com o Saara Ocidental (CEAS).
Entre as “evidências” listadas por ele, estão a venda de armas a Marrocos, a prática da pesca em águas territoriais saarauís, negociada diretamente com a monarquia árabe, e as “gestões” por parte de personalidades políticas do governo para que o Saara Ocidental não seja reconhecido por alguns países da América espanhola.
Segundo Santiago, as motivações espanholas para manter tal apoio são muitas. Entre elas, destacam-se os interesses econômicos de investidores do país no Marrocos e o de “pessoas que condicionam sua capacidade de decisão sobre interesses coletivos à obtenção de benefícios individuais generosamente presenteados pela monarquia marroquina”.
“Tudo vale em um cambalacho onde a justiça, a legalidade, a equidade e a defesa do mais fraco não são cotizados a preço de mercado”, conclui. (IO)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Uma luta invisível

Na imprensa brasileira, isso não é digno de notícia: desde o dia 16, Aminetu Haidar, ativista do Saara Ocidental, está em greve de fome. Poucos sabem, mas seu país, antiga colônia da Espanha, é ocupado há 34 anos pela monarquia do Marrocos.

Em resumo: ela retornava a seu país depois de uma viagem ao exterior, foi enviada para a Espanha pelas autoridades marroquinas, e, na Espanha, está sendo impedida de tomar um voo de volta. Por isso, decidiu pela greve de fome.

Aminetu, por lutar pacificamente pela independência, é considerada a "Mahatma Gandhi" de sua nação. O fato de sofrer de diversas doenças só torna mais perigoso seu jejum. Mas, pelo jeito, ela não irá recuar.

Notícias sobre o caso dela podem ser lidas aqui.

Nos próximos dias, postarei a matéria que fiz sobre o assunto para a edição do Brasil de Fato que circulará a partir de amanhã.

Enquanto isso, abaixo, quem quiser saber o contexto da luta do Saara Ocidental, uma entrevista que fiz há alguns meses com um ativista uruguaio que é solidário à causa:

Uma luta invisível

População do Saara Ocidental sofre, há mais de três décadas, a opressão da ocupação promovida pelo reino de Marrocos, apoiado por potências estrangeiras

Igor Ojeda
da Redação

Dos povos oprimidos, a população do Saara Ocidental talvez seja a mais esquecida do planeta. Poucos sabem que esse país do noroeste da África está ocupado desde 1882. Primeiro, pela Espanha. E, a partir de 1975, pelo Marrocos, que aproveitou a saída das tropas coloniais para impor seu domínio sobre o território saarauí, rico em fosfato, pesca e petróleo. Desde então, os saarauís, reunidos politicamente e militarmente na Frente Polisario, lutam contra as forças marroquinas – apoiadas atualmente pela França –, pela realização de um referendo sobre sua independência e, até, contra um muro de 2.500 quilômetros de extensão. Leia, a seguir, trechos da entrevista com Emiliano Gómez López, presidente da Associação Uruguaia de Amizade com a República Árabe Saarauí Democrática (RASD), que visitou por diversas vezes a nação africana.

Brasil de Fato – O que é a Frente Polisario?

Emiliano Gómez López – O Saara Ocidental, era, até 1975, o Saara Espanhol. Aliás, era uma província da Espanha. Em 10 de maio de 1973, depois de um período de idas e vindas dos nacionalistas saarauís, criou-se a Frente Polisario (Frente de Libertação Popular de Saguía el Hamra e Río de Oro, as duas regiões geográficas do país). É uma frente que reúne as vontades políticas de todos os setores independentistas, que tinham abandonado a possibilidade de uma via pacífica de independência e optaram pela luta política revolucionária armada. A primeira ação militar da Frente Polisario foi em 20 de maio de 1973, data que marcou o nascimento do Exército Popular de Libertação, que hoje constitui as Forças Armadas da República. Essa organização político-militar independentista conseguiu, em dois anos e meio, tomar o controle de praticamente todo o território, estabelecer negociações políticas com o governo colonial, e chegar a um acordo de repartir o território. Tudo parecia estar encaminhado à independência, porque a ONU também a estava pedindo, desde 1963, 1964. Mas aconteceu aí uma desgraça: as mudanças políticas na Espanha, devido à morte de Franco [Francisco Franco, ditador entre 1936 e 1975]. Ele estava morrendo, a incerteza política na Espanha era muito grande, não se sabia o que ia acontecer. Muitos pensavam que poderia estourar de novo uma guerra civil, e isso foi aproveitado pelo rei de Marrocos, Hassan II [exerceu o cargo de 1961 a 1999], que montou aquela encenação da chamada Marcha Verde, quando 350 mil marroquinos armados do Corão, dos retratos do rei e das bandeiras norte-americanas, foram em massa, através do deserto, até a fronteira do Saara Espanhol para tomá-lo, para “recuperá-lo” para o reino. O governo franquista tinha assinado um acordo secreto com Marrocos e Mauritânia, para, em troca de alguns privilégios econômicos, transferir a colônia às mãos da monarquia marroquina e da presidência da Mauritânia. Foram os acordos secretos de Madrid, de 14 de novembro de 1975. Nesse momento, as tropas marroquinas já estavam invadindo militarmente o Saara, a Frente Polisario estava combatendo contra os novos ocupantes, e o exército espanhol ia entregando as posições em combate. Essa era a ordem. Que foi uma verdadeira vergonha para a Espanha.

O senhor disse que o Exército de Marrocos estava recuperando o Saara. Antes tinha o controle?

O Marrocos nunca teve nenhuma soberania sobre o Saara Ocidental. Secularmente, as tribos saarauís tinham uma forma de governo federal próprio. Tinham o chamado Conselho dos 40, que se reunia sempre que havia alguma ameaça estrangeira, para regular as relações entre as tribos. Eram os anciãos. Mas, invocando o suposto direito ancestral, o Marrocos convocou o Tribunal de Haia, para que este emitisse um parecer para ver se efetivamente o Marrocos tinha direitos. O Tribunal, depois de três meses, depois de investigar toda a documentação espanhola, argelina, marroquina, chegou à conclusão de que não havia nenhuma ligação de soberania entre o reino de Marrocos e o Saara Ocidental. Nesse mesmo dia, começou a invasão. A política do fato consumado. E desde então, estão lá.

E qual era o interesse do Marrocos em ocupar o Saara Ocidental? Por que ele queria esse território?

Há vários fatores. A monarquia, profundamente corrupta, tinha a oposição de setores nacionalistas progressistas das Forças Armadas marroquinas. Uma das razões para começar a invasão era jogar o exército lá para o meio do deserto. Quanto mais longe do palácio, melhor. Essa foi uma das razões internas. Outra razão era a de tomar o controle das jazidas de fosfato do Saara Ocidental, uma das maiores e mais ricas do mundo. Nem precisa abrir buraco, é só tirar uma camada de areia. As reservas eram calculadas em 10 bilhões de toneladas. Além disso, no mar territorial do Saara Ocidental tem um dos bancos de pesca mais ricos do mundo. Lá, todo ano pescam uns cinco, seis, oito mil navios. E todos eles pagam direitos para pescar aí. Quanto pagam? Não sei. Talvez 30, 40 mil dólares para poder trabalhar aí o ano inteiro, cada navio. Todo esse dinheiro, que recebia a Espanha, agora vai para os bolsos não do Marrocos, mas do rei do Marrocos.

Qual foi a característica da colonização espanhola? Foi igual ao do resto do continente, de exploração de recursos naturais?


Na realidade, desde que a Espanha começou a ocupação do Saara Ocidental, em 1882, nunca fez nada. Aproveitava a costa saarauí para ter bases para os barcos de pesca. Não tinha outra importância, até que descobriram a presença das jazidas de fosfato. Aí, o governo espanhol fez um investimento muito grande. Todo um complexo minerador que implicava extração, transporte e carregamento dos navios. Tudo aquilo começava a dar lucros para o governo da Espanha, porque era uma companhia do Estado espanhol, mas aí começou a invasão marroquina. As instalações foram construídas para extrair até 10 milhões de toneladas por ano. No primeiro ano, o governo espanhol exportou dois milhões, no segundo ano, cinco milhões, e no terceiro, acabou, porque começou a guerra. Portanto, quem está aproveitando agora é o Marrocos. Aproveitando as próprias instalações espanholas. Eles exploram os minérios e os direitos de pesca.

Exportam para quem?

Para muitos países. No Marrocos, também há jazidas. Só que, claro, quando você tem as principais jazidas do mundo, você se converte em monopolista, e pode impor preços no mercado internacional. Isso é o que está fazendo o Marrocos, pois a companhia que explora é do Estado. Na verdade, não é do Estado, é do rei. O rei é o principal acionista da companhia estatal. Estamos falando diretamente da riqueza do rei.

O senhor disse que os soldados que participaram da invasão marroquina vinham também com bandeira estadunidense.

Foi uma coisa muito esquisita. Quem autorizou o começo da operação, da Marcha Verde, foi Henry Kissinger [ex-secretário de Estado dos EUA]. Tudo isso foi feito em cumplicidade com o governo norte-americano.

Desde então a monarquia marroquina já era aliada dos EUA?


Sim. Os EUA têm interesses estratégicos no Marrocos. Porque é a zona de confluência da 6ª Frota, do Mediterrâneo, e da 2ª Frota, do Norte do Atlântico. Portanto, o Marrocos era uma peça importante no esquema de dominação geoestratégica dos EUA. O Marrocos de um lado, o Egito do outro, e a África do Sul lá no sul. Era o Triângulo das Bermudas.

Então a invasão do Saara Ocidental foi de interesse dos EUA.

Foi tudo cozinhado entre a monarquia marroquina, os EUA e a França. Naquele tempo, neste último, já estava o Valéry Giscard d'Estaing, de direita. A França tem também interesses muito fortes na região.

Quais são?

A França é a ex-potência colonial. Marrocos, Tunísia, Argélia, Mali, Senegal. No meio daquele oceano francófono, está o Saara Ocidental hispanófono. A França foi embora, politicamente, mas economicamente, ficou. O domínio continuou. Esses interesses neocoloniais amarravam os interesses da burguesia, do feudalismo marroquino, com os do imperialismo francês. E estava em jogo aquele prestígio da França. “Aqui mando eu”. Por isso que sempre foi o aliado principal do Marrocos. E é até agora. Além disso, havia os interesses econômicos.

Desde 1975, quando começou a invasão marroquina, como evoluiu a resistência saarauí?

A Espanha vai embora numa operação que culmina em 27 de fevereiro de 1976, dia em que sua bandeira é arriada pela última vez. Nesse mesmo dia, no interior do deserto, a Frente Polisario proclama a República Democrática Saarauí [RASD], para que não houvesse nenhum vácuo jurídico que pudesse ser aproveitado pelos novos ocupantes. Imediatamente, essa república jovem, recém-nascida, já é reconhecida por sete países da África. A primeira tarefa da nova república: salvar a vida da população civil, que estava ameaçada de genocídio pelas tropas marroquinas. Entraram matando, acabando com tudo. Bombardeios de napalm, de fósforo branco. Todos aqueles que puderam, fugiram para o interior do deserto, para os acampamentos da Frente Polisario, procurando proteção. E a aviação marroquina os bombardeava. Teve um acampamento desgraçadamente famoso em Um Draiga que foi bombardeado por três dias seguidos. Mataram 2.500 pessoas. Imagina quantos desapareceram. A verdade é que houve um perigo real de extermínio da população. Então a Frente Polisario fazia um combate ferrenho para impedir o avanço das tropas marroquinas. Ao mesmo tempo, evacuava a população civil rumo à Argélia. O presidente argelino, Houari Boumédiène [1965-1978], abriu a fronteira, e aí foi a salvação da população civil. Hoje, os acampamentos estão no mesmo lugar. É o ponto mais extremo do Deserto de Saara. No inverno, atinge a temperatura de quase 0ºC. No verão, ao meio-dia, 60ºC. Você percorre a região inteira de carro e encontra um arbusto, outro a cinco quilômetros, outro a dez quilômetros. Só isso! O resto é areia, pedra, areia, pedra. No meio do nada, eles montaram os acampamentos para sobreviver. Então, o Exército Saarauí, uma vez que culminou a etapa de resgate da população civil, passou a uma fase de ofensiva. E assim foi de 1976 a 1991. Quinze anos depois, a partir das negociações promovidas pelas Nações Unidas e a OUA [Organização da Unidade Africana], chegou-se a assinar o acordo de cessar-fogo. Na guerra, as Forças Armadas Saarauís não puderam expulsar os marroquinos. Mas estes tampouco puderam acabar com os saarauís. Quando as tropas da ONU entraram, tinha, do lado saarauí, 15 mil combatentes. Do lado marroquino, 165 mil homens, armados pelo melhor armamento da África do Sul, França, Espanha e EUA. Em 1980, o exército marroquino ficou quase encurralado pelos ataques do Exército Popular Saarauí. Aí, com a ajuda diplomática, política e financeira dos EUA, e de Israel, construíram os muros fortificados para evitar os ataques do Exército Popular Saarauí. Começaram a construir um muro em torno da região das jazidas. Depois fizeram outros. Hoje tem um muro que vai do norte até o sul, são mais de 2.500 quilômetros. Tem 150 mil soldados permanentemente deslocados ao longo do muro, que está precedido por campos minados, por campos de arames farpados. Eles têm sistemas de radares que detectam os movimentos de uma pessoa a 10 quilômetros de distância. A cada cinco quilômetros, há uma posição de infantaria. A cada dez quilômetros, uma posição de artilharia pesada. Detrás do muro, estão as bases dos blindados. E, por cima de tudo isso, há a aviação, continuamente patrulhando. Estima-se que isso está custando ao Estado de Marrocos, em média, 4 ou 5 milhões de dólares por dia.

Provavelmente, com a ajuda financeira dos EUA, França...

Logicamente. E mais: os saarauís falam “por que o Marrocos é subdesenvolvido?”. Precisamente porque o dinheiro que podiam empregar no seu desenvolvimento estão empregando em gastos militares. Então, aquela divisão do deserto pelo muro, paras os saarauís, foi um choque, o deserto parecia livre, mas, de repente... uma muralha. As negociações procurando um acordo político deram como resultado o cessar-fogo que entrou em vigor em setembro de 1991. Com uma condição fundamental: que, em poucos meses, fosse realizado um plebiscito para que a população saarauí pudesse manifestar sua vontade a respeito de seu futuro político, sem pressões de nenhum tipo, livremente, tudo isso controlado pelas Nações Unidas. Escolher entre ser livres, independentes, ou ser parte do reino de Marrocos. Acontece que desde então, o reino de Marrocos tem se dedicado a sabotar, a por empecilhos diversos, para impedir a realização do referendo. Hoje já falam: “referendo não, isso é nosso, não tem discussão. Poderemos dar no máximo, uma autonomia”. Como se fosse uma província autônoma, mas sob a soberania do Marrocos. Já nem aceitam o referendo. Os saarauís dizem que aquele acordo que propiciou o fim da guerra tem sido violentado, e que, portanto, a guerra pode voltar. Essa é a situação hoje.

Esse conflito se deu na época da Guerra Fria. Houve um apoio, para a Frente Polisario, por parte da União Soviética, de Cuba etc?


Da União Soviética nunca. De Cuba sim. Desde o início da proclamação da República, Cuba apoiou de uma forma só: admitindo, no seu território, estudantes saarauís. Hoje, já passaram, por Cuba, milhares de saarauís. São médicos, engenheiros. São chamados de “cubaarauís”.

Por que o senhor acha que a União Soviética não interviu?

Na minha opinião, porque tinha um bom comércio com o Marrocos. Eram pragmáticos. Nunca deram nada, nem um pedaço de pão. Nem sequer o reconhecimento político. Os únicos países da Europa que reconheceram politicamente e diplomaticamente a República Saarauí foram a Iugoslávia, que não existe mais, e a Albânia, que mudou totalmente. Só. Mas do resto do bloco socialista europeu, nenhum deles. A ajuda militar veio da Argélia e, fundamentalmente, depois, havia os armamentos que eram pegos dos marroquinos. Nos acampamentos, há um museu militar, uma pequena mostra do que os saarauís capturaram. Tanques sul-africanos, norte-americanos, canhões auto-propulsados franceses, caminhões franco-germanos, metralhadoras, armamentos ligeiros e morteiros espanhóis.

Nesses acordos de 1991, além da realização do referendo, quais eram as bases dele?

O referendo era o principal. Primeiro, entrariam os cascos azuis e uma força multinacional de polícia, para preparar o terreno para a realização do referendo. Outro ponto era o transporte, por parte da ONU, dos refugiados para o território saarauí. Três meses após os acordos, iriam realizar o referendo. Ou seja, iria ser em janeiro de 1992.

E por que não foi realizado?

Nesses mesmos dias, o rei Hassan II falou: “espera aí, eu tenho aqui uma lista de saarauís que não estão contemplados no censo espanhol”. Porque a base do padrão eleitoral seria o censo espanhol, que contava 74 mil saarauís. O rei tirou uma lista de 120 mil. Imagina, numa população com 74 mil eleitores, e você põe 120 mil a mais. Eram os saarauís nascidos em Marrocos, que teriam direito a votar também. A Frente Polisario nunca aceitou. Nem a ONU. Ninguém aceitou. Mas, com isso, o rei bloqueou o referendo. Então, tiveram que fazer uma depuração e chegaram à conclusão que só 10 mil tinham direito. Aí, o Marrocos não aceitou. Então, inventaram outra coisa. E assim foi passando o tempo. Por que o Marrocos faz isso? Porque tem o respaldo da França. E a França tem veto no Conselho de Segurança da ONU.

Qual a população do Saara Ocidental hoje?

Aproximadamente 300 mil pessoas. Entre os que estão nos acampamentos, nos territórios ocupados, e os dispersos pelo mundo. Nos acampamentos, são 180 mil. Nos territórios ocupados, uns 90 mil. Só que os marroquinos enfiaram colonos... a mesma política de Israel. Além dos 165 mil soldados, tem todo o aparelho de administração colonial. E além disso, enfiaram 120 mil colonos. Ou seja, hoje a população saarauí é minoria dentro dos territórios ocupados. Então, a impaciência chega, e, por não poderem, por enquanto, optar pela via armada, começaram, em 2005, uma rebelião pacífica, a Intifada Saarauí. Nos acampamentos, estão desejando começar a guerra de novo.

Esse foi um movimento espontâneo ou foi impulsionado pela Frente Polisario?

Foi uma mistura. Começou em maio de 2005. Até hoje, não tem parado em nenhum momento. São quatro anos de rebelião pacífica. Por enquanto, os saarauís não deram nem um tiro. No máximo, são pedras. Mas a repressão é muito grande. Neste momento, tem presos políticos em greve de fome há 30, 40 dias. Reclamando melhores condições na prisão. Mas, desde maio de 2005, desapareceram 15, e morreram quatro ou cinco. E milhares passaram pela prisão e pela tortura. Espancados nas ruas, também milhares. Homens e mulheres. Continuamente. O presidente saarauí está pedindo para a ONU para que esta cuide dos direitos humanos da população que está nos territórios ocupados. O tema foi levado ao Conselho de Segurança este ano, e foi até defendido pelo embaixador norte-americano. Pela primeira vez. Quem ficou sozinha foi a França. Ficou em evidência perante o mundo inteiro que só eles não permitem que a ONU cuide dos direitos humanos da população saarauí. Mas, pela primeira vez, o governo norte-americano assume uma posição diferente da de anteriores governos. Então, estamos numa fase promissora, porque, por um lado, a Intifada continua. Por outro lado, a Anistia Internacional, a Human Rights Watch, o Parlamento Europeu, têm emitido relatórios denunciando a violação permanente dos direitos humanos e pedindo à ONU que tomem conta disso. Por outro lado, o lobby pró-Saara Ocidental tem um peso que antes não tinha sobre o governo norte-americano. Antes, só os marroquinos, sobretudo com o Bush. O que está pedindo o governo saarauí? Uma coisa só: vamos fazer o referendo. Por que eles não fazem? Têm medo, porque a população saarauí quer ser independente. E tem uma coisa interessante. Os protagonistas da Intifada são os jovens saarauís. Mas os jovens que já nasceram nos territórios ocupados. Coisa que o Marrocos não conseguiu ganhar, sequer ideologicamente, foi a juventude. E mais: há filhos de colonos marroquinos que, por terem nascido no Sarra Ocidental, se sentem saarauís. Essa é uma derrota política muito forte para a monarquia. Ela se mantém somente na base da ocupação das Forças Armadas e do aparelho de repressão.

O senhor falou de governo saarauí. Foi o governo instituído pela Frente Polisario, não é?

O governo saarauí por enquanto é de partido único, o partido da Frente Polisario. Mas esse partido tem uma existência condicionada à independência. O dia em que a República for totalmente soberana, que tiver o domínio sobre todo o território, automaticamente a Frente Polisario fica dissolvida e daí nascerão x partidos. É um acordo das forças políticas saarauís de combater todos juntos sob uma só bandeira, a da independência. São por definição, religiosos. Sunitas. Mas bastante liberais. É uma República comum e corrente, tem Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.

Que não são reconhecidos internacionalmente.

Hoje, a República Saarauí é reconhecida por 82 países. Em toda a América Latina, só faltam três países para darem seu reconhecimento: Brasil, Argentina e Chile. O primeiro foi o Panamá, em 1978. Tem embaixada em Havana, Caracas, Cidade do México e Cidade do Panamá.

Como é a população saarauí hoje? Do que ela vive, quais suas características etc?

A população saarauí que está há 33 anos nos acampamentos no sul da Argélia sobrevive graças a duas coisas. A sua determinação de sobreviver, e à solidariedade internacional. Dos organismos humanitários, da União Europeia, toda ajuda do governo argelino, e muita ajuda do povo espanhol. Porque embora o Executivo esteja totalmente a favor do Marrocos, a população espanhola está com os saarauís. No nível municipal, autonômico, estão com os saarauís. Concretamente, o Zapatero [José Luis, presidente da Espanha] e o chanceler Moratinos [Miguel Ángel] têm se inclinado a favor da monarquia marroquina. Têm até dado de presente armamento.

Por quê?

Eu gostaria de saber. Deve ter interesses econômicos muito fortes de empresas espanholas no Marrocos para a exploração de diversos setores, turismo, minérios... interesses da monarquia espanhola... e deve ter alguns interesses pessoais de alguns políticos espanhóis, quem sabe o que.

Como é a economia do Saara Ocidental?

Lá nos acampamentos tem manufaturas artesanais, algumas hortas, uma agricultura muito precária. Imagine, no meio do deserto.

E a população dos territórios ocupados, como vivem?

Sobrevivem, não sei como, porque são discriminados. Eles trabalham nas coisas que foi pondo lá a indústria extratora das jazidas de fosfato, trabalham na pesca, mas sempre são de quinta categoria. Se têm algum problema, são demitidos imediatamente.

No Saara Ocidental, nessa região, existem empresas francesas, espanholas, estadunidenses...

De todos os lugares. Porque, para piorar, há quatro, cinco anos, descobriram que tem petróleo e gás natural. Há uma campanha mundial das organizações progressistas para impedir a exploração dos recursos naturais saarauís. Já obrigaram empresas norueguesas, australianas a se retirarem, sob argumentos éticos. Na realidade, segundo o direito internacional, ninguém pode tirar, porque é um território ocupado. Mas tem empresas espanholas, que exploram a pesca...

Que negociam diretamente com o Marrocos.

Claro. E tem outras nacionalidades, explorando minérios, pesca. E agora, querem morder o petróleo também. Voltando, a Frente Polisario falou: “se nós fizermos o referendo, vamos ganhar. E se ganharmos, os colonos marroquinos podem ficar. Não vão ser nem expulsos, nem discriminados”. E eles cumprem. Os saarauís são muito direitos nesse sentido. Eles têm um sentido de hospitalidade impressionante. Claro, é cultural do deserto. É a garantia de sobrevivência.

Tem alguma coisa que o senhor gostaria de acrescentar?

A importância que hoje teria um reconhecimento por parte do Brasil. O peso internacional é grande. No fim das contas, estamos falando de um governo de esquerda. Um governo de esquerda deve ter determinados princípios que guiem sua atuação internacional. Já são 28 países na América Latina que reconhecem o Saara Ocidental. O Brasil fala que tem uma política de neutralidade, mas não é verdade. Porque quando você tem um forte que agride e uma vítima que é agredida, e você tem relações com o forte, e não tem com a vítima, então isso não é neutralidade. O Brasil tem embaixada marroquina em Brasília. Por que não tem a embaixada saarauí? Um dirigente de esquerda não pode ser neutro. Você tem que estar sempre do lado da vítima da injustiça. Eu acho que um governo de esquerda no Brasil deveria adotar medidas similares. Não estaria fazendo nenhum ato vanguardista. Mas seria muito importante. Porque quanto mais pesar na balança internacional o reconhecimento a favor da República Saarauí, menos probabilidades haverá de estourar novamente uma guerra. Mas se o povo saarauí for condenado a não ter outra saída que não seja a guerra, vai correr sangue de novo.