Há uns 15 dias, depois de desembarcar no aeroporto de El Alto, na Bolívia, um táxi do hotel onde eu ficaria já me esperava.
O motorista se chamava Beto, e fazia parte dos 70% da população indígena do país. Conversa vai, conversa vem, ele me pergunta do Lula, respondo. Então, pergunto do Evo. Ele responde algo assim:
- Não gosto muito do projeto dele de levar a Bolívia ao socialismo. Sou a favor da propriedade privada.
Mais ou menos duas semanas depois, no ano de 2009, século 21, na supostamente moderna metrópole de São Paulo, é divulgada uma bizarríssima demonstração de machismo e conservadorismo na Uniban. E de parte de universitários, que, supõe-se, deveriam estar entre os mais esclarecidos da sociedade.
O que os dois casos têm a ver? Tudo. Pelo menos pra mim. Mostram o quanto é (ou será) difícil mudar o mundo, transformar o sistema, lutar por uma nova sociedade. Não basta executar políticas que favoreçam a maioria da população, anteriormente marginalizada, como Evo vem tentando fazer. Não é suficiente tentar alterar a estrutura do Estado ocidental e de suas instituições viciadas, como, além de Evo, vem fazendo o Chávez.
É preciso mudar o ser humano. É preciso o "homem novo", como dizia o Che.
Ora, o capitalismo não é apenas um sistema político e econômico. É um sistema social. É, sobretudo, cultural. Ele não está apenas no Estado, nas políticas econômicas. Está na escola, na televisão, nos filmes de Hollywood. Está no mundo da moda, na comida. Está na imprensa. O sistema em que vivemos é o "normal", o "natural". O diferente é que é "antinatural".
É por isso que não causa espanto nem mesmo as inúmeras demonstrações de machismo, homofobia e racismo (este em menor proporção) na esquerda brasileira e mundial. Não duvido nada que muitos dos que se acham "a vanguarda revolucionária", se estivessem na Uniban no momento da confusão, não hesitariam em gritar:
- Maldita Geisy!
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
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