domingo, 2 de março de 2008

Dia de clássico




Nunca ninguém te pergunta por que você torce para este time ou aquele. Não faz sentido. Não tem explicação. É de nascimento, é por paixão, não por razão. Agora, quando você está morando longe de sua cidade ou país e escolhe uma equipe local para torcer, aí sim cabe uma satisfação.

Na Bolívia, sou Bolívar por quatro (bons) motivos:

1) Pelo nome. Os dois principais times de La Paz (e do país) chamam-se Bolívar e The Strongest. Óbvio que gostei bem mais do primeiro. Não só pelo fato do Bolívar chamar Bolívar, mas também pelo fato do The Strongest chamar The Strongest (fala sério).

2) A família que me hospedou nas minhas duas primeiras semanas em La Paz é bolivarista.

3) Ainda não sei se é verdade, mas me falaram que é o time de maior torcida. Sempre vou com os times da massa.

4) Quando mudei para o meu apartamento, dei de cara com um adesivo do Bolívar colado na geladeira. Se ligou no sinal divino?

Pois bem. Como quando cheguei por aqui, no fim do ano passado, o Bolívar já estava eliminado do campeonato boliviano (2007 definitivamente não foi um ano bom para meus times), tive que esperar até hoje para ir vê-lo no estádio. Mas foi uma estréia de categoria. Um Bolívar x The Strongest.

Comprei meu ingresso antecipadamente e sem saber em que torcida eu ia cair. Como o The Strongest era o mandante, o único ponto de venda era um escritório deles no centro. (Já me estava vendo como naquela anedota clássica do cara que está do lado errado e quando o time dele faz um gol, não agüenta, comemora e tem que sair correndo do estádio para não apanhar)

Na hora de ir para o jogo, desisti de levar o cachecol do Bolívar (nesta cidade fria, um importante acessório das torcidas de futebol) que eu tinha comprado uns dias antes. Afinal, num clássico é bom não dar bobeira.

Ledo e ivo engano. Chegando nas imediações do estádio (aquele onde a Fifa quer proibir jogos internacionais, por causa da altitude), vi as duas torcidas juntas, cada uma com suas camisas, bonés, cachecóis, na maior tranqüilidade. Tinha namorada bolivarista junto com namorado stronguista, pai e filha stronguista com a mãe bolivarista, etc.

Dentro do estádio, a surpresa foi maior. Não havia separação de torcidas. Na verdade, pelo jeito havia uma separação meio que estabelecida informalmente nas áreas atrás do gol (um lado para cada time, embora vi uns gatos pingados do Bolívar na torcida do The Strongest).

Mas, nas arquibancadas laterais, onde fica a maior parte do público, era todo mundo junto. E nenhuma tensão.

Antes do jogo começar, fui comprar meu almoço. Um sanduíche de pernil, que pelo jeito é tradição em todos os estádios do mundo (duvido que nos estádios da França as barraquinhas vendam vinho com foie gras). Uns pedaços de pernil, alface, tomate, ají e... a vendedora tira um pedaço da pele tostada do bicho e joga dentro do pão. Devo ter feito uma careta, mas vamos que vamos, tradição é tradição.

Encontro um lugar na arquibancada, sento no isopor comprado a 1 boliviano para não machucar a bunda (outra tradição do futebol boliviano), devoro meu sanduíche (a pele estava uma delícia) e o jogo começa.

Uma ótima partida, por sinal. Gols anulados, chances incríveis perdidas... o Bolívar chega a fazer 2 a 0, no segundo tempo fica com um homem a mais, mas mesmo assim toma o empate. Como dizem os bolivianos, que mier...coles!

Enfim, clássico é clássico. E vice-versa.

ps: nas fotos, os Bolívar (o time e o Simón)

Um comentário:

Daniel disse...

The Strongest, The Strongest!