segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Atenham-se a seus devidos lugares!

Já faz algum tempo que jornais, revistas, TVs e sites da grande imprensa brasileira, em matérias, editoriais, artigos ou panfletos (no caso da Veja), “denunciam” o fato do MST já não lutar apenas por reforma agrária. O movimento teria se “desviado” de suas reivindicações originais para atacar o agronegócio, as transnacionais, o neoliberalismo, o capitalismo etc.

Diante disso, fica a importante pergunta: E daí??? Um movimento social não pode evoluir no seu projeto político? Ainda é crime (lembrando a Guerra Fria) ser anticapitalista?

A “denúncia” tem uma simples razão de ser: o rechaço da imprensa do Brasil é pelo fato do MST ousar sair do âmbito de atuação permitido pelo famoso “Estado Democrático de Direito” e passar a (deus me livre!) contestar o sagrado sistema democrático-capitalista-burguês.

A democracia representativa ocidental só permite as mobilizações por pautas específicas. E, claro, desde que não “perturbem a ordem”. Já viram algo mais ridículo do que aquela determinação, em São Paulo, de proibir manifestação na Avenida Paulista, e de só permitir protestos na praça Campos de Bagatele?

Ou seja, protesto tem que ser onde, quando e como o Estado bem desejar.

Mas o pior efeito da “denúncia” da imprensa contra o MST é a descontextualização da realidade política, social e econômica em que vivemos. É esconder que tudo está ligado. É ignorar (por ingenuidade ou má-fé) que, hoje, a reforma agrária e a justiça social no campo não são possíveis no neoliberalismo e nos marcos de um modelo econômico que privilegia as transnacionais e o latifúndio exportador.

O MST percebeu isso. Mas a imprensa não vê e não quer ver. Afinal, colocar tudo no mesmo contexto seria um fermento perigoso para uma cada vez maior contestação ao sistema.

Mas pensei nisso tudo porque acabei de ter uma experiência interessante com os cocaleros do Chapare.

Lá pro fim dos anos 80, começo dos 90, eles foram muito reprimidos pelos governos de turno por causa das plantações de coca. E foi quando ganharam força como movimento social. Os sindicatos lutavam por duas coisas: pela folha de coca, e pela terra.


Cocalero mexendo a coca para
ajudar na secagem

Mas, lá por 95, internamente e em articulações com movimentos de outras partes da Bolívia, passaram a incluir na pauta reivindicações nacionais, principalmente a nacionalização do gás. E, em conseqüência disso, resolveram criar um instrumento político para lutar por suas demandas, inclusive a nível institucional.

Daí surgiu o MAS, que não é um partido tradicional. Está mais pra sindicato e movimento social, apesar dos riscos e das pequenas mostras de burocratização desde que chegou no governo.

Mas o fato é: se os cocaleros tivessem permanecido com suas pautas específicas, locais, muito provavelmente a Bolívia hoje não estivesse vivendo o processo que está vivendo, de mudanças políticas e sociais, com todas suas limitações e contradições.

O governo Evo está longe de ser revolucionário, mas não podemos ter dúvidas de que traz avanços bem importantes. A gritaria da oligarquia não é a toa.

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