Serra usa polícia secreta infiltrada nos movimentos sociais: a ditadura vem aí. Para ler, clique aqui.
Abaixo, um artigo repassado pelo amigo e jornalista Alípio Freire:
Reportagens sobre o conflito da tarde de 26 de março dão mostras de como a imprensa é PSDBoza
Por Amir Machado
No geral, a imprensa de S. Paulo tem se mostrado partidária e preconceituosa em relação a greve dos professores. As reportagens sobre os conflitos da última sexta-feira são mais um exemplo dessa liberalidade que a própria mídia insiste em confundir com “liberdade de imprensa”.
Ainda ontem no início da noite, a Rede GROBO de televisão apresentou reportagem sobre o conflito ocorridos nas ruas do Morumbi entre policiais militares e professores manifestantes: na pressa de fazer a notícia a emissora criou um discurso contraditória e ambíguo. Vejamos:
1 - Com narração em OFF de Carlos Tramontina a reportagem mostrava imagens sem som, bem típica das coberturas da GROBO nos tempos da ditadura militar; também não apareceram entrevistas de qualquer um dos lados; a reportagem também dizia que um grupo não identificado de pessoas foi até as barreiras e começou o "tumulto". Vejo que aqui a GROBO faz novamente uso de aprendizados da época em que ela defendia o regime militar: na imagem há inclusive a bandeira de uma organização de esquerda com aqueles "não identificados". Duvido que a polícia, que tem usado câmeras e alta tecnologia desde o início da greve (e assim o faz em todas as manifestações de movimentos sociais), não tenha identificado as pessoas que subiram as ruas para encontrar as barreias policiais. Aqui o despiste da emissora é para que as próprias pessoas acreditem que a polícia não os identificou. Típico da ditadura militar...
2 - A narração diz que o conflito começou quando os professores acertaram uma pedra na cabeça de um policial. A cena da pedrada foi feita de um helicóptero, e nela dá para ver que os policiais estão em formação de tiro (!) e que há fumaça no local. Fumaça das bombas de gás que a polícia estava usando. É claro que naquela imagem o conflito já havia começado. E começou com a polícia jogando spray de pimenta nos professores e até nos jornalistas (como a própria reportagem da GROBO mostrou...) e depois avançando quando a ordem de “dispersar” chegou aos soldados. A GROBO sequer cita esta irresponsabilidade da polícia militar em uma manifestação que não tinha nada para gerar violência (ou o samba das entidades estudantis que lá apoiavam os professores irritou os milicas?);
3 - A GROBO também mostra um manifestante carregando um policial (!). E veja que ambíguo: o texto em OFF diz que era isso mesmo!! Quer dizer, se o "tumulto" foi causado pelos professores, porque apareceria algum desses "baderneiros" socorrendo um policial? A cena é, no mínimo, estranha. Na edição de 27 de março, a Folha de S. Paulo (que também apoiou a ditadura, inclusive cedendo carros da "Folha da Tarde" para a os torturadores irem disfarçados à caça dos inimigos do regime militar) mostra a mesma foto em "reportagem" sobre o conflito, mas - pasmem! - não cita que o policial foi socorrido por um professor... (embora dê para ver claramente as alças da mochila do professor que carrega o policial... e a foto tenha saído com essa explicação em outros meios de comunicação);
4 - A GROBO também cita uma lei de 1987 que proíbe manifestações em frente ao Palácio dos Bandeirantes. Engraçado é saber que, nestes 16 anos lecionando na rede estadual, já havia feito duas manifestações no local. E todas em governos do PSDB(!). Agora, por que o governador Serra (que nem estava no local, segundo própria Folha de S. Paulo) se preocupa em APLICAR LEIS REPRESSIVAS? Por que não SE PREOCUPA TANTO QUANTO COM LEIS DEMOCRÁTICAS? Como caracterizar um governo que tem esse tipo de atitude? Há leis para forçar os militares a abrir os arquivos da ditadura, para aplicar os índices da inflação como reajuste a todos os salários dos trabalhadores, para obrigar empresas a usar filtros nas chaminés e nada disso é feito... Agora pense, por que a GROBO se preocupa em citar a lei que impede as manifestações no Palácio? Que os professores fiquem atentos, pois há lei semelhante em relação à Avenida Paulista e a próxima assembléia está marcada este local. SERÁ QUE O GOVERNADOR SERRA IRÁ MANDAR A TROPA DE CHOQUE PARA LÁ TAMBÉM PARA ASSEGURAR A “ORDEM” CONTRA PROFESSORES E PROFESSORAS? A greve de 2000 nos trás lembranças...
5 - Todos esses meios de comunicação insistem em algo que é velho e repetitivo nos discursos das elites deste país: "caos, tumulto, baderna" - são peças frequentes nos discursos que as podres elites tupiniquins usam ao longo da História do Brasil para caricaturizar os movimentos sociais ou qualquer outro ato de organização ou explosão popular, seja das camadas mais pobres, de trabalhadores etc. O que a Folha de S. Paulo, o site BOL notícias, o Estadão e outros fazem são tentativas claras de reproduzir uma criminalização dos movimentos sociais. Toda vez que há uma organização ou uma explosão de camadas mais baixas da população o blá, blá, blá das elites é o mesmo. Um estudo sério da História deste país mostra isso muuuitas vezes e, justamente ao conhecê-lo, sabemos que é preciso lutar contra ele.
Em outros meios de comunicação, como a Folha de S. Paulo salientam que a greve é "política" (querendo dizer político-eleitoreira). Na reportagem de 27 de março isso se deve principalmente pelo discurso da presidenta da APEOESP: "Quebrar a espinha dorsal" desse governo. Para a Folha a frase é uma demonstração clara das intenções dos grevistas (?). No entanto, a Folha não cita a frase dentro do contexto a qual ela foi produzida. Falava-se da política educacional PSDBoza que destruiu a educação do Estado e com apoio da mídia e do marketing difunde que as escolas são maravilhosas, todos estão contentes, não há problemas etc. Outro fator, a Folha não diz que os professores da rede pública estadual NÃO tem reajuste inflacionário (que é diferente de aumento) há 9 anos... Duvido que algum jornalista dos grandes meios de comunicação ponha seus filhos em uma escola pública com a atual POLÍTICA DE SUCATEAMENTO que este governo realiza. Também duvido que estes jornalistas tenham salários em defasagem de 34,3%... Aliás, creio que sabem de tudo isso, mas como vacas de presépio, NADA PODEM FALAR.
Para terminar uma observação:
Esta semana, o secretário da educação de S. Paulo, mostrou o que os PSDBozos pensam em relação a educação... Paulo Renato, como um típico coronel no interior disse: "meus professores não fazem greve". A expressão “meus professores” lembra os "meus homens" dos sinhozinhos deste país. Mas como a História é incrível, consegui entender Paulo Renato: assim como no atual projeto neoliberal do PSDB para a educação de S. Paulo não há prioridade na relação de aprendizagem, no coronelismo, especialmente o da República Velha, a Constituição de 1891 negava o direito ao voto àqueles que não eram alfabetizados e o próprio Estado negava (na mesma Constituição) ter responsabilidade em educar o povo. Por isso Paulo Renato usa frases no "melhor" estilo coronelístico... parece piada? Mas não é: os dois projetos são liberais. A diferença entre eles é que aquele é de uma época de exclusão das camadas populares e o de hoje, neoliberal, procura mascarar a realidade da exclusão-includente através da mídia... afinal, no início do século, as elites não tinham meios de comunicação de massa que falassem para todos. Por isso, hoje o processo de luta é mais complexo e se dá inclusive e, ao mesmo tempo, numa luta contra o monopólio da interpretação dos fatos.
Em tempo, nas mesmas edições de 27 de março surgem o Data-Folha e o Ibope com pesquisas mostrando que Serra subiu em relação a candidata do PT, Dilma. Engraçado... até pouco tempo atrás era Dilma quem subia; mas – num passe de mágica, ou de lápis mesmo – Serra disparou... como se quisessem dizer: esse tipo de manifestação (greve) conflituosa (enfrentamento) não prejudica a candidatura de Serra... Parem com a greve!!
É certo que esses e outros burocratas não vivem com o salário do povo, mas... e com seus votos?
Amir Machado - professor da rede pública de ensino estatal em greve desde 05 de março de 2010.