segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Três 11/09 e os EUA em todos eles (ou: a lição não aprendida)

Por que nos odeiam tanto?, perguntavam os estadunidenses “comuns” logo após os atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, há sete anos. Não podiam entender como havia pessoas no mundo capazes de fazer o que fizeram com eles.

Claro que qualquer cidadão minimamente sensato igualmente se chocou com as imagens da época. Afinal, três mil seres humanos foram assassinados.

Mas, ao mesmo tempo, esse qualquer cidadão minimamente sensato não pôde deixar de pensar que os EUA estavam colhendo o que plantaram. Anos e anos de intervenções, coações e total falta de respeito à soberania dos outros países do mundo deram no que deu.

Em 11 de setembro de 2001, poucos se lembraram de um outro 11 de setembro. O de 1973, quando o Pinochet derrubou Salvador Allende e instalou uma ditadura de 17 anos, que muitos qualificam como a mais cruel da América do Sul. Fala-se em 30 mil mortos na repressão que se seguiu.

Pois o 11 de setembro de 1973 foi co-planejado e fortemente apoiado justamente pelos EUA. Não é nenhuma teoria da conspiração. Documentos da CIA que vão sendo abertos pouco a pouco dão os detalhes da operação conjunta.

Exatos 35 anos depois, em 11 de setembro de 2008, dezenas de camponeses são massacrados em Pando, na Bolívia. Os números são incertos, pois ainda muitos estão desaparecidos.

Fortes evidências dão conta de que os assassinos foram armados e recebiam ordens do governador opositor, Leopoldo Fernández. Mesmo que tal versão seja desmentida, o fato é: funcionários de seu governo interceptaram, a balas, uma marcha de camponeses pró-Evo.

Mas o que tem os EUA a ver com isso?, alguém pode perguntar. Oras, de novo, não é nenhuma teoria da conspiração. Desde que Evo tomou posse, em 2006, a embaixada estadunidense, em parceria com a USAID, vem trabalhando para desestabilizar o governo e fortalecer a oposição que, hoje, é mais regional que partidária.

Poucos dias antes das ações da meia-lua se radicalizarem, o embaixador Philip Goldberg (muito bem expulso por Evo na semana passada) teve uma reunião secreta com o governador de Santa Cruz, descoberta por uma rede de TV local.

Mas esse fato mais recente apenas se soma a muitos acontecimentos anteriores, no mínimo, estranhos. Além de várias reuniões com a oposição e o financiamento de viagens dos governadores aos EUA, pode-se citar, por exemplo, o papel da USAID no país.

Sob o pretexto de financiar o desenvolvimento, a entidade fortalecia ONGs e instituições opositoras, além de tentar promover a divisão de movimentos sociais, como me contaram os cocaleros do Chapare.

Outro fato curiosíssimo é o local de trabalho anterior de Goldberg: o Kosovo, bem na época de sua separação da ex-Iugoslávia.

E o que os EUA mais querem para Bolívia, frente à defesa dos recursos naturais promovida por Evo, é sua divisão. Para isso, encontraram os aliados perfeitos: as oligarquias de Pando, Santa Cruz, Tarija e Beni, representadas por seus governadores e comitês cívicos.

Portanto, um dos principais forjadores da crise que hoje vive a Bolívia, e que resultou, entre outras coisas, no massacre de camponeses em Pando, é exatamente os EUA.

Mesmo assim, depois que os estadunidenses “comuns” virem, na CNN, imagens de protestos em frente a sua embaixada em La Paz , cenas de bandeiras dos EUA sendo queimadas e palavras de ordem contra seu país-natal, certamente se perguntarão, mais uma vez: por que nos odeiam tanto?

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