terça-feira, 8 de abril de 2008

A vitória que virou empate (algumas horas depois do jogo terminar)

Pai e filho, domingão no Hernando Siles, o estádio a 3600 metros acima do nível do mar. Chegam uns 10 minutos atrasados, pois haviam decidido ir no jogo de última hora.

Bolívar, o time boliviano que o filho escolheu para torcer, contra o Real Potosí. Os dois mal na tabela. Primeiro tempo sofrível. Erros de passe bizonhos, bola na trave metida pelo adversário... nos últimos minutos, pênalti a favor do Bolívar. “Só assim mesmo”, comenta um torcedor indignado, sentado duas fileiras à frente.

Quase que previsível, a cobrança é perdida. O primeiro tempo acaba logo em seguida. A torcida revoltada xinga os jogadores na entrada do vestiário.

– O Bolívar não ganha faz tempo – explica o filho ao pai, que está de visita à cidade.

No segundo tempo, nada muda. A torcida vaia cada jogada errada. Até que, faltando alguns minutos, sai o gol do Bolívar. Comemoração, gritos de incentivo, mas, pouco tempo depois, o Real Potosí empata.

– Pô, ganhando o jogo e toma contra-ataque? – comenta o pai.

– Pois é, ridículo – concorda o filho.

O torcedor indignado, sentado duas fileiras à frente, levanta e vai embora.

Um tempo depois, no finzinho, outro improvável gol do Bolívar. De novo, comemoração e gritos de incentivo.

Mas o time do filho continua atacando e tomando contra-ataques.

– Que técnico burro, devia mandar o time segurar a bola! – espanta-se o pai.

– Claro! ­– exclama o filho. E, num estalo do cérebro, lança a dúvida: – Só se o Real Potosí fez um gol no comecinho e a gente não viu.

Pai e filho se olham. Com medo de apanhar, decidem não perguntar a ninguém, aos 49 minutos do segundo tempo, quanto está o jogo.

Chegam em casa com a interrogação na cabeça. “Nunca saí de um estádio de futebol sem saber exatamente quanto foi a partida”, pensa o filho, um tanto envergonhado.

Umas duas horas depois, ligam a TV. Começava, justamente, os melhores momentos.

– Ei, a gente não viu este gol! – grita o filho.

Pai e filho se olham novamente. Era o primeiro gol do Real Potosí, aos 2 minutos de jogo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ola filho,
de fato, foi muito engraçado, rio sempre que me lembro de nossa perplexidade ao ver "nosso" time atacar a esmo, dando campo ao adversário para os contra ataques. Cheguei a pensar, preconceituosamente "que ingênuos são os bolivianos"
Ainda bem que não perdemos, seria demais.