segunda-feira, 29 de março de 2010

O governo Serra e os professores em greve

Do blog MiguelGrazziotinOnLine:

Serra usa polícia secreta infiltrada nos movimentos sociais: a ditadura vem aí. Para ler, clique aqui.

Abaixo, um artigo repassado pelo amigo e jornalista Alípio Freire:

Reportagens sobre o conflito da tarde de 26 de março dão mostras de como a imprensa é PSDBoza

Por Amir Machado

No geral, a imprensa de S. Paulo tem se mostrado partidária e preconceituosa em relação a greve dos professores. As reportagens sobre os conflitos da última sexta-feira são mais um exemplo dessa liberalidade que a própria mídia insiste em confundir com “liberdade de imprensa”.

Ainda ontem no início da noite, a Rede GROBO de televisão apresentou reportagem sobre o conflito ocorridos nas ruas do Morumbi entre policiais militares e professores manifestantes: na pressa de fazer a notícia a emissora criou um discurso contraditória e ambíguo. Vejamos:

1 - Com narração em OFF de Carlos Tramontina a reportagem mostrava imagens sem som, bem típica das coberturas da GROBO nos tempos da ditadura militar; também não apareceram entrevistas de qualquer um dos lados; a reportagem também dizia que um grupo não identificado de pessoas foi até as barreiras e começou o "tumulto". Vejo que aqui a GROBO faz novamente uso de aprendizados da época em que ela defendia o regime militar: na imagem há inclusive a bandeira de uma organização de esquerda com aqueles "não identificados". Duvido que a polícia, que tem usado câmeras e alta tecnologia desde o início da greve (e assim o faz em todas as manifestações de movimentos sociais), não tenha identificado as pessoas que subiram as ruas para encontrar as barreias policiais. Aqui o despiste da emissora é para que as próprias pessoas acreditem que a polícia não os identificou. Típico da ditadura militar...

2 - A narração diz que o conflito começou quando os professores acertaram uma pedra na cabeça de um policial. A cena da pedrada foi feita de um helicóptero, e nela dá para ver que os policiais estão em formação de tiro (!) e que há fumaça no local. Fumaça das bombas de gás que a polícia estava usando. É claro que naquela imagem o conflito já havia começado. E começou com a polícia jogando spray de pimenta nos professores e até nos jornalistas (como a própria reportagem da GROBO mostrou...) e depois avançando quando a ordem de “dispersar” chegou aos soldados. A GROBO sequer cita esta irresponsabilidade da polícia militar em uma manifestação que não tinha nada para gerar violência (ou o samba das entidades estudantis que lá apoiavam os professores irritou os milicas?);

3 - A GROBO também mostra um manifestante carregando um policial (!). E veja que ambíguo: o texto em OFF diz que era isso mesmo!! Quer dizer, se o "tumulto" foi causado pelos professores, porque apareceria algum desses "baderneiros" socorrendo um policial? A cena é, no mínimo, estranha. Na edição de 27 de março, a Folha de S. Paulo (que também apoiou a ditadura, inclusive cedendo carros da "Folha da Tarde" para a os torturadores irem disfarçados à caça dos inimigos do regime militar) mostra a mesma foto em "reportagem" sobre o conflito, mas - pasmem! - não cita que o policial foi socorrido por um professor... (embora dê para ver claramente as alças da mochila do professor que carrega o policial... e a foto tenha saído com essa explicação em outros meios de comunicação);

4 - A GROBO também cita uma lei de 1987 que proíbe manifestações em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Engraçado é saber que, nestes 16 anos lecionando na rede estadual, já havia feito duas manifestações no local. E todas em governos do PSDB(!). Agora, por que o governador Serra (que nem estava no local, segundo própria Folha de S. Paulo) se preocupa em APLICAR LEIS REPRESSIVAS? Por que não SE PREOCUPA TANTO QUANTO COM LEIS DEMOCRÁTICAS? Como caracterizar um governo que tem esse tipo de atitude? Há leis para forçar os militares a abrir os arquivos da ditadura, para aplicar os índices da inflação como reajuste a todos os salários dos trabalhadores, para obrigar empresas a usar filtros nas chaminés e nada disso é feito... Agora pense, por que a GROBO se preocupa em citar a lei que impede as manifestações no Palácio? Que os professores fiquem atentos, pois há lei semelhante em relação à Avenida Paulista e a próxima assembléia está marcada este local. SERÁ QUE O GOVERNADOR SERRA IRÁ MANDAR A TROPA DE CHOQUE PARA LÁ TAMBÉM PARA ASSEGURAR A “ORDEM” CONTRA PROFESSORES E PROFESSORAS? A greve de 2000 nos trás lembranças...

5 - Todos esses meios de comunicação insistem em algo que é velho e repetitivo nos discursos das elites deste país: "caos, tumulto, baderna" - são peças frequentes nos discursos que as podres elites tupiniquins usam ao longo da História do Brasil para caricaturizar os movimentos sociais ou qualquer outro ato de organização ou explosão popular, seja das camadas mais pobres, de trabalhadores etc. O que a Folha de S. Paulo, o site BOL notícias, o Estadão e outros fazem são tentativas claras de reproduzir uma criminalização dos movimentos sociais. Toda vez que há uma organização ou uma explosão de camadas mais baixas da população o blá, blá, blá das elites é o mesmo. Um estudo sério da História deste país mostra isso muuuitas vezes e, justamente ao conhecê-lo, sabemos que é preciso lutar contra ele.

Em outros meios de comunicação, como a Folha de S. Paulo salientam que a greve é "política" (querendo dizer político-eleitoreira). Na reportagem de 27 de março isso se deve principalmente pelo discurso da presidenta da APEOESP: "Quebrar a espinha dorsal"  desse governo. Para a Folha a frase é uma demonstração clara das intenções dos grevistas (?). No entanto, a Folha não cita a frase dentro do contexto a qual ela foi produzida. Falava-se da política educacional PSDBoza que destruiu a educação do Estado e com apoio da mídia e do marketing difunde que as escolas são maravilhosas, todos estão contentes, não há problemas etc. Outro fator, a Folha não diz que os professores da rede pública estadual NÃO tem reajuste inflacionário (que é diferente de aumento) há 9 anos... Duvido que algum jornalista dos grandes meios de comunicação ponha seus filhos em uma escola pública com a atual POLÍTICA DE SUCATEAMENTO que este governo realiza. Também duvido que estes jornalistas tenham salários em defasagem de 34,3%... Aliás, creio que sabem de tudo isso, mas como vacas de presépio, NADA PODEM FALAR.

Para terminar uma observação:

Esta semana, o secretário da educação de S. Paulo, mostrou o que os PSDBozos pensam em relação a educação... Paulo Renato, como um típico coronel no interior disse: "meus professores não fazem greve". A expressão “meus professores” lembra os "meus homens" dos sinhozinhos deste país. Mas como a História é incrível, consegui entender Paulo Renato: assim como no atual projeto neoliberal do PSDB para a educação de S. Paulo não há prioridade na relação de aprendizagem, no coronelismo, especialmente o da República Velha, a Constituição de 1891 negava o direito ao voto àqueles que não eram alfabetizados e o próprio Estado negava (na mesma Constituição) ter responsabilidade em educar o povo. Por isso Paulo Renato usa frases no "melhor" estilo coronelístico... parece piada? Mas não é: os dois projetos são liberais. A diferença entre eles é que aquele é de uma época de exclusão das camadas populares e o de hoje, neoliberal, procura mascarar a realidade da exclusão-includente através da mídia... afinal, no início do século, as elites não tinham meios de comunicação de massa que falassem para todos.
Por isso, hoje o processo de luta é mais complexo e se dá inclusive e, ao mesmo tempo, numa luta contra o monopólio da interpretação dos fatos.
Em tempo, nas mesmas edições de 27 de março surgem o Data-Folha e o Ibope com pesquisas mostrando que Serra subiu em relação a candidata do PT, Dilma. Engraçado... até pouco tempo atrás era Dilma quem subia; mas – num passe de mágica, ou de lápis mesmo – Serra disparou... como se quisessem dizer: esse tipo de manifestação (greve) conflituosa (enfrentamento) não prejudica a candidatura de Serra... Parem com a greve!!
 É certo que esses e outros burocratas não vivem com o salário do povo, mas... e com seus votos?

Amir Machado - professor da rede pública de ensino estatal em greve desde 05 de março de 2010.

 

Gilberto Dimenstein e os tucanos e demos "generosos"

Deu no NaMaria News:

A Associação Cidade Escola Aprendiz, do Gilberto Dimenstein, recebeu da prefeitura e do governo de São Paulo, desde 2006, nada menos que R$ 3.725.222, 74.

Detalhes, aqui.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Rodolfo Walsh

A 33 anos da morte de Rodolfo Walsh (enviado pela amiga Silvia Adoue):
RODOLFO WALSH


                                A Vicky

Fugitivo en las islas del Tigre
y en un rancho de Merlo,
resiste al genocidio y el olvido
con sus falanges centinelas.
Huérfano de futura hija
revela el designio de una oculta masacre.
Entre la novela gótica y el íntimo ajedrez
traza la historia de unos fusilados
sobrevivos a una legión de verdugos.
Lejanos basurales apagan los gritos
y la tierra encarna la herida anónima:
José León Suárez, el tormento elegido.
Su lúcida obsesión reconstruye
los miembros del espanto y su agonía,
como un entomólogo de la memoria.
Sabrá, más tarde, descifrar en otra isla
una secreta cábala de satélites.
Escribe, se fatiga y se alucina
sobre la urgida máquina de combate
acompañado de un revolver que nunca usa
y un seudónimo que invoca a Francisco Freyre.
Mientras tanto, espera y resiste,
sentado en su pensante holocausto,
con la templanza de un poseso convertido,
con el desvelo de un misionero llagado,
en la inminencia de su propia ofrenda.
Y el tiempo supura vigilia.
Entonces, la sangre decide y suena.
Suena, suena, suena.

                                            Bosquín Ortega
                                           (de Siglos de Labios)
                                            Ediciones al Márgen-La Plata

sexta-feira, 5 de março de 2010

O terremoto no Chile e o cinismo capitalista

Saiu na publicação chilena The Clinic uma verdadeira pérola do presidente da Câmara da Construção do país. Para quem não sabe, há muitas críticas no país sobre os edifícios modernos que ruíram por causa do terremoto, apesar da restrita legislação existente sobre técnicas e materiais que devem ser utilizados nas construções justamente para que suportem um eventual terremoto.

Questionado sobre o fato, ele respondeu: "A Torre de Pisa também está inclinada". Leia abaixo a nota:

Lorenzo Constans, joyita del año: “La torre de Pisa también está inclinada”

Interpelado por el precario estado en que se encuentran algunos edificios nuevos tras el terremoto del sábado -incluido el edificio Alto Río de Concepción, que sencillamente se desplomó sobre un costado dejando una cantidad aún indetermidada de moradores muertos- y por la certeza de que muchas de las fallas se deben a la negligencia las empresas constructoras, el presidente de la Cámara de la Construcción Lorenzo Constans, ignorante quizás de que las palabras antes de pronunciarlas tienen que pasar por el cerebro, señaló que “hay edificios que están inclinados, el ejemplo más claro es la Torre Pisa, que se ha mantenido por siglos en pie y, por lo tanto, creo que es conveniente analizarlo con un profesional adecuado”. Con sus declaraciones, Constans se pasó por el aro novecientos años de ingeniería, el hecho de que el gobierno italiano tiene prohibido el ingreso a la torre desde 1990 y que el problema de la histórica construcción no está en el uso de defectuosos materiales sino en sus débiles cimientos y en la inestabilidad del suelo.
Para coronar sus dichos, Constans cerró filas a favor de su incompetente gremio al aegurar que “con esta magnitud de cataclismo, más que terremoto, consideramos que las estructuras se han comportado de manera razonable”.

A emergência do Brasil é a hegemonia do precário como vanguarda

Do site do Brasil de Fato:

Enquanto o objetivo da esquerda for o crescimento econômico, vamos desenvolver os elementos internos do capitalismo, dentro de uma lógica cada vez mais destrutiva

Venâncio de Oliveira

Os países hegemônicos estão avaliando Brasil, Rússia, China e Índia como países chaves para que a crise não afunde ainda mais suas economias. Os BRIC estão ganhando terreno até mesmo no processo decisório, na definição de políticas. O Brasil conseguiu dentro desta aliança um poder de veto sobre decisões dos Novos Acordos de Empréstimos do FMI, um montante de cerca de 550 bilhões de dólares i. Países europeus, como a França, têm estreitado laços com Brasil, as visitas de Sarkozy para definir acordos militares, suas afirmações de que era necessário uma reforma mundial e que o nosso país estaria em sua vanguarda, demonstram sua importância crescente para a redefinição dos padrões de acumulação mundial.

Por que o Brasil não afundou na crise? Os setores à direita do governo Lula comemoram com seus velhos inimigos, os da esquerda levantam a bandeira do crescimento como a vitória do Trabalho. O nosso maior inimigo, o Capital, passou a ser nosso fim último.

O pacote de políticas anticíclicas do governo Lula foi um dos fatores que seguraram o caos. Manteve-se os planos de infraestrutura, com alto retorno e baixo risco para investidores. Os bancos estatais interviram, houve uma expansão de crédito de 20% no acumulado de 12 meses, entre setembro de 2008 e de 2009, o estoque total de crédito chegou a 45% do PIB. A liquidez fornecida pelo Estado diminuiu a pressão sobre a oferta privada de crédito, freando seu preço, que, combinada com o corte do IPI, segurou o consumo dos bens duráveis. O Bolsa Família segurou o consumo de bens não duráveis.

O segundo fator anti-cíclico veio de fora, consequência das políticas chinesas, que alimentaram seu consumo interno. O freio do seu decrescimento econômico manteve a importação de produtos brasileiros, basicamente de commodities, ferro e soja. Os chineses já representam o principal parceiro comercial do Brasil, desbancando os Estados Unidos. As vendas para a China já são 40% maior do que para os Estados Unidos. A exportação total de soja brasileira cresceu 11,7% em grão e 3,3% em farelo (entre setembro de 2008 e de 2009), enquanto a exportação total caiu 25,9%.

Mas baseado sobre que estrutura? O progresso do capitalismo está cada vez mais desconectado com bem estar social. A crise não anunciou ainda outra qualidade de política, apareceu um hibridismo liberal com toques desenvolvimentistas. FHC fez escola com ajuda aos bancos, os países hegemônicos apoiaram suas finanças e esqueceram seus desempregados. O modelo de política do capital mundializado é o reforço da lucratividade financeira-industrial em detrimento do trabalho.

Temos uma especificidade tupiniquim, no modelo lulista de inserção da economia brasileira na divisão internacional do trabalho. Contrariando a tese do fim do Estado, o governo Lula conseguiu armar um pacto social e político, interno e externo, que lhe deu espaço de formular e intervir. A arte da política é conseguir mudar a realidade, dentro de determinantes incontroláveis. O governo petista teve capacidade de intervir e redefinir estruturas, bem como os tucanos, tanto uns quanto outros, fizeram acontecer, com finalidades semelhantes, mas perfis distintos.

O Governo FHC no afã de desenvolver o capitalismo brasileiro, na era das finanças, desnacionalizou, flexibilizou e privatizou. O Governo Lula, no mesmo objetivo, apoiou o capital nacional, com toda sorte de incentivos fiscais e financeiros, e está brigando com os Estados Unidos por um espaço para o agronegócio brasileiro no mercado mundial, pondo na agenda do dia a tecnologia socialmente suja do etanol.

A Era Lula manteve as bases essenciais da economia tucana, não reestatizou as privatizações e se aproveitou do mercado informal para chantegear a classe trabalhadora com assistencialismo. Em síntese, mantemos uma estrutura desigual de direitos, não existe acesso universal à educação, à terra, à moradia e direito à humanidade, somos reféns da policia, da violência, das chuvas, da corrupção e dos patrões e gerentes. A juventude sofre nos call centers, alta tecnologia e superexploração, esforçando-se para estudar em universidades privadas sem qualidade. Conseguiram dividir a classe e desmoralizar os lutadores, desenvolvendo a cooptação e atacando a dignidade do nosso povo, usando seu estômago.

Entramos no jogo do capital com vontade, um player que compete no mercado mundial e abraça Bush, sendo o “cara” do Obama. Mas o donos do poder no capitalismo não dormem tranquilos. Juntos, as finanças e a indústria aumentaram as contradições, uma taxa de lucro que foge à regra de criar excedente. Todo dinheiro novo deve criar mais ficção, assim a produção necessita pagar muito. Por outro lado, todo crescimento é raso. Os chineses aumentam produtividade e diminuem preços. Junta-se isso à diminuição das reservas energeticas, desarticulação de ofertas de alimentos e disputas por fronteiras agrícolas para fazer combustíveis. Uma ameaça constante de inflação de insumos e depressão de manufaturados.

As políticas de estímulos fiscais foram o principal eixo anti-cíclico. Mas são políticas estatais alicerçadas num capital privado viciado em especulação, e em políticas de consumo e de infraestrutura. A criação de novos processos produtivos não aumentou. A formação bruta de capital fixo (investimento) ficou estável no segundo trimestre de 2009, não cresceu, após uma queda de 12,3% no trimestre anteriorv. A fórmula dos emergentes ainda não conseguiu retormar um padrão que renove a acumulação capitalista.

A técnica de criar capital por dívida ainda permanece, mas fica a dúvida de quem paga este dinheiro novo. O número de brasileiros com dívida acima de R$ 5.000,00 mais que dobrou nos últimos cinco anos – são 23 milhões de pessoas endividadas. Aumentou a oferta de dinheiro para comprar casa e carro. São 430 milhões em crédito (mais de 5.000), 70% do estoque total de empréstimo, como se fosse R$ 20.000,00 por devedor.vi A questão fica: se não se cria valor para que se pague esta dívida, se os salários não chegam para este capital parasitário, que fazemos?

Estamos num contexto de crise estrutural do capital. Os padrões de acumulação a partir da crise 1970 foram mais parasitários e menos “progressistas”. Podemos visualizar um padrão de acumulação ainda mais bárbaro, tendo o regresso como vanguarda, trabalho escravo na cana de açúcar/etanol, economia do narcotráfico e desemprego permanente, 16 horas de trabalho em maquilas chinesas, ou seja, a hegemonia do precário como referência mundial. Será que não estamos perto de outro modo de produção, e poderíamos chamá-lo de barbárie? Enquanto o objetivo da esquerda for o crescimento econômico, vamos desenvolver os elementos internos do capitalismo, dentro de uma lógica cada vez mais destrutiva.

Venâncio de Oliveira é economista e trabalha com organizações populares na Guatemala.

O modo tucano de governar

Para ler o especial do Brasil de Fato sobre o caos no transporte público em São Paulo, clique aqui.

Falácias no argumento dos donos da mídia


O argumento de que a mídia deve ser regulada exclusivamente pelo gosto do consumidor pressupõe um mercado democratizado, onde estariam representadas a pluralidade e a diversidade da sociedade brasileira que, por óbvio, não existe.

Qual o papel que a televisão e o cinema desempenham na formação do “gosto” cultural do brasileiro(a)? Perguntado de outra forma: quais as chances que uma criança nascida no Brasil – independente de sua origem de classe – tem de desenvolver “gosto”, por exemplo, por desenhos animados brasileiros ou por cinema brasileiro?

Para facilitar a reflexão: pense a mesma questão substituindo “criança nascida no Brasil” por “criança nascida nos Estados Unidos” ou por “criança nascida na França” e desenhos animados ou cinema, respectivamente, de produção “americana” ou francesa.

Como se formam os gostos culturais?
Como se formam, se desenvolvem e se consolidam os hábitos culturais, incluindo aqui os hábitos de assistir determinados canais e/ou programas de TV ou de ler determinadas revistas e/ou jornais?

Este é um fascinante campo da complexa sociologia do gosto e, por óbvio, não se pretende aqui, responder categoricamente a qualquer dessas questões. Elas, no entanto, são pertinentes e atuais em relação à conhecida e repetida falácia no argumento sobre a ausência da necessidade de qualquer forma de regulação da mídia tendo em vista que essa regulação já é feita cotidianamente pelo leitor/espectador/ouvinte que lê/vê/escuta aquilo que quer, podendo, a qualquer momento, simplesmente não ler/ver/escutar aquilo que não quiser ou não gostar.

Em recente debate sobre “controle social” da mídia, Sidnei Basile, vice-presidente de relações institucionais da Editora Abril e vice-presidente do Comitê de Liberdade de Imprensa da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) para o Brasil, afirmou:

“Ela (a mídia) precisa ter um controle. É o controle que o ouvinte, o telespectador, o leitor, o internauta fazem toda hora, é o melhor controle que existe. Você compra sua revista na banca, não gostou, está ruim, está mal feito, não compra mais. Esse controle social é perfeito e não precisa de outro” [cf. http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL1511585-16020,00-FORUM+DISCUTE+DEMOCRACIA+E+LIBERDADE+DE+EXPRESSAO.html ].

Deslocar a questão da regulação da mídia apenas para o gosto, além de reduzir toda a problemática da comunicação de massa a uma única dimensão – do “consumo” individual no mercado – ignora toda a complexa questão da formação social do gosto e do enorme papel que a própria mídia nela desempenha.

Além disso, o argumento pressupõe um mercado de mídia democratizado, onde estariam representadas a pluralidade e a diversidade da sociedade brasileira que, por óbvio, não existe. Ignora ainda o fato elementar de que não se pode gostar ou não gostar daquilo que não se conhece ou cujas chances de se conhecer são extremamente reduzidas?

A historiadora Amara Rocha (UFRJ), mostra no seu “Nas ondas da modernização: o rádio e a televisão no Brasil de 1950 a 1970” (Aeroplano/FAPESP, 2007), como a adoção do “trusteeship model”, entre nós, respondia a pressões de um programa do governo Roosevelt (1882-1945) cujo objetivo era “estabelecer as bases para as relações econômicas e culturais com a América Latina, priorizando o papel que a proximidade com o american way of life poderia significar para as mudanças consideradas necessárias à sociedade e à cultura dessa região”.

Como ignorar que o Estado brasileiro, ainda na década de 30 do século passado, priorizou a exploração dos serviços públicos de radiodifusão por empresas privadas e, a partir daí, se instalou na sociedade brasileira um modelo de exploração da mídia que trouxe com ele uma determinada visão de mundo que inclui o gosto e os hábitos culturais?

E a noção de serviço público?
Por outro lado, é preciso insistir que, se é verdade que a mídia impressa é uma iniciativa privada que está excluída de qualquer forma de licença e/ou regulação, e pode, por opção, ignorar suas responsabilidades sociais, o mesmo não se aplica ao serviço público de radiodifusão. Concessionários de rádio e televisão são prestadores de um serviço público que se obrigam a um contrato, por tempo determinado e sob prioridades e condições definidas em Lei.

Nunca é demais lembrar a célebre frase do juiz Byron White em sentença da Suprema Corte dos Estados Unidos: “É o direito dos telespectadores e ouvintes, não o direito dos radiodifusores, que é soberano”.

O “controle” do cidadão
De qualquer maneira, o vice presidente da SIP, não deixa de ter sua dose de razão. A acentuada tendência de queda nas audiências e na leitura dos veículos da grande mídia tradicional, revelada nos últimos anos, não deixa dúvidas de “que o ouvinte, o telespectador, o leitor, o internauta” estão, de fato, exercendo o seu “controle”. A grande mídia vai aos poucos tendo que conviver com uma nova mídia, alternativa e interativa, e, em alguns casos, construída pelo sistema público.

Novos tempos. Nova mídia. Novos atores. Novos poderes. E muitos ainda acreditam nas falácias de seus próprios argumentos.

Venício Lima é Pesquisador Sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília - NEMP - UNB

quinta-feira, 4 de março de 2010

El terremoto estaba anunciado desde el 2002

Do El Clarín, do Chile:
 
Paul Walder
 
jueves, 4 de marzo de 2010 
 
Diversos estudios realizados por el doctor en sismología Jaime Campos concluían con claridad y precisión de un terremoto entre 8 y 8,5 grados Richter para las regiones de Bío Bío y Maule. El área entre Concepción y Constitución tiene una acumulación de energía suficiente “para producir un gran terremoto entre 8 y 8,5 grados”, concluía uno de los estudios, publicado el año pasado. ¿Cuándo? En un cercano futuro, señalaba el informe.
Tras la publicación de un estudio previo hacia finales del 2002, Campos, responsable del Servicio Sismológico de Chile y profesor del Departamento de Geofísica de la Facultad de Ciencias Físicas y Matemáticas de la Universidad de Chile, señaló en una entrevista aparecida el 20 de abril del 2003 en el diario El Sur que “la zona entre Constitución y Concepción es la que tiene un mayor peligro sísmico en el país”, a la vez que advertía que “como los beneficios de las políticas preventivas son perceptibles en el largo plazo aparecen como poco rentables”. Jaime Campos explicaba que “el último gran terremoto de subducción, es decir, que se produce por el contacto entre las placas de Nazca y Sudamericana, ocurrió en 1835. Esto significa que hace más de 170 años, no ha ocurrido un terremoto con epicentro costero asociado a la zona de contacto interplacas. En 1996, monitoreamos durante dos meses el tramo y nos encontramos que tiene mucha actividad sísmica que la gente no percibe, pero que sí detectaron los instrumentos. Tras realizar mediciones muy precisas con posicionamiento satelital, GPS, llegamos a la conclusión que esa región tiene una deformación en la corteza, una de las más importantes de Chile, lo que permite que se acumule energía”. Se había detectado una laguna sísmica en esa región, que es la ausencia de terremotos durante mucho tiempo en zonas donde se sabe que debieran ocurrir con cierta periodicidad. “Según el estudio, los rasgos de velocidad, de convergencia de placas entre Constitución y Concepción son iguales o muy similares a los que ocurren frente a Valparaíso, sin embargo no tienen la misma periodicidad, por lo que la probabilidad que ocurra un gran terremoto se acerca”. Por tanto, enfatizaba, “La amenaza en esa zona no se ha despejado. Todos los estudios que realizamos no contradicen nuestra hipótesis, al contrario, la avalan. tenemos bastantes elementos para decir que existe entre Constitución y Concepción la laguna sísmica más antigua detectada en Chile”. Ante la certeza del inminente terremoto, que el estudio dimensionada entre 8 y 8,5 grados Richter, Campos ya entonces reaccionaba sobre la nula reacción de las autoridades ante la advertencia científica. Y sugería, entre otras acciones, “hacer mapas de peligro sísmico, que son los instrumentos que cualquier país desarrollado tiene para hacer la gestión del territorio, para decidir en un plan regulador si se va a poner asentamientos humanos, represas, puentes, etc., en un lugar u otro. Los instrumentos de planificación deben reposar en información sísmica que todavía no se empieza a producir en Chile, porque no tenemos monitoreada las regiones. Desde el punto de vista reactivo, se requiere instrumentalizar sísmicamente el país, para que la autoridad pueda tener información en tiempo casi real de lo que está pasando, ya que si no tenemos monitoreo en el caso de producirse un terremoto a las 4 de la mañana de un domingo, la autoridad a la hora de ocurrido el temblor desconocerá el epicentro, lo que retardará la toma de medidas para ayudar a los afectados, es decir, se ha perdido la posibilidad reactiva que tiene la sociedad de accionar frente a un desastre”. “Chile es un país sísmico, quizás uno de los más sísmicos del planeta. Sin embargo, frente a ese problema real la respuesta de la sociedad es escasa. En las mallas curriculares de los colegios no hay nada o muy poco sobre riesgo natural (terremotos, maremotos, erupciones volcánicas, sequía, etc.), por lo que poco o nada puede opinar un ciudadano respecto a esos temas. Desde el punto de vista más técnico, tener un sistema de vigilancia sísmica requiere una inversión en el presente, cuyos beneficios preventivos están en un futuro lejano y como son poco tangibles, las políticas preventivas no son rentables”. 
LOS ESTUDIOS

PT 30 anos

Aos 30 anos, PT tem em Lula sua maior estrela

Quatro analistas que fizeram parte da história do partido discutem seus rumos e as consequências do lulismo para o país e a esquerda brasileira
 
1º/03/2010

Renato Godoy de Toledo
da Redação

O Partido dos Trabalhadores completa 30 anos em 2010 com mais de 1 milhão de filiados, cinco governadores e o presidente da República mais popular desde a redemocratização do país. Em sua história, o PT mudou de base eleitoral, passando a ser um partido com maior representatividade nas camadas mais pobres da população.

Essa mudança, no entanto, teve início durante o primeiro mandato de Lula e consolidou-se no segundo, na esteira das políticas sociais e da própria figura carismática do mandatário. Para analistas, o partido atingiu o objetivo de tornar-se popular mas, para tanto, teve que fazer concessões ao pragmatismo.

O PT comemorou o seu aniversário entre os dias 18 e 20 de fevereiro, no Congresso da legenda que definiu a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à presidência da República. A petista conta com a popularidade de seu maior cabo eleitoral para se eleger.

Antes de entrar no governo, Dilma tinha pouca expressão no PT – partido que acabara de se filiar em 2001, após romper com o PDT. Para alguns, sua candidatura representa um vazio de lideranças que acometeu a agremiação por conta da crise ética de 2005 e pela própria figura de Lula. Segundo tal análise, o lulismo estaria impedindo o PT de formar seus novos quadros.

Para debater os 30 anos do maior partido de esquerda da história do país, a reportagem do Brasil de Fato ouviu quatro personagens que tiveram participação nesses anos de história do partido. Confira as entrevistas a seguir:




terça-feira, 2 de março de 2010

Cuba, los medios occidentales y el suicidio de Orlando Zapata Tamayo

Publicado em Cuba em Debate

Salim Lamrani
2 Marzo 2010

El 23 de febrero de 2010 Orlando Zapata Tamayo, recluso cubano, falleció tras una huelga de hambre de 83 días. Tenía 42 años. Era la primera vez desde 1972, cuando murió Pedro Luis Boitel, que un recluso fallecía en semejantes condiciones. Los medios occidentales pusieron en primera plana este trágico suceso y subrayaron la triste suerte de las personas encarceladas en Cuba.1
La desaparición dramática de Zapata desató una conmoción justificada por todo el mundo. El caso del recluso cubano suscita innegablemente cierta simpatía y un sentimiento de solidaridad hacia una persona que expresó su desesperación y su malestar en prisión llevando su huelga de hambre hasta el final. La emoción sincera que suscitó este caso es del todo respetable. En cambio, la instrumentalización con fines políticos del fallecimiento de Tamayo y del dolor de su familia y sus amigos, hecha por los medios occidentales, viola los principios básicos de la deontología periodística.

Zapata, ¿preso político o recluso de derecho común?
Desde 2004 Amnistía Internacional (AI) lo considera como un “prisionero de conciencia”, entre los 55 que hay en Cuba, y señala que Zapata emprendió una huelga de hambre para denunciar sus condiciones de detención, pero también para exigir cosas imposibles de conseguir para un recluso, a saber, un televisor, una cocina personal y un teléfono celular para llamar a su familia.2 Aunque no era Lucifer en persona, Zapata no era un recluso modelo. En efecto, según las autoridades cubanas, fue culpable de varios actos de violencia en prisión, particularmente contra los guardias, hasta el punto de que su condena fue agravada hasta 25 años de prisión.3

Curiosamente AI no menciona en ningún momento las supuestas actividades políticas que llevaron a Zapata a prisión. La razón es relativamente sencilla: Zapata nunca realizó actividades antigubernamentales antes de su encarcelamiento. Al contrario, la organización reconoce que fue condenado en mayo de 2004 a tres años de prisión por “desacato, alteración del orden público y resistencia”.4 Esta sanción es relativamente leve comparada con la de los 75 opositores condenados en marzo de 2003 a penas que van hasta 28 años de prisión “por haber recibido fondos o materiales del gobierno estadounidense para realizar actividades que las autoridades consideran subversivas y perjudiciales para Cuba”, como reconoce AI, lo que constituye un grave delito en Cuba pero también en cualquier país del mundo. Aquí AI no puede escapar a una evidente contradicción: por un lado califica a estas personas de “prisioneros de conciencia”, y por el otro admite que cometieron un grave delito al aceptar “fondos o materiales del gobierno estadounidense”.
Al contrario que a éstos, el gobierno de La Habana jamás ha acusado a Zapata de ser estipendiado por une potencia extranjera y siempre lo ha considerado como un recluso de derecho común. Zapata disponía de graves antecedentes penales. En efecto, desde junio de 1990, fue arrestado y condenado varias veces por “alteración del Orden, Daños, Resistencia, dos cargos de Estafa, Exhibicionismo Público, Lesiones y Tenencia de Armas Blancas”. En el año 2000 fracturó el cráneo del ciudadano Leonardo Simón de un machetazo. Sus antecedentes penales no conllevan ningún delito de orden político. Fue sólo después de su encarcelamiento cuando su madre, Reyna Luisa Tamayo, se acercó a los grupos opositores al gobierno, pero jamás ha sido molestada por la justicia.6

¿Conmoción de doble rasero?
Estados Unidos y la Unión Europea declararon su consternación y exigieron la “liberación de los presos políticos”. “Estamos profundamente consternados por su muerte”, declaró la secretaria de Estado Hillary Clinton, quien denunció “la opresión de los presos políticos en Cuba”. Bruselas también se expresó en este sentido y exigió la “liberación incondicional de todos los prisioneros políticos”. Francia anunció que “seguía su situación de cerca, había pedido su liberación, así como la de otros detenidos cuyo estado de salud le parecía especialmente preocupante”, mediante el portavoz de la Cancillería, Bernard Valero.7
El presidente cubano Raúl Castro “lamentó” el fallecimiento y recordó, a guisa de respuesta a la conmoción interesada de Washington y de Bruselas, que “en medio siglo, aquí no hemos asesinado a nadie, aquí no se ha torturado a nadie, aquí no se ha producido ninguna ejecución extrajudicial. Bueno, aquí en Cuba si se ha torturado,  pero en la Base Naval de Guantánamo” en referencia al centro de tortura bajo administración estadounidense. “Ellos dicen que quieren discutir con nosotros y estamos dispuestos a discutir con el gobierno norteamericano todos los problemas que quieran; repetí tres veces, en el Parlamento, todos, todos, todos. Las discusiones no las aceptamos si no son en absoluta igualdad de ambas partes. Ellos pueden indagar o preguntar de todas las cuestiones de Cuba, pero nosotros tenemos derecho de preguntar de todos los problemas de los Estados Unidos”.8

El presidente brasileño Lula da Silva, en visita a Cuba, también declaró su condolencia, pero quiso subrayar la doble moral de los medios occidentales, de Washington y de Bruselas recordando una triste realidad. “Conozco prácticamente todas las huelgas de hambre que tuvieron lugar a lo largo de los últimos 25 años en el mundo y no fueron pocas en las que murieron personas que hicieron huelgas de hambre en varios países del mundo”.9 Los medios ignoraron la inmensa mayoría de esos casos trágicos y absolutamente ninguno tuvo un cobertura mediática tan importante como la reservada al recluso cubano.
A guisa de comparación, en Francia, entre el 1 de enero de 2010 y el 24 de febrero de 2010, hubo 22 suicidios en prisión, entre ellos el de un adolescente de 16 años. En 2009 hubo 122 suicidios en las cárceles francesas y 115 en 2008. El secretario de Estado de Justicia, Jean-Marie Bickel, declaró su impotencia al respecto: “Cuando alguien decide suicidarse y está determinado a hacerlo, que esté en libertad o en prisión, [...] ninguna medida es posible”. A su pesar, las familias de las víctimas no tuvieron derecho al mismo tratamiento mediático que Zapata, ni a una declaración oficial pública del gobierno francés.10
Hay que poner en perspectiva el caso de Zapata con otros dos hechos mucho más graves pero que los medios occidentales ignoraron deliberadamente y que ilustran claramente cómo un se instrumentaliza y se politiza un hecho común, que pasaría desapercibido en la mayoría de los países del mundo, cuando se trata de Cuba.
Desde el golpe de Estado en Honduras y la instauración de la dictadura militar el 27 de junio de 2009, liderada primero por Roberto Micheletti y luego por Porfirio Lobo desde el 28 de enero de 2010, han ocurrido más de un centenar de asesinatos, otros tantos casos de desapariciones e innumerables casos de tortura y de violencia. Los abusos son cotidianos pero los medios occidentales los censuran cuidadosamente. Así, Claudia Larissa Brizuela, miembro del Frente Nacional de Resistencia Popular (FNRP), opuesto al golpe de Estado, fue asesinada el 24 de febrero de 2010, un día después del fallecimiento de Zapata. No hubo ni un palabra al respecto en la prensa occidental.11
Otro caso similar ilustra también la duplicidad de los medios occidentales. En diciembre de 2009 en La Macarena, Colombia, se descubrió la mayor fosa común de la historia de América Latina, con no menos de 2.000 cadáveres. Según los testimonios recogidos por eurodiputados británicos presentes allí, se trataría de sindicalistas y líderes campesinos asesinados por los paramilitares y las fuerzas especiales del ejército colombiano. El jurista Jairo Ramírez, secretario del Comité Permanente para la Defensa de los Derechos Humanos en Colombia, describió la espantosa escena: “Lo que vimos fue escalofriante. Infinidad de cadáveres y en la superficie cientos de placas de madera de color blanco con la inscripción NN y con fechas desde 2005 hasta hoy. El comandante del Ejército nos dijo que eran guerrilleros caídos en combate, pero la gente de la región nos habla de multitud de líderes sociales, campesinos y defensores comunitarios que desaparecieron sin dejar rastro”. A pesar de los múltiples testimonios y la presencia de parlamentarios europeos, a pesar de la visita de una delegación parlamentaria española allí para investigar el caso, ningún medio occidental ha concedido el menor espacio a esta noticia.12
El suicidio de Orlando Zapata Tamayo es una tragedia y el dolor de su madre debe respetarse. Pero hay gente que no tiene escrúpulos. A los medios occidentales, Washington y la Unión Europea les importa poco la muerte de éste, como poco les importan los muertos hondureños y colombianos cotidianos. Zapata sólo les es útil en la guerra mediática que llevan contra el Gobierno de La Habana. Cuando la ideología pasa por encima de la objetividad informativa, la verdad y la ética son las primeras víctimas.

Notas
1 Juan O. Tamayo,  «Muere el preso político cubano Orlando Zapata», El Nuevo Herald, 24 de febrero de 2010.
2 Amnesty International, «Death of Cuban Prisonner of Conscience on Hunger Strike Must Herald Change», 24 de febrero de 2010. http://www.amnesty.org/en/news-and-updates/death-cuban-prisoner-conscience-hunger-strike-must-herald-change-2010-02-24 (sitio consultado el 28 de febrero de 2010).
3 Enrique Ubieta, «Orlando Zapata, ¿un muerto útil?», Cubadebate, 24 de febrero de 2010.
4 Amnesty International, «Death of Cuban Prisonner of Conscience on Hunger Strike Must Herald Change», op. cit.
5 Amnesty International, «Cuba. Cinq années de trop, le nouveau gouvernement doit libérer les dissidents emprisonnés», 18 de marzo de 2008. http://www.amnesty.org/fr/for-media/press-releases/cuba-cinq-ann%C3%A9es-de-trop-le-nouveau-gouvernement-doit-lib%C3%A9rer-les-dissid (sitio consultado el 23 de abril de 2008).
6 Andrea Rodriguez, «Prensa oficial reacciona a muerte de opositor», The Associated Press, 27 de febrero de 2010.
7 El Nuevo Herald, «Rechazo mundial al régimen castrista», 25 de febrero de 2010.
8 Raúl Castro Ruz, «Declaraciones del Presidente de los Consejos de Estado y de Ministros Raúl Castro Ruz sobre el fallecimiento del recluso Orlando Zapata Tamayo», 24 de febrero de 2010.
9 The Associated Press, « Washington Post cuestiona política de concesiones a Cuba », 26 de febrero de 2010.
10 Charlotte Menegaux, «Les limites du ‘kit anti-suicide’ en prison», Le Figaro, 25 de febrero de 2010.
11 Maurice Lemoine, «Selon que vous serez Cubain ou Colombien…», Le Monde Diplomatique, 26 de febrero de 2010.
12 Antonio Albiñana, «Aparece en Colombia una fosa común con 2.000 cadáveres», Público.es, 26 de enero de 2010.


Salim Lamrani es profesor encargado de cursos en la Universidad Paris-Sorbonne-Paris IV y en la Universidad Paris-Est Marne-la-Vallée y periodista francés, especialista de las relaciones entre Cuba y Estados Unidos. Acaba de publicar Cuba: Ce que les médias ne vous diront jamais (Paris: Editions Estrella, 2009). Disponible en librerías y en Amazon: http://www.amazon.fr/Cuba-Medias-Vous-Diront-Jamais/dp/2953128417/ref=pd_rhf_p_t_1 Para cualquier petición dedicada, contactar directamente: lamranisalim@yahoo.fr