A primeira coisa que chama a atenção ao se chegar em Potosí é o Cerro Rico. Um morro meio triangular, pontiagudo, seco, deteriorado. Logo vem na cabeça sua triste história.
Não é exagero afirmar que, se o Cerro Rico não tivesse existido, a Europa não seria o que é hoje. Foi de suas milhares de galerias que saiu grande parte da prata que financiou a opulência e o desenvolvimento do Velho Mundo. Claro, baseados em um perverso colonialismo e em milhões de indígenas mortos.
Apesar da grande vontade e curiosidade que eu tinha em visitar Potosí, ainda não o tinha feito (só tinha passado de ônibus, indo e voltando de Sucre). A “cidade mais alta do mundo”, a 4.100 metros acima do nível do mar, está a 9 horas de viagem de La Paz, o que, para os padrões bolivianos, é ali do lado.
Justamente por sua prata, Potosí chegou a ser, lá pelo século 17, a capital do mundo. Sua população era maior que a de qualquer cidade européia. Como qualquer lugar “abençoado” por tanta riqueza, a desigualdade era gritante. De um lado, uma elite espanhola e criolla mandando e se lambuzando na luxúria, de outro, milhões de escravos explorados até a morte.
Chegando à cidade, depois do impacto deixado pelo Cerro Rico, a herança colonial nas casas do centro e as igrejas locais são a segunda coisa que impressiona. Dá uma certa raiva pensar na colonização e nos seus cruéis efeitos sobre a cultura nativa – Potosí talvez seja o maior símbolo disso. Mas, ao mesmo tempo, é difícil não admirar a beleza da arquitetura colonial.
As igrejas são um caso à parte. Primeiro, pela quantidade (lembra Ouro Preto). Depois, pelo fato da maior parte delas ter suas entradas voltadas para o Cerro Rico, no sul, e não para o oeste, como dizem que se faz normalmente. Terceiro, pela sua arquitetura “mestiço-barroca”. São realmente impressionantes.
Outro lugar impressionante é a Casa da Moeda (foto abaixo), do lado da praça principal. É uma construção enorme e imponente, que ocupa um quarteirão inteiro. E é, talvez, o melhor museu boliviano. Nela que a Coroa espanhola produziu, durante uns dois séculos, boa parte das moedas de prata que utilizou para manter seu Império colonial.
Durante a visita, pode-se ver algumas delas, desde as mais rústicas, do século 18, até as mais “modernas”. Há, também, as diversas máquinas e ferramentas utilizadas ao longo dos anos. E muitas outras coisas mais, como pinturas religiosas e minérios tirados do Cerro Rico.
Mas o ponto alto da visita a Potosí é a “excursão” às minas locais. Hoje ainda se extraem alguns minérios do Cerro Rico, embora sejam residuais. Só dá para ir até suas galerias através de agências de turismo (pagando algo em torno de R$ 25). Eles fornecem a roupa e o capacete de “mineradores”.
Mas eles não avisam corretamente os turistas. Por exemplo, que quem sofrer um pouco que seja de claustrofobia, ou não estiver com um mínimo de forma física, não tem condições de fazer o passeio. Pois há momentos em que a única forma de se locomover nas galerias é engatinhando, se arrastando, ou até fazendo uma mini escalada. Junta-se a isso a grande quantidade de poeira que se é obrigado a inalar.
Mas eles não avisam corretamente os turistas. Por exemplo, que quem sofrer um pouco que seja de claustrofobia, ou não estiver com um mínimo de forma física, não tem condições de fazer o passeio. Pois há momentos em que a única forma de se locomover nas galerias é engatinhando, se arrastando, ou até fazendo uma mini escalada. Junta-se a isso a grande quantidade de poeira que se é obrigado a inalar.
A adrenalina e a sensação claustrofóbica são bem significativas. Claro que não é o tempo todo assim, mas tais momentos são realmente desafiadores. Mesmo assim, para mim, valeu bem a pena para conhecer as infernais condições de trabalho dos mineradores. E para imaginar que, se hoje é assim, na colônia deve ter sido muito, mas muito pior.
Vale também pela oportunidade de conversar com alguns dos trabalhadores e beber com eles. Se te oferecem um trago, recusar é uma grande ofensa. O problema é que o que eles tomam é, muitas vezes, quase álcool puro.
Bem, paciência. O jeito é aceitar o convite, jogar dois goles no chão (um para a Pachamama, a mãe-terra, outro para o Tío, ou seja, o diabo, protetor das minas), beber um pouco, tentar disfarçar a careta e torcer para que não ofereçam outra vez.
Bem, paciência. O jeito é aceitar o convite, jogar dois goles no chão (um para a Pachamama, a mãe-terra, outro para o Tío, ou seja, o diabo, protetor das minas), beber um pouco, tentar disfarçar a careta e torcer para que não ofereçam outra vez.
5 comentários:
olá Igor!! que bom encontrar o seu blog, há tempos procurava informações mais aprofundadas acerca dos acontecimentos na Bolívia. No Brasil as pessoas não fazem a menor idéia do que ocorre! Por curiosidade entrei no site da tal da nação camba, lá há um mapa que diz que 4 estados brasileiros são afins à essa tal nação. O q exatamente quer dizer isso?? Em uma revista dizia-se que há inteções de reivindicar tais territórios, é verdade??
ouvi dizer também que as coisas se acalmaram, que se está retomando o controle, é verdade??
Olá,
Nunca ouvi essa história de que quatro estados brasileiros sao afins à naçao Camba. Aliás, o q quer dizer "ser afins"?
As coisas se acalmaram sim, mas podem voltar a ficar tensas. Acho que depende muito de hoje, domingo. Governo e oposiçao estao em Cochabamba dialogando. Se nao chegam a um acordo, a coisa pode ficar feia.
Abraços
obrigada pelo comentário! o mapa que a direita mostra em seu site: http://www.nacioncamba.net/extras/mapa%20nacion%20camba.htm
consideram "regiones afines a nación camba" os estados de RO, MT, MS e AC, além de Paraguai, Tarija, Cochabamba e Chuquisaca.
Também não sei o que significa afim, entrei em contato com um pessoal desses estados e ninguém sabe de nada e muito menos apóia o movimento.
Entao, acho que os caras tao viajando e querem mostrar que tem apoio... Cochabamba, por exemplo, nao os apoia mais, principalmente depois que o prefecto (governador) de direita de la foi revogado...
Fora que mesmo nos departamentos que formariam a Nacao Camba, tem um razoavel apoio ao Evo internamente, principalmente no campo...
Abracos
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