quarta-feira, 8 de outubro de 2008

É muita cara de pau

Hoje, recebi um release de uma tal de Human Rights Foundation, que diz estar “preocupada” com a situação de direitos humanos na Bolívia, principalmente no que diz respeito à violência política.

A conclusão é a seguinte: toda a culpa, todinha, é do Evo. Afinal, desde que ele tomou posse, vem incitando a violência, “fazendo propaganda da guerra, apologia ao ódio racial” e convocando a defesa, pelo povo, das transformações (se preciso, até a morte) etc etc.

É incrível a cara de pau.

Então, é assim: durante cinco séculos, uma elite vem saqueando o país e escravizando a maioria da população em seu benefício. Um indígena ganha a eleição para presidente, e, quando tenta fazer algumas mudanças para corrigir tamanha injustiça (nada super radical, socialista ou comunista não, são medidas básicas que qualquer país capitalista minimamente desenvolvido fez), esta mesma elite, que não quer perder seus privilégios, reage. Violentamente.

Aí, a culpa da violência política que existe no país é de quem? Claro, do presidente indígena. Se não tivesse mexido no vespeiro, se tivesse deixado as coisas tais como elas são, nenhuma morte teria ocorrido, oras. Esperemos que ele aprenda a lição...

Inacreditável.

Vale lembrar que em maio, a tal organização foi apresentada com toda pompa, em Santa Cruz de la Sierra (eu presenciei essa cena patética), como observadora internacional do referendo sobre o estatuto autonômico. Detalhe: foi a única de fora da Bolívia, já que ONU, OEA, União Européia etc tinham recusado a participar de tal farsa.

(Claro que o veredicto foi que se viveu uma “festa democrática” em 4 de maio)

Mas as “denúncias” da HRF não terminam aí. A organização menciona, também, as mortes derivadas da repressão estatal contra mobilizações contrárias ao governo. Ignoram (será?) que, por exemplo, no caso dos jovens mortos em Sucre, em novembro, a perícia concluiu que as balas que os mataram não saíram de armas da polícia ou do exército. Portanto, se mesmo assim ainda não dá para isentar o Estado (até a conclusão das investigações), tampouco é honesto condená-lo de antemão.

Mas como pedir honestidade a uma entidade que nem cora de vergonha ao afirmar que inclusive o massacre de camponeses em Pando é culpa do Evo? Claro, afinal, ele é o grande responsável pela criação de todo este clima de conflito, ao denunciar com todas as letras as verdadeiras intenções da oligarquia boliviana.

Talvez o presidente boliviano devesse ser mais como o Lula, o conciliador. Reforma agrária só nos números, crédito e mais crédito para o agronegócio, amplo favorecimento às transnacionais, juros estratosféricos para os banqueiros... mas tudo, claro, com sensibilidade social: taí o Bolsa Família, o aumento do salário-mínimo e o crescimento da classe média da FGV (queria ver se um pai ou mãe de família com mil reais de renda familiar mensal se consideram de classe média).

Será que o Evo não percebe como o Brasil vive na mais santa paz?

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