quarta-feira, 11 de junho de 2008

El Alto desceu

El Alto está descendo! As classes média e alta se apavoram. A imprensa aterroriza. El Alto está descendo! Não foi a primeira vez. Tampouco foi a última.

Acho que nunca tinha visto uma manifestação tão impressionante. 50, 60, 70, 80 mil pessoas? Não dá pra dizer, mas era muita gente. Descendo de El Alto, a 4.100 metros de altitude, para La Paz, a 3.600.

Pararam o trânsito, pararam a cidade. Desceram em fila, super organizados, divididos por distritos, por associações etc. Levando faixas, cartazes, bandeiras bolivianas e a whipala. A maioria vestindo ponchos, polleras, chapéus-coco. Aguayos nas costas, alguns com crianças dentro.

Até a Embaixada dos EUA, para protestar contra o asilo político dado ao ex-Ministro da Defesa, acusado de ser um dos responsáveis pela morte de mais de 60 pessoas na Guerra do Gás.

Acostumado a manifestações no Brasil, sempre me causa uma certa estranheza as mobilizações na Bolívia. Lá, sempre uma imensa maioria de estudantes de classe média. Aqui, a classe baixa. Indígena. Trabalhadora.

Mas, mesmo aqui, ainda não tinha visto nada dessa magnitude. Não parava de chegar gente. Queriam entrar na Embaixada. Expulsar o embaixador. Estavam emputados.

Não se brinca com El Alto. Morreram dezenas. Centenas ficaram feridos, mutilados. Mas quem ganhou a Guerra do Gás foram eles.

Mas a infâmia da repressão do Estado vai permanecer para sempre. Vai ficar na memória coletiva dos alteños permanentemente, mais ou menos como a perda do mar está na mente de todos os bolivianos.

El Alto não vai descansar enquanto os responsáveis pela morte de seus pais, filhos, maridos, esposas, irmãos e amigos não responderem pelo que fizeram.

Não se brinca com El Alto.


ps: fotos de Sue Iamamoto

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