A mulher boliviana talvez seja a melhor representação da pobreza e miséria que se vive no país. Certamente o que mais chama a atenção de quem vem para cá é a figura da chola. A indígena com longas tranças, a pollera (uma saia grande), o xale, o chapéu-coco e o aguayo, um pano colorido que elas levam nas costas, com todo tipo de coisa dentro. Não raro, bebês.
Pois é nos rostos delas que vemos o trabalho árduo de todos os dias, passando horas e mais horas tomando conta de uma barraquinha de rua, sob sol ou chuva. Sabe-se lá que horas acordam e quando podem dormir. Quanto tempo levam para chegar, quanto para voltar. Quantos quilômetros caminham diariamente... E são de todas as idades. Todas com peles machucadas pelo frio, pelo sol, pelo clima seco... Muitas, maltratadas pelos maridos.
Ontem fui ver um filme com a Sue, uma amiga brasileira que está fazendo um trabalho aqui na Bolívia, chamado Mamá no me lo dijo. É uma espécie de documentário, pontuado com algumas encenações. Fala do extremo machismo na sociedade boliviana e os maus-tratos cometidos contra as mulheres.
A diretora o divide em três partes: a índia, a puta e a monja. Na primeira, as cholas nas ruas são entrevistadas sobre o que pensam dos homens. As respostas não são nada elogiosas.
A segunda parte trata do preconceito contra as prostitutas, enquanto o que prostituem saem ilesos de críticas. Já a terceira fala do machismo dentro da Igreja católica, através de uma encenação, no centro de La Paz, de uma missa celebrada por uma mulher. O crucifixo traz de um lado, o Cristo homem. Do outro, um Cristo mulher, o que causa indignação em muitos dos transeuntes (inclusive mulheres).
Enfim, muito bom. O triste é entrar na sala de cinema e ver que, além de nós, só mais duas pessoas estavam lá para ver o filme.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
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Um comentário:
E diria que talvez o mais esquisito do Aguayo é quando elas tiram batatas fritas de dentro e começam a comem. Detalhe, não possui saco nem nada, é direto no tecido. Realmente a mior expressão da pobreza boliviana.
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