terça-feira, 18 de março de 2008

Viagem pelos Andes

Foi cansativo demais, mas valeu muito a pena. Oito horas para ir, sete para voltar, tudo no mesmo dia. No último domingo, saímos a uma da manhã, rumo à Huanco Pallallani, uma minúscula comunidade rural encravada nos Andes, ao norte de La Paz.

Lá aconteceria a cerimônia de declaração de Aucapata, município que engloba Huanco, como território livre de analfabetismo. Na camionete do Programa Nacional de Alfabetização, eu, Gregorio, o motorista, Pablo, coordenador do programa e Vivian, assessora cubana.

O caminho era a maior parte de terra, muito esburacado e enlameado. A camionete, cheia de bandeirinhas do programa, não estava nada confortável. Mas foi só amanhecer que tudo mudou. A paisagem era incrível. Altíssimos precipícios, rios, lagos, montanhas nevadas... Pablo dizia que estávamos entre 4 mil e 5 mil metros de altitude.

De vez em quando, aparecia um conjunto de casas super rústicas. Às vezes, era só uma casa no meio do nada, com sua pequena plantação e meia dúzia de lhamas ou alpacas. Vira e mexe, víamos um camponês, ou camponesa, tocando uma manada (manada?) desses animais. (Aliás, nunca tinha visto tanta lhama e alpaca na minha vida)

Quando escrevo camponês, leia-se camponês indígena. A região é 100% originária. Pessoas de pele curtida pelo sol e pelo frio, vestindo roupas e chapéus coloridíssimos. Caminhando horas de um canto a outro, sempre carregando algo.

Chegamos em Huanco um pouco depois das 9 da manhã. As casas muito pobres, simples, feitas na maioria das vezes de parede de barro e telhado de palha. Na praça da comunidade, muita gente. Havia um mercado de rua em todo seu entorno. Como costuma ser os mercados bolivianos, esse também vendia de tudo. Sardinhas, carne de porco, batatas, bananas, roupas...

O “palco” onde seria realizada a cerimônia era igualmente simples. O ato em si, como a maioria dos atos, não foi lá grande coisa, tirando o fato de que era uma declaração de erradicação do analfabetismo, o que não é pouco emocionante.

Mas o melhor mesmo ficou para o final. Depois de içada a bandeira branca, que simboliza a erradicação, grupos indígenas de dança e música começaram a comemorar, um depois do outro. Todos puxavam os integrantes da mesa para dançarem juntos, incluindo Pablo e Vivian.

Eu só observava de longe, até que Oliverio, assessor cubano que havia vindo em outro carro, pediu para que uma das integrantes de um dos grupos me convidasse também. E lá fui eu, envergonhadíssimo, arriscar uns passos de uma dança típica da região, que lembrava muito uma quadrilha de festa junina.

Antes de tomarmos o rumo de volta, o prefeito de Aucapata nos convidou para um almoço em uma das casas da comunidade. Me assustei com o enorme prato que colocaram na minha frente. Um gigante pedaço de alpaca ao forno, alface, tomate, uma banana e dois ou três tipos de batata. Não havia talheres.

Na volta, mais chacoalhar da camionete, que agora tinha um integrante novo, o que não facilitou nada. Mas, outra vez, o cenário compensou. Inclusive, voltamos por um lado do Titicaca que eu ainda não conhecia, e que não tinha visto na ida porque era noite. Ele estava lindo demais, ajudado pelo não menos lindo pôr-do-sol. Um domingo para não esquecer

ps: a viagem pode ter sido muito exaustiva, mas ver um morador de Huanco, uma comunidade no meio dos Andes, longe de tudo, com a camisa do Corinthians, não tem preço.

Um comentário:

Daniel disse...

Você continua escrevendo bem, amigo! Só um reparo. Você deve ter confundido o velho símbolo do Despiertador, emblema tradicional da comunidade cidade, com o escudo do seu time.

Saudações! Boa viagem a BA.

Daniel