quinta-feira, 29 de maio de 2008

A pegada em questão




Pegada de 10 milhões de anos

Há um mês, disseram que a Atlântida era aqui. Agora, encontraram, no altiplano, a pegada humana petrificada mais antiga do mundo (matéria abaixo). Acho que o lance não é mais vir pra Bolívia como jornalista, e sim como arqueólogo.

Já sei onde o quinto Indiana Jones será filmado.

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Presentan en Bolivia huella humana más antigua del mundo

La Paz, 29 may (ABI).- La huella humana petrificada más antigua del mundo será presentada oficialmente hoy en esta ciudad tras ser descubierta en octubre del año pasado en el altiplano del departamento boliviano de La Paz.
La exposición del hallazgo, que se presume tenga de 10 millones a 15 millones de años de antigüedad, se realizará este jueves en el Ministerio de Relaciones Exteriores y Cultos con la presencia de la agrupación internacional Comunidad de la Sabiduría Ancestral.
Según consigna un informe redactado por la Unidad Nacional de Arqueología (UNAR), citado por Prensa Latina, la pisada humana es una huella paleontológica muy antigua de la época terciaria, cuando se estaba formando la cordillera de los Andes y en especial las serranías cercanas al lago Titicaca.
Conocido como la pisada del Inca, el vestigio fue encontrado por Fanny Pimentel, quien después de tomar fotografías las presentó ante el equipo de técnico de la referida institución científica para que realizaran los correspondientes estudios.
Hasta el momento la huella más arcaica del planeta era patrimonio de Egipto, donde un grupo de arqueólogos hallaron una que podría tener alrededor de dos millones años, por lo cual la boliviana es calificada como una muestra especial.
El proceso investigativo arrojó que la pisada corresponde a un hombre adulto con una estructura ósea bien desarrollada, una estatura aproximada de 1,70 a 1,75 metros y un peso cercano a 70 kilogramos.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Aliás...

Por falar em sopa e almoço, estou devendo um post sobre as comidas bolivianas. A conferir, num futuro breve (assim espero).

Enquanto isso, provecho para mim.

Duas coisas que acostumei a fazer na Bolívia e das quais vou sentir falta quando voltar para o Brasil (não necessariamente nesta mesma ordem)

- Tomar um prato de sopa antes do almoço (a que tomei agora estava ótima).

- Mascar coca.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Um pouco de bom senso às vezes é bom


Juro que não é porque moro em La Paz. Desde maio do ano passado, quando a FIFA decidiu limitar os jogos na altitude, e quando eu ainda nem sabia que viria para cá, achei um absurdo.

Pois, agora, resolveu voltar atrás “provisoriamente”, à espera de estudos médicos. É o mínimo.

Durante esse ano todo, pelo menos os meses que estive aqui, essa história foi uma espécie de comoção nacional. Manchetes dos principais jornais, o Evo (na foto, de verde) entrando diretamente na campanha de repúdio etc.

Falavam indignados que a ação da FIFA ia contra a universalidade do futebol, e que era discriminatória contra os países andinos. E acho que eles estão certos. Duvido que se países como Brasil, Argentina, Itália etc jogassem na altitude, iam dizer alguma coisa.

Fora que, vamos falar a verdade. As pessoas pintam a altitude como um monstro muito maior do que ele é. Afeta? Claro que afeta. Mas não é tudo isso, ainda mais se estamos tratando de atletas profissionais.

O que todos esquecem é que, internamente, isso também é um “problema”. A Bolívia, por exemplo, não fica só nos Andes. Os times das planícies têm que subir mais de 3 mil metros pra jogar o campeonato boliviano, e várias vezes por ano. E ninguém reclama.

E o curioso é que, das dez confederações sul-americanas de futebol, apenas a CBF (pressionada pelo Flamengo) não apoiou a Bolívia, o Peru e o Equador contra a FIFA. E a seleção e os times brasileiros deveriam ser os menos temerosos a jogar na altura, pela diferença gigante da qualidade do futebol.

Na Libertadores deste ano, o Santos perdeu do San José, de Oruro, aqui na Bolívia, enquanto os dois outros times do grupo, um mexicano e um colombiano, ganharam até com facilidade. O Cruzeiro tomou um cacete do Real Potosí, enquanto o San Lorenzo, da Argentina, ganhou de virada, depois de sair perdendo de 2 a 0.

Ou seja, os times brasileiros perdem porque já vêm com o medo da altitude na cabeça, em vez de esquecer isso e jogar bola.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Saudade... palavra triste?

– Una palabra que yo nunca entendí en portugués es “saudade”. ¿Es como nostalgia?

– No. No hay una palabra en español que la traduzca exactamente. A ver… Es como decir que tu extrañas a una persona. Extrañar a una persona es sentir “saudade”.

– Huuum… Todavía no logro entender bien. Pero ¿“saudade” es algo bueno, no? ¿Es algo gozoso, verdad?

– Ni siempre. Depende. Puede ser algo bueno o malo.

– ¿Ah, sí?

– Ya. Por ejemplo, si tu no vas a ver una persona querida por mucho tiempo, o nunca más, la “saudade” no es buena. Duele.

– Ya.

– Ahora, si sabes que vas a ver pronto una persona que te gusta mucho, es una “saudade” buena. Te pones feliz. Te sientes bien por querer a alguien.

– Huuum… Aún no comprendo muy bien.

domingo, 18 de maio de 2008

El Gran Poder



Já comentei aqui anteriormente como é impressionante a religiosidade do boliviano e extremamente forte o sincretismo entre o catolicismo e as crenças andinas. Ontem pude ver outro exemplo disso: a festa do Gran Poder.

A história diz que, no começo do século 20, uma pintura com a imagem da santíssima trindade, com três rostos de Cristo, chegou ao bairro de Chijini, em La Paz. Era uma zona bastante popular, com grande presença de migrantes aymaras.

Aí, bastou alguns milagres atribuídos à pintura para seu culto ter início. Antes, ficava numa casa particular, mas no final dos anos 30, construiu-se uma capela para abrigá-la. No dia do Gran Poder, celebrava-se missa e saía-se em procissão.

A partir da década de 70, a procissão, já transformada em desfile, começou a se expandir pela cidade, tornando-o uma festa de toda La Paz, e não mais restrita a Chijini. E, antes discriminada socialmente, passou a animar a classe média.

Mas, uma festa que tinha tudo para ser bem católica (afinal, eram milagres realizados por uma pintura da santíssima trindade), acabou ganhando fortes elementos da cultura andina.

Ontem, parecia bastante um desfile de carnaval (especialmente, com o de Oruro). A diferença é que aqui não tem um sambódromo: a procissão é por um longo trajeto pelas ruas da cidade.

À semelhança de Oruro, o desfile é dividido em inúmeros grupos, ou fraternidades. Cada grupo escolhe uma dança (e música) andina para representar: morenada (na foto), kullawada, llamerada, diablada, caporal...

Muita gente chega para assistir. A festa, auto-proclamada de “a maior dos Andes” é super concorrida, e, como se espera num caso desses, conta com uma rede gigante de comércio em sua volta, principalmente de comidas.

Para mim, confesso que não é algo que empolga muito. Afinal, como disse, lembra os desfiles de carnaval brasileiros. Mas, sem dúvida, é muito interessante observar ritmos, figurinos e passos de uma cultura tão próxima e tão distinta da nossa.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

A direita atarantada

A direita boliviana sabe que a vitória no referendo de Santa Cruz não teve nada de retumbante e agora anda meio desesperada. Sem saber o que fazer, resolveu lançar mão do referendo revogatório.

Não sei parte da oposição acredita que o povo vai votar para que o Evo saia (embora possível, acho muito improvável). Mas o fato é que tal decisão causou briga. Os governadores do oriente meteram o pau na consulta aprovada pela oposição no Senado, dizendo que só vai favorecer o governo e atrapalhar as autonomias.

Afinal, o mais provável que aconteça é que Evo fique e alguns deles saiam. Embora possa servir para que a aprovação da nova Constituição seja mais uma vez postergada, acho que, no frigir dos ovos, foi uma jogada meio estúpida mesmo – a não ser que tenham uma cartada muito boa por trás disso tudo.

Apesar do referendo revogatório oferecer riscos ao Evo (como ele perder ou ganhar por pouco) e o fato dele se encontrar numa situação bem difícil, é muito bom ver a direita batendo cabeça de vez em quando. Embora nunca devemos subestimá-la.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fim-de-semana de cultura e paixão bolivianas

Seis contos nacionais adaptados para uma peça de teatro, em formato de esquetes. Em uma delas, um homem conta sua história de profissões inusitadas (em uma delas, ele ganhava para rir nos shows de comédia) e a relação com sua esposa.

A segunda é o caso de um jovem de uma comunidade rural da Bolívia que vai para o Exército, e "esquece" suas origens. Na próxima, uma mineradora explica a dura vida dela e a de seu marido, também minerador.

A quarta e a quinta esquetes são a la Nelson Rodrigues, lembrando bastante os episódios da "Vida como ela é". Uma é a de um pai confessando observar todos os dias a filha fazendo sexo com diferentes rapazes, e a outra é de um jovem contando os podres de seu pai no dia de sua morte.

Na última, a melhor, mais engraçada e mais triste delas, um homem fala sobre a angústia e o medo dele em falar em público, e como isso arruinou sua vida.

"Amores que matan", uma bela peça boliviana.

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Já domingão foi a vez de uma arte mais mundana, mas igualmente bela. Futebol, claro. Rumo ao Hernando Siles de novo, o estádio que a Fifa quer vetar, para assistir outro jogo do Bolívar, e, quem sabe, ver uma vitória.

Nas duas vezes anteriores, dois empates de 2 a 2, contra o The Strongest e o Real Potosí. Dessa vez, era de novo contra o arqui-rival The Strongest, pelo returno do campeonato boliviano. E, de novo, as duas torcidas chegando juntas ao estádio e sentando juntas lá dentro.

Agora, já sem medo do clássico, eu tava com meus apetrechos bolivaristas: um boné e um cachecol. Foi um jogo sensacional. Ouso dizer que o mais emocionante que eu vi (no estádio ou pela TV) em muito tempo.

Mas as coisas começaram bem mal... com um gol do The Strongest logo a dois ou três minutos de jogo. Depois disso, foi um festival de gols inacreditavelmente perdidos dos dois lados, até que, no começo do segundo tempo, 2 a 0. Bem, paciência, pensei, fica pra outro dia.

Já torço pro Bolívar a ponto de me incomodar com os sarros da torcida adversária. E óbvio que era isso que estava acontecendo no estádio. Como se não bastasse, começou a cair uma chuva fina, mas bem fria.

Eis que, aos 41 minutos, o Bolívar diminui numa cobrança de pênalti. A torcida se anima, o time também, e, aos 43, empata o jogo, num golaço. O estádio ficou uma loucura, mais ou menos como a comemoração de um título. Nem parecia que metade dele era ocupado por não-bolivaristas.

Fui pra casa outra vez sem vitória, mas mais do que satisfeito.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O jornalismo escroto, a luta de classes e o racismo

Impagável era ver a cara dos jornalistas de TV bolivianos quando, depois de perguntado o que eu tinha achado do referendo de Santa Cruz, eu respondia questionando o processo.

O sorriso virava carranca, surpresa. Insistiam perguntando se a vitória do “sim” não teria sido contundente e, diante da negativa, terminavam a entrevista, agradecendo com um sorriso forçado. Aconteceu umas três ou quatro vezes.

Não que eu seja um pop star do jornalismo. É que, não sei por que cargas d’água, os repórteres locais adoravam entrevistar os jornalistas estrangeiros que estavam na sala de imprensa do referendo. Todos os dias.

Centenas de jornalistas apareceram para cobrir a consulta. Mas, mesmo assim, com honrosas exceções, faltou jornalismo. Para ser justo, não acompanhei a cobertura internacional, apenas a boliviana e a brasileira. Mas sei de um argentino que a Sue, amiga brasileira, escutou comentar para um meio local. Ele dizia que o objetivo dos que propunham o referendo era o de desburocratizar o Estado. Ai, ai, ai, fala sério.

No caso da imprensa boliviana, deu vergonha de meus colegas. Os canais de TV todos saudavam, seja nos telejornais regulares, seja nos programas especiais, a “festa democrática” e o “momento histórico” (no bom sentido) em Santa Cruz. Quase todos os repórteres e âncoras tinham orgasmos múltiplos ao noticiarem algum aspecto do referendo.

Como sempre, desconsideravam que o governo boliviano, os movimentos sociais, a OEA, a União Européia, os países vizinhos etc não reconheciam a legitimidade da consulta. Ignoravam também as muitas críticas sobre o estatuto autonômico, que foi redigido por um grupinho da elite cruceña e contém pontos claramente racistas e separatistas.

Faltou jornalismo também, e muito, ao se comemorar efusivamente os resultados parciais da apuração. “O ‘sim’ ganhou com 85%!”, gritavam, a la Galvão Bueno. “Vitória arrasadora da autonomia!”. A informação era a de que praticamente todos da região aprovavam o estatuto.

Os “analistas” chamados para comentar os resultados babavam de alegria: “Agora seria interessante ver o que vai dizer o governo, diante de sua derrota retumbante”, disse um deles.

Mas, de acordo com os próprios dados oficiais, a abstenção tinha sido de 35%, o “não” tinha levado 15% dos votos, enquanto os votos brancos e nulos somavam algo em torno de 3%. Ou seja, mais da metade dos eleitores cruceños não tinha votado pelo “sim”.

Alguma análise sobre o que isso significa? Não, claro que não.

Quanto aos meios brasileiros, as matérias que vi foram algo um tanto burocráticas. Mas o que eu notei é que alguns repórteres (que estavam em Santa Cruz) relatavam que os enfrentamentos que aconteceram no dia da votação eram entre “autonomistas” e “simpatizantes de Evo Morales”.

Esse tipo de afirmação é uma redução muito grande da complexidade da questão. Em primeiro lugar, ao colocarem um dos lados como “autonomistas”, automaticamente transformam o outro em anti-autonomista. Mas os que tentavam impedir o referendo também eram autonomistas. O que se questionava era o conteúdo do estatuto e a forma como ele foi feito.

Em segundo lugar, nem todos são simpatizantes do Evo. Muitos estão descontentes com o governo. Ou seja, falar que são apoiadores do Evo é dizer que estavam tentando impedir o referendo apenas por solidariedade a ele. É reduzir a questão a uma briga político-eleitoral.

Mas, mais do que tudo, é negar a luta de classes. Não me venha dizer que isso já não existe mais, que é anacrônico, que é discurso dos esquerdistas dinossauros. Enquanto houver no mundo a exploração do homem pelo homem, a luta de classes seguirá existindo.

Negá-la é corroborar a tese do fim da história, é determinar o triunfo do capitalismo sobre qualquer outro modelo de sociedade alternativo, é defender a resignação dos explorados com sua condição.

Quem esteve em Santa Cruz nos últimos dias viu que a luta de classes estava muito latente. No ato de encerramento da campanha pelo “sim”, havia de tudo, é verdade, inclusive indígenas pobres. Mas se via muitas pessoas de classe média e alta, dondocas com o cabelo pintado de loiro, usando roupas caras. No centro da cidade, diversos carrões circulavam com a bandeira pró-autonomia.

Agora, no Plan 3000, a história era completamente diferente. É um dos bairros mais pobres de Santa Cruz. Lixo no chão, ruas de terra, casas e praças deterioradas. E isso a apenas 15 minutos da praça principal de Santa Cruz. Quase 100% de seus moradores são indígenas, migrantes ou filhos de migrantes do ocidente. São os chamados collas.

Ao chegarmos lá no dia da votação, deu para notar na hora o clima pesado. Eles estavam concentrados numa praça, queimando urnas e cédulas que pegavam nos colégios. Tinham montado uma caixa de som com um microfone, usados para os discursos de qualquer um que se habilitasse.

Foi descermos do táxi para sentirmos quase todos os olhos em cima de nós. Paus nas mãos, e olhares desconfiados em direção aos brancos relativamente bem vestidos. A raiva nos olhos e nos discursos era algo impressionante. Tinham um inimigo muito bem definido: a oligarquia de Santa Cruz.

Mas a imprensa era respeitada. Queriam mostrar a verdade deles para o mundo. Por algumas vezes, ficamos no meio do fogo cruzado de paus e pedras, mas o grupo que avançava passava reto por nós, seja o dos pró-referendo, seja o dos seus opositores.

De volta a La Paz, infelizmente lembro de Santa Cruz como uma cidade racista. Certamente não deve ser todo mundo. De repente nem é a maior parte. Mas ver as pichações nos muros choca. Era “collas filhos da puta”, “morram collas” ou “depois do 4 de maio, os collas vão embora”.

Nas mobilizações pró-estatuto, vira e mexe tocava uma música alegre que começava com um “Camba, que viva o camba!”. Pois é disso que os cruceños estão se chamando agora. Inventaram esse termo, o camba. Não existe. Não é uma etnia, não é um povo... Na verdade, era como, antigamente, os indígenas eram chamados pejorativamente na região.

De uns tempos pra cá, as elites se apropriaram do termo, como contraposição aos collas. E, certamente, começaram a usá-lo para unir toda uma população em torno de uma identidade comum. Criaram a “Nação Camba”, uma espécie de novo país que excluiria a Bolívia andina. Vi muita gente com uma camiseta que tinha o mapa da nova nação desenhado.

Por isso que o clima pró-estatuto em Santa Cruz parecia o do Brasil em Copa do Mundo, quando todos se deixam levar pelo ufanismo (lembrava o clima pró-capitalidade em Sucre). O discurso da elite cruceña faz muitos acreditarem que a pobreza é culpa do centralismo, que todos os problemas são culpa dos collas. Daí se explica a “cooptação” da classe baixa.

Pois é, o discurso... muitas vezes se dá pouca importância pra ele, mas a retórica é fundamental. No caso de Santa Cruz, além do apelo ao regionalismo e ao racismo, as autoridades lançam mão de um termo muito caro a nós latino-americanos, que temos na memória recente ditaduras sanguinárias: a democracia.

Mas qual democracia? Claro, aquela que garante a liberdade dos grandes grupos econômicos e oferece ao resto a “grande possibilidade” de votar a cada quatro anos. A mesma evocada pela mídia para condenar Cuba, Venezuela e... agora, a Bolívia.

ps: Aqui, parte da matéria que fiz pra versão impressa do Brasil de Fato.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Notícias cruceñas

Ainda em Santa Cruz. Ontem, no dia "D", passei quase todo o dia num dos bairros mais pobres da cidade. Aqui, a matéria que fiz. Depois, com mais tempo, escrevo minhas impressões pessoais.

Aqui, uma matéria anterior.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Santa Cruz é verde e branca

Bem, aqui estou em Santa Cruz de la Sierra. Cheguei ontem de manhã, depois de 17 horas de busão (e só duas paradas, fala sério).

Do que eu pude ver até agora, a cidade respira autonomia. As bandeiras verde e brancas, as cores daqui, estão em todo lugar, assim como faixas e cartazes pedindo (ou exigindo?) o voto no "sim" no domingo.

Ontem no início da noite, fui no ato de encerramento da campanha. Uma multidão... impressionante. É assustador ver como um tipo de discurso regional consegue arrebatar gente de todas as classes sociais em torno de uma "luta". Dá medo. (fora que, como posso me sentir à vontade no meio de um mar de pessoas vestidas de verde e branco? É a visão do inferno)

Nas suas falas, as autoridades vieram com todo aquele blábláblá de que a autonomia trará o desenvolvimento e o fim da pobreza para todo o país. E, como sempre, evocaram a "democracia" e a "liberdade". Realmente, tudo muito bonito e comovedor. E sincero, claro.

O dia do referendo se aproxima, e as expectativas crescem. Se eu acreditasse em deus, escreveria agora aquele clichê de que só ele sabe o que pode acontecer.

Mas como odeio clichês, apenas direi que o as tensões estão à flor da pele e que o que está para vir, apenas o futuro dirá, e que agora é esperar para ver.