"Após anos de corrupção, assassinatos de reféns estadunidenses e traições na área da política externa, os EUA, com a ajuda de outras nações, secretamente junta um grupo dentre seus militares mais bem treinados para finalmente derrubar o ditador que causou devastação na América do Sul por mais de 20 anos".
Essa é parte da sinopse de "The Expendables", filme produzido e atuado por Sylvester Stallone previsto para ser lançado em agosto.
Em um dos trailers da película, que pode ser assistido aqui, nota-se que os soldados do tal ditador, assim como o próprio, usam boinas vermelhas. Além disso, em uma das cenas, o tirano diz algo como "Nós iremos matar essa doença americana!".
O pano de fundo do roteiro (país sul-americano governado por um ditador corrupto e cruel por mais de 20 anos), as boinas vermelhas e a retórica anti-estadunidense do vilão da história não deixam dúvidas em relação à total falta de sutileza de Hollywood: está claro que o objetivo, além de faturar milhões em bilheteria, é justificar (e naturalizar) uma eventual invasão dos EUA à Venezuela.
E, para "matar dois coelhos de uma cajadada só", como disse o amigo e jornalista Marcelo Netto Rodrigues, no minuto 2:33 do trailer (o mesmo Marcelo que se apercebeu disso), aparece, ao fundo, uma bandeira bastante parecida à da Bolívia.
É engraçado, mas sempre tive a impressão de que o poder "moldador de mentes" da indústria cinematográfica dos EUA sempre foi subestimado. Afinal, seria apenas entretenimento puro, inofensivo - na pior das hipóteses, "burrificante".
Mas há quem diga, e concordo plenamente, que Hollywood talvez seja o mais eficiente mecanismo de dominação estadunidense sobre os demais povos do mundo. É muito mais sutil e "indolor" que o domínio militar, político ou econômico.
Através de seus filmes (é claro que existem exceções), todo um modelo de vida baseado em valores como o capitalismo, consumismo e individualismo exarcebado e toda uma construção de uma imagem fortemente favorável aos EUA e ao que este país representa são introjetados no imaginário das pessoas que os assistem - desde crianças, é bom lembrar.
Pensando muito rapidamente, não é difícil lembrar de muitos exemplos. Como o do "Rambo", em que um heroi, sozinho (taí o individualismo, o "vencer por seus próprios esforços"), luta contra malvados (e comunistas) vietnamitas.
Ou a sequência "Indiana Jones", em que o protagonista estadunidense, civilizado, sempre que se aventura em países do Terceiro Mundo (que por si só é uma aventura e tanto, não?), topa com tribos selvagens, atrasadas, de canibais, vivendo em cavernas, florestas, templos escondidos...
O último filme da série, inclusive, tem como vilões os soviéticos, que querem, utilizando-se da tal caveira de cristal que dá nome à película, controlar a mente de toda a população mundial para impor seus próprios valores (comunistas, é claro).
Enquanto isso, os espectadores que se deixam envolver em mais esse perfeito delírio hollywoodiano não se são conta de que, na verdade, são os estadunidenses que, utilizando-se de sua caveira de cristal (o cinema), buscam controlar a mente de toda a população mundial para impor seus próprios valores (capitalistas, é claro).
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
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