segunda-feira, 23 de junho de 2008

Torcendo pelo colonizador


Por causa das minhas origens, é pra Espanha que torço nesta Eurocopa. Nem preciso falar que vibrei com a vitória sobre a Itália ontem. Tenho ascendência italiana também, gosto do país (embora sem conhecer ainda), mas odeio o futebol retranqueiro da azurra. Sempre tento gorar.

Pode ser besteira, mas confesso que me senti meio culpado pelo entusiasmo pela vitória espanhola, vivendo onde e vivo e vendo as coisas que vejo. Não sei, mas tenho a impressão que o estrago que a Espanha fez por aqui foi (e ainda é, através da elite descendente de espanhóis) bem maior do que o que Portugal fez no Brasil.

Pelo menos, a raiva pelos espanhóis incrustada no inconsciente coletivo dos bolivianos é mais forte. Talvez porque 70% deles sejam indígenas. Obviamente, os mais afetados pela colonização e, hoje, os mais excluídos e desrespeitados em suas crenças e tradições.

A Bolívia é o país mais pobre da América do Sul. E Potosí chegou a ser capital do mundo, quando a prata das suas montanhas bancava a opulência e o desenvolvimento europeus.

A Europa não seria o que é sem os recursos naturais do terceiro mundo. Agora, a União Européia vem com essa de pôr na cadeia os imigrantes ilegais, que basicamente querem fugir dos países que o primeiro mundo detonou.

Alguém pode dizer que a culpa não é só dos colonizadores, mas também dos próprios colonizados, que governam, há dois séculos, países independentes. Não levam em conta, porém, que as colonizações criaram uma estrutura de poder e uma elite político-econômica vigentes até hoje.

E quanto às leis anti-imigrações, cadê a tão aclamada globalização? Já sei, globalização é só pras empresas dos países ricos virem aqui no quintal deles brincar de tomar conta dos recursos naturais, da telefonia, da educação privada, da mão-de-obra barata etc.

Mas se os bichos do quintal quiserem entrar na casa deles, mata que dá doença!

ps: na foto, o Cerro Rico, em Potosí, de onde saía a prata para a Espanha.

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